segunda-feira, 27 de outubro de 2025

CAIXA DE FÓSFOROS

CAIXA DE FÓSFOROS


Às vezes, escrever poesia é tentar manter acesso um fósforo 

na escuridão.


Betim - 27 10 2025

terça-feira, 21 de outubro de 2025

ILETRADO

ILETRADO


Minha pouca leitura e entendimento

Têm feito de mim um poeta menor.

Ignoro se o que escrevo tem valor,

Deixando-me levar pelo momento.


Não cuido se coerente o pensamento

Ou mesmo se a meus versos dou sabor.

Se haveis prazer ao lê-los, meu leitor,

É antes vosso belo e bom intento.


Não sou de disputar co’os mais doutos,

Sim de me isolar em valhacoutos,

Como quem foge aos erros que engendrou.


Portanto, não me leais por cultura —

Vós que me conhecestes a escritura:

Têm as letras os males do que sou.


Sabará - 18 10 2025


terça-feira, 14 de outubro de 2025

IN THE PINES

IN THE PINES


Se, n'uma manhã, por neblina espessa,

Me aparecesse o rosto iluminado

D'aquela que viveu em meu passado

E se foi para os longes, quase à pressa…


Ela — sem tronco ou membros, só cabeça —

A vagar no vazio ensimesmado

Para estar, mesmo ausente, do meu lado

E manter, em maldição, sua promessa:


Sob os pinheiros, onde nunca o sol

Aquece o vão sombrio da montanha

E a névoa estende nívea o seu lençol,


Ali, com obsessão, o olhar s'embranha

E se confessa culpa estremecida,

Uma outra vez, na lágrima incontida.


Moeda Velha - 04 10 2025

terça-feira, 7 de outubro de 2025

OROGRAFIAS AFECTIVAS

OROGRAFIAS AFECTIVAS


Aquelas três corcovas alinhadas,

A maneira de irmãos para uma foto,

Cerram a cordilheira no remoto

Sítio onde o Paraopeba abre moradas.


Seguindo, d’Oeste a Leste, amplas cumeadas

— D’onde rolara a moça em tempo ignoto…

Além, ao velho Curral, por fim anoto:

“Da metrópole mineira, altas miradas.”


Caminhos de minério, cavas, vidas…

As montanhas s'elevam enternecidas

De serem fundo ao nosso quotidiano.


Eu as saúdo aos brados, de regresso,

E à vastidão silente lhes confesso

Meus ais de caminhante suburbano.


Moeda Velha - 04 10 2025


segunda-feira, 6 de outubro de 2025

MORTIFICADO

MORTIFICADO


Há quem queira saber como me sinto,

Talvez para gozar de meus azares

E ver meu coração indo p’ros ares!

Ou mesmo minha mente em labirinto...


Eu tenho andado errático, não minto:

De partida p’ra todos os lugares.

Há só desilusão em meus olhares,

Embora alguns me tenham por distinto.


Não hei forças sequer para sorrir...

Por isto, franzo o cenho a discernir

Entre outra escuridão e um descaminho.


Sinto-me, pois, a arder em carne nua...

— Se a lua na sarjeta ainda é lua,

Em minhas mãos não sei se sangue ou vinho.


Belo Horizonte – 03 10 2025