Espaço para exibição e armazenamento de poemas à medida que os vou escrevendo. Espero contar com o comentário de leitores atentos e gente com sensibilidade poética por acreditar que o poema acabado não precisa ser o fim de uma experiência, sim o início de um diálogo.
sexta-feira, 31 de maio de 2019
CANTILEVER
Embora seja mísula ou balanço
A viga que avançasse no vazio,
Uns têm por cantilever: Desafio
De dar às estruturas tal avanço.
O que deverasmente não alcanço
É ter que um anglicismo tão sombrio
Se imponha na linguagem que confio
Ser isenta de dúvida e de ranço...
Apresentam palavras ignoradas
E querem que entendamos as ciladas
Do que não é atalho, sim obstáculo.
Para enfim nos impôr a ferro e fogo
Coringas que atravessam nosso jogo
Como expressões estranhas ao vernáculo!
Betim - 29 05 2019
quarta-feira, 29 de maio de 2019
PALAFITAS
PALAFITAS
Sobre estacas submersas as moradas
Da vila sobre as águas a marear:
Casas de paus e tábuas d'um lugar
Que por ora rio; ora mar, banhadas.
Canoas ao invés de vãs calçadas
Onde todos andavam a remar
Por, da vazante à cheia, acompanhar
O vai-e-vem das águas enlameadas.
O mangue e a maresia omnipresentes
No cheiro nauseabundo das manhãs
Entranhando algas e almas d'estas gentes.
E ainda que insalubres e malsãs
N'elas vêm repousar, indiferentes,
Depois de derrotarem Leviatãs.
Ilhéus - 21 07 2011
sexta-feira, 3 de maio de 2019
CAIXA DE LUZ
Tanto através dos vidros se ilumina
O salão onde baila a fidalguia,
Que igual caixa de luz a fantasia
Faz verter cores vãs sobre a retina.
Ali nem Arlequim nem Colombina,
Entregues à total patifaria,
Tirariam Pierrot d'essa agonia
Que é amar a tirana que o fascina.
As sedas que farfalham nos tablados
Abrem alas aos pares mascarados,
Bailando pela caixa luminosa.
Porém, trocam-se os pares na berlinda.
Por deixar sua bela 'inda mais linda,
Sorri Pierrot ao orná-la d'uma rosa...
Belo Horizonte - 02 05 2019
quinta-feira, 2 de maio de 2019
VALENTADA- da zoeira ao bullying
Julga-se infeliz a piada,
Que após ter sido contada
Sem fazer rir, faz chorar.
Limita o humor a risada
N'um esgar esmagada
Por fora de hora ou lugar.
Assim, a troco de nada,
Dos outros dá gargalhada
Por mais dar o que falar.
E, em face da dor causada,
Indiferente lhe brada
O que não pensa calar.
Após, de cara lavada,
Expõe seu ódio à manada,
De iconoclasta sem par.
Mas passa por voz ousada
Para arrotar valentada,
Qual fosse a plateia d'um bar.
Mais intimida que enfada,
Buscando outra temporada
Para mais se manter no ar.
E fica a pessoa errada
Tão ridicularizada,
Que ri para não chorar.
Betim - 15 04 2019