quarta-feira, 27 de dezembro de 2023

TABULATURA

TABULATURA


Pondo os dedos conforme é indicado

Por pautas no papel emudecido,

Às cordas faz vibrar em sustenido

Um choro de violão bem temperado.


Com efeito, é silêncio musicado

A escrita da canção vencendo o Olvido:

O som fazer-se no olho, não no ouvido… 

Visto o gozo das notas resguardado.


Toda a tábua preenchida de sinais

Até guardar d’acordes doces ais

Vertidos em capricho pelo artista.


Há-de reproduzi-las com carinho

Aquele que encontrar em seu caminho

O encanto de fazer-se violonista.


Betim - 27 12 2023


sábado, 23 de dezembro de 2023

INCOMPREENSÃO

INCOMPREENSÃO


Talvez, se tu calçasses meus sapatos

E buscasses andar por onde andei,

Aprenderias quanto agora sei

Ou quanto me furtei a vãos recatos…


Não me venhas com fúteis aparatos,

Sempre a condescender igual grão rei.

Tamanha liberdade jamais dei

A ti ou qualquer um d’estes ingratos.


Ide, todos e tu, para bem longe!

Outro velhaco em hábito de monge

Não há-de m’ensinar a ser humano.


De resto, enmimesmado com meus erros,

Caminho junto ao abismo quase aos berros,

Clamando contra os céus de tão mundano.


Confins - 16 12 2023


sábado, 2 de dezembro de 2023

PAS D'AMOUR

 PAS D'AMOUR


Mantenho os olhos tristes, mas honestos;

Pois já não romantizo as minhas quedas.

As coisas como são são mais azedas,

Contudo têm seus males manifestos.


Vivi me contentando com os restos,

Enquanto se fartavam d'horas ledas.

O azar levou-me as últimas moedas…

Eu hoje economizo até meus gestos!


Talvez, de tanto dar, quedei vazio

Ou permutei em vão co’o Grão-Vadio

Auroras por misérias perfumadas.


Vou, sem nenhum amor, seguindo em frente

E trilho a noite escura, tão-somente

Atento às pedras soltas pela estrada.


Betim - 01 12 2023


sexta-feira, 1 de dezembro de 2023

INEXPUGNÁVEL CORAÇÃO

INEXPUGNÁVEL CORAÇÃO


Hei-de estabelecer-me fortaleza,

Onde possa abrigar os sentimentos.

Rechaçar os assédios mais violentos;

Cercos de solidão e de tristeza…


De todo indiferente à correnteza,

Um maciço de gnaisse sem intentos,

Que irrompa contra os céus e os quatro ventos,

Altaneiro em sua íngreme dureza!


Península, a torrente à minha volta 

Afaste tanto o mal quanto a revolta,

Que abundam entre mentes cobiçosas.


E na escarpa do cume inacessível

Eu possa enfim sentir algum alívio

Distante das planícies populosas.


Betim - 01 12 2023