sexta-feira, 16 de fevereiro de 2024

RIOS DE JANEIRO

RIOS DE JANEIRO 


Ruas se tornam rios n'estes dias,

Nos quais as águas descem em torrentes...

Vão juntando enxurradas as vertentes,

Abrindo voçorocas junto às guias.


Cascatas vêm jorrar das penedias

Ao despencar de alturas inclementes:

Albores, turbilhões intermitentes,

Surgem nos temporais das serras frias.


Durante os aguaceiros formidáveis, 

Nos altos uivam ventos indomáveis

A revirar coqueiros e telhados.


Por fim, desliza a terra saturada

Em quedas de barreiras sobre a estrada,

Enquanto os vales dormem alagados.


Betim - 15 01 2024

 

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2024

BONANÇA

BONANÇA


Mil sóis brilham depois da tempestade

Em largas poças d’água a encher a rua.

Espelha-se dourada a aurora nua

N’um quadro de ideal tranquilidade.


Como se virginal, toda a cidade

Por entre brumas brancas se insinua.

Amanhece em silêncio e continua

Tudo imerso em intensa claridade.


O aguaceiro que caiu a noite toda

‘Inda escorre nas pedras do caminho

Onde chapinha alegre um passarinho.


Nada aqui me aborrece ou me incomoda.

Outra manhã lavada e reluzente 

Fazendo a terra nova novamente 


Belo Horizonte - 19 01 2024


DO QUE NÃO SEI

DO QUE NÃO SEI


Pior que não saber: Não querer saber…

Antes passar por néscio que ignorante,

Pois tudo o que conheço, n’um rompante

Vou, por estupidez, desaprender.


Penso que não pensar seja perder

De saída a noção do relevante.

Se ignoro, julgo menos importante

Exacto quanto sei desconhecer.


Soubesse as coisas todas d'esse mundo,

Eu nada pensaria mais profundo,

Com receio de errar algo sabido.


Só sei que o que, afinal, tenho ignorado

Me dá a conhecer, mesmo que errado,

A verdade por trás do irreflectido.


Betim - 31 01 2024