sexta-feira, 27 de março de 2015

IRRITADIÇO



IRRITADIÇO
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IRRITADIÇO
Eu tenho estado a ponto de explodir,
Por há tempos andar exausto e insone.
Seguidamente, inquiro o telefone
Como buscando oráculo ao devir...
Paro e penso no quanto sei sentir:
Embora esse pesar não me abandone,
Percebo inútil que outro rei destrone
Tão-só para que o caos possa me vir.
Quando dei por mim, era madrugada.
Os meus olhos olhavam para o nada,
Enquanto a mente em vão não se refaz.
Pois sigo sem saber o que fazer,
Tudo desconhecendo ora, a não ser,
De que preciso d'um pouco de paz. 

Betim - 26 03 2015

quarta-feira, 25 de março de 2015

ESTE AMOR

ESTE AMOR
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ESTE AMOR


Por vezes amo qual eu não amasse;
Como se não sentisse isso que sinto.
E finjo não amar, ou melhor, minto
P'ra não verem amor em minha face.
Ainda que eu d'amor não me calasse,
Antes falasse, ao menos, mais sucinto!
Ao invés de feito cego em labirinto
Por qualquer vã saída eu palmilhasse...
Contudo, eu amo. Eu te amo sem razão,
Sem esperança e até sem ilusão
De que um dia esse amor faça sentido.
Sim, eu te amo... A despeito de que me ames.
E, ignorando dos sábios os ditames,
Mais saberes no amor tenho vivido.
Betim - 24 03 2015

sexta-feira, 20 de março de 2015

CIRCUNSTÂNCIAS

CIRCUNSTÂNCIAS
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CIRCUNSTÂNCIAS

Há mais amor que dor por essa vida,
Basta à gente saber olhar para ela.
Até uma hora triste assim, mais bela
Se tornará se for bem dividida.

Melhor uma alegria imerecida,
Que outra tristeza tão só quanto aquela...
Eu prefiro a manhã que se revela
A qualquer ilusão obscurecida.

Tudo muda conforme a luz lançada.
Se olharmos bem profundo para o nada,
Talvez vejamos quanto há para ver.

Por isso tenho andado junto ao abismo;
Certo que, escuridão ou cataclismo,
Estarei pronto para quanto houver.

Betim - 19 03 2015

sexta-feira, 13 de março de 2015

TRANSTORNADO

TRANSTORNADO
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TRANSTORNADO

Eu te amo, muito embora não devesse
Amar alguém que há tanto já não me ama.
Dia após dia, víamos qual chama
O amor se apagar sem que eu o soubesse.

Viver sem ti, nem vida me parece.
É só contar as horas para a cama...
Aonde o sono não vem, pois, o drama
Se me repete à boca em triste prece.

Tenho te amado andando por tormentas
Que, pesadas e grossas sobre a pele,
Caem enquanto a amargura vã me impele.

Enfim, a dor e a fúria, ultraviolentas,
No sonho de te amar -- essa ilusão! --
Tornam-se tudo que há no coração.

Betim - 12 03 2015


segunda-feira, 2 de março de 2015

ANTIGUIDADES


ANTIGUIDADES
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ANTIGUIDADES

Aqui e ali busco àquele que fui
Em deixas a este que hoje me tornei.
Não mais que escritos: Muito pouco, eu sei...
Embora possa ver quanto a obra intui.

De mim para mim, algo se institui
Como se patrimônio que me herdei
Pela magnificência d’algum rei
Cujo velho palácio, entanto, rui.

Relíquias ou memórias, guardo há anos
Para me cotejar os desenganos,
À medida que apenas envelheço.

Visto que -- nem mais hábil; nem mais sábio --
Pude me constatar lendo o alfarrábio
Em cujas letras vãs me reconheço.

Betim - 12 01 2008