sexta-feira, 7 de novembro de 2025

A CASA DO MEU AMOR

A CASA DO MEU AMOR


Bananeiras no quintal,

Jabuticabeira em flor…

No jardim, um roseiral:

A casa do meu amor.


Uma porta e uma janela

Sempre abertas, sem pudor.

Ecoa ais de minha bela

A casa de meu amor.


Duas águas e varanda,

D'onde mira o sol se pôr.

N'alta serra, feliz se anda

À casa do meu amor.


Uma vida retirada

Onde a tarde tem sabor

De quitandas com coalhada!…

Em casa do meu amor.


Na cozinha, seu café

Fumegante de vapor…

Se tudo ali mais doce é,

Na casa do meu amor.


Sua alcova, por dossel,

Cortinado furta-cor…

Uma estrada para o céu

A casa do meu amor.


A sonhar entre lençóis,

Se lembre do meu calor:

Um sorriso de mil sóis

Na casa do meu amor!


Passo em frente, para vê-la,

– Tantas vezes? Quantas for! –

Namoradeira… À janela

Da casa do meu amor.


Lá, não se nota estranheza...

Não se rima amor com dor.

Não se fala de tristeza,

Na casa do meu amor.


Mas, se eu lhe faltar em vir,

Venham a ela em meu favor

Tais versos, por lhe sorrir,

À casa do meu amor.


Betim - 20 10 2010


segunda-feira, 27 de outubro de 2025

CAIXA DE FÓSFOROS

CAIXA DE FÓSFOROS


Não raro, escrever poesia 

é como tentar manter acesso um fósforo 

na escuridão.


Betim - 27 10 2025

terça-feira, 21 de outubro de 2025

ILETRADO

ILETRADO


Minha pouca leitura e entendimento

Têm feito de mim um poeta menor.

Ignoro se o que escrevo tem valor,

Deixando-me levar pelo momento.


Não cuido se coerente o pensamento

Ou mesmo se a meus versos dou sabor.

Se haveis prazer ao lê-los, meu leitor,

É antes vosso belo e bom intento.


Não sou de disputar co’os mais doutos,

Sim de me isolar em valhacoutos,

Como quem foge aos erros que engendrou.


Portanto, não me leais por cultura —

Vós que me pretendeis Literatura:

Têm as letras os males do que sou.


Sabará - 18 10 2025


terça-feira, 14 de outubro de 2025

IN THE PINES

IN THE PINES


Se, n'uma manhã, por neblina espessa,

Me aparecesse o rosto iluminado

D'aquela que viveu em meu passado

E se foi para os longes, quase à pressa…


Ela — sem tronco ou membros, só cabeça —

A vagar no vazio ensimesmado

Para estar, mesmo ausente, do meu lado

E manter, em maldição, sua promessa:


Sob os pinheiros, onde nunca o sol

Aquece o vão sombrio da montanha

E a névoa estende nívea o seu lençol,


Ali, com obsessão, o olhar s'embranha

E se confessa culpa estremecida,

Uma outra vez, na lágrima incontida.


Moeda Velha - 04 10 2025

terça-feira, 7 de outubro de 2025

OROGRAFIAS AFECTIVAS

OROGRAFIAS AFECTIVAS


Aquelas três corcovas alinhadas,

A maneira de irmãos para uma foto,

Cerram a cordilheira no remoto

Sítio onde o Paraopeba abre moradas.


Seguindo, d’Oeste a Leste, amplas cumeadas

— D’onde rolara a moça em tempo ignoto…

Além, ao velho Curral, por fim anoto:

“Da metrópole mineira, altas miradas.”


Caminhos de minério, cavas, vidas…

As montanhas s'elevam enternecidas

De serem fundo ao nosso quotidiano.


Eu as saúdo aos brados, de regresso,

E à vastidão silente lhes confesso

Meus ais de caminhante suburbano.


Moeda Velha - 04 10 2025


segunda-feira, 6 de outubro de 2025

MORTIFICADO

MORTIFICADO


Há quem queira saber como me sinto,

Talvez para gozar de meus azares

E ver meu coração indo p’ros ares!

Ou mesmo minha mente em labirinto...


Eu tenho andado errático, não minto:

De partida p’ra todos os lugares.

Há só desilusão em meus olhares,

Embora alguns me tenham por distinto.


Não hei forças sequer para sorrir...

Por isto, franzo o cenho a discernir

Entre outra escuridão e um descaminho.


Sinto-me, pois, a arder em carne nua...

— Se a lua na sarjeta ainda é lua,

Em minhas mãos não sei se sangue ou vinho.


Belo Horizonte – 03 10 2025


quinta-feira, 25 de setembro de 2025

A CONSELHO MEU

A CONSELHO MEU


Conselho que te dou: Tem por mais certo

E sábio não querer quem não te quer!

Aquela que te vê como um qualquer

Nada terá senão o olhar deserto...


Procura o teu caminho, longe ou perto,

E encontra a solidão que te aprouver.

Errada te há-de ser toda a mulher,

Visto que o coração tens encoberto.


Dá tempo ao tempo. Não te desesperes.

Cuida apenas de ti e teus haveres,

Aceitando o Universo em movimento.


No mais, que seja bela a tua estrada!

Há mais paz n’uma longa caminhada

Do que nos amplos vãos do sentimento.


Belo Horizonte – 25 09 2025