segunda-feira, 30 de setembro de 2019

SEM COMPARAÇÃO

SEM COMPARAÇÃO

A minha dor é minha; a tua, tua.
Não cabe em minha dor a tua dor.
Não dá p'ra comparar em seu favor
Qual dor é a maior qual se insinua.

Tua verdade à minha não pontua,
Tanto quanto cada um tem seu valor.
Não vejo se maior ou se menor
O mal que t'entristece e o que me amua.

O que vejo é que há mal e apenas dói.
Não me digas com ar de santo ou herói 
Viveres coisa pior em tua vida.

Talvez até não tenha a tua grandeza,
Porém, isso não faz minha tristeza
Pequena demais para ser sentida.

Itabira - 28 09 2019

sexta-feira, 27 de setembro de 2019

PARTES POR MILHÃO

PARTES POR MILHÃO

Há uma ínfima parte dentro em mim
Que talvez de tão tóxica e inflamante,
Envenenasse até um elefante,
Já me precipitando o triste fim.

Eu disparo com tiros de festim
Toda uma artilharia fantasiante
Como se eu estivesse ainda diante
De mim contra mim mesmo sem clarim!

Bastava algumas gotas de veneno
E todo o meu espírito sereno
Explodiria feito dinamite...

Ou nitroglicerina, se melhor.
Resta-me controlar o meu pavor,
Enquanto a sanidade m'o permite.

Betim - 27 09 2019

quinta-feira, 26 de setembro de 2019

ATOL DAS SEREIAS

ATOL DAS SEREIAS

Ao longo de arrecifes os destroços
De veleiros antigos naufragados.
Nas ondas veem nadar desesperados
Mil nautas perecendo ainda moços!

Deixam ao seu redor montanhas d'ossos,
Enquanto mais e mais enfeitiçados
Vêm dar n'esses rochedos isolados
Co'as naus indo de encontro a vaus insossos…

Embora predadoras contumazes,
Não obtêm com violência suas ceias,
Seduzindo iludidos e incapazes.

Pobre de quem avista das sereias,
O famigerado atol onde rapazes
Terminam estirados nas areias…

Ubatuba - 24 07 2019

PROMONTÓRIO

PROMONTÓRIO

Este amor transatlântico de ilhéus,
Face a ondas contra rochas se quebrando,
Faz-me sentir de Vênus o olhar brando
Ao ver a Estrela d'Alva pelos céus...

Saudade é o teu rosto d'entre véus
Perdido na distância sem mais quando.
Sozinho, passo as horas remirando
O mar que nos separa feito réus.

Cuido que tu também n'alguma parte
Te sentes qual me sinto vendo o mar
Apenas pelo afã de recordar-te.

Como eu, no cabo extremo ora avançar
E onde menos o oceano nos aparte
Mais perto estar de ti n'esse lugar.

Ubatuba - 24 07 2019

quarta-feira, 25 de setembro de 2019

VIRA E MEXE

VIRA E MEXE

Noite sim; outra também,
Vou para cama sem sono...
A Morfeu eu me abandono,
Mas tarda e ele não vem.
Como se ausente patrono
A desdenhar-me a morada...
Vira e mexe me acontece
De apesar de toda prece
A alma varar madrugada
Enquanto o corpo padece.

D'olhos fechados na cama,
Olho p'ra dentro de mim
Na esperança que assim
Eu ponha fim ao meu drama.
Sem embargo, tenho enfim
O escuro d'onde absorto,
Sem espíritos ou deuses,
Quedo a lavrar enfiteuses
Como se estivesse morto
Antes mesmo dos adeuses...

Se nem as assombrações,
Os anjos nem os demônios
Vêm velar por meus neurônios
Em face de seus senões,
Tampouco doutores idôneos
Hão-de dar fé dos meus ais
Silentes na noite escura:
Nada ou ninguém me figura
Quando por horas demais
Descanso meu ser procura...

Viro-me de lado a lado;
Mexo-me sem quê p'ra quê.
A noite toda à mercê
De permanecer deitado
Ainda que sem porquê.
Vira e mexe viro e mexo
Sem que consiga dormir
N'um presente sem porvir.
Desperto assim, por desfecho,
M'esqueça até d'existir...

Betim - 25 09 2019

UMA CIGANA

UMA CIGANA

MOTE:
À mais bela mulher, de sol ornada;
Vinda do Egito, da Índia ou mais além!


GLOSA:
Vem, por assim dizer, apaixonante...
De vestido vermelho e de sandálias.
Nos longos cachos negros, duas dálias
À maneira das damas do Levante.
Dos verdes olhos chispam-me farfalhas,
Que me queimam a face enamorada
Enquanto seu sorriso me entretém.
Deusa, elevo meu cálice ao seu bem:
-- "À mais bela mulher, de sol ornada;
Vinda do Egito, da Índia ou mais além!".

Betim - 25 09 2019

terça-feira, 24 de setembro de 2019

COM DESDÉM

COM DESDÉM

Fazes pouco de mim que te desejo,
Como se eu desejar-te fosse tolo!
Decerto tens contigo um desconsolo,
Que redunda em desprezo malfazejo.

Quando respondes beijo com bocejo,
Mais afastas quem te ama, não sem dolo.
Vária, se meus lábios nos teus colo,
Muito pouco amorosos eu os vejo...

Tu me desdenhas, pois, tu te desdenhas.
Embora eu de teu peito houvesse as senhas,
Não crês que quem beijando após te amou.

Foi tudo um desperdício de alegria...
Enquanto meu amor tão-só crescia,
O teu, ainda pouco, se acabou.

Betim - 24 09 2019

ORLA NOCTURNA

ORLA NOCTURNA

Os autos se sucedem na neblina
Riscando a trajetória em curvas longas...
Nos prédios, janelas algo oblongas
Acendem em mosaico p'la colina.

Entre nuvens o luar se descortina
E às ruas vem mostrar sem mais delongas,
Mendigos, gringos, putas e ripongas
Do calçadão da praia até a esquina.

Da mesa do boteco eu só observo
A ferveção de gente que s'espraia
Ao longo da avenida à beira-mar.

E ainda que indivíduo tão protervo
Permaneço à cadeira, de atalaia,
Por onde o povo todo vai passar.

Peruíbe - 01 01 2019

segunda-feira, 23 de setembro de 2019

OI, AMIGO!

OI, AMIGO!

Adquiri, com o passar dos anos, o hábito de tratar os outros por amigo (a), mesmo que não o sejam (ainda). É uma forma positiva, penso eu, se iniciar uma relação antes mesmo de saber o nome da pessoa com quem falo. Muitos não gostam e me argumentam que mal nos conhecíamos. Eu, de meu lado, respondia sempre um velho arrazoado:

-- "Sempre que conhecemos uma pessoa há três possibilidades -- discorria  entre tolerante e persuasivo.  A primeira, a pessoa que acabei de conhecer gostar de mim e se tornar um amigo. Gosto de acreditar que se ambos se aproximam de coração aberto, fatalmente se tornaram amistosas...

A segunda, o outro vem e não gosta de mim, tornando-se inimiga. Isso é raro e, dentro dos limites da civilidade, tolerável. Nem eu gosto de mim o tempo todo, quanto mais quem pouco ou  nada sabe de mim?! Mais do que compreensivo não gostar de mim, mas, se a pessoa for mesmo nefasta, há-de se afastar ao ver que sou pobre e humilde demais para suas ruindades. O mundo é grande o bastante para nos evitarmos mutuamente.

A terceira, fica indiferente. Se não fede nem cheira, mantém-se como conhecido. Repare -se que este será sempre um estágio provisório de relacionamento humano. Todo conhecido é um amigo ou um inimigo em potencial. Se é raro ter inimigos, ainda mais raro é ter inimigos que já foram amigos... A amizade pode esfriar com o tempo; as pessoas se distanciam e se veem vi estranhos... Contudo, bastará a mesma boa vontade inicial e o distante volta a ser próximo tanto quanto o conhecido amigo do passado torna a ter valência para quando se necessita."

Quando termino a historinha, se outro permanecesse à escuta era sinal de que tendia a se identificar com a primeira probabilidade. Caso, contrário, eu nem me importava. Arrisco a dizer que as pessoas querem ser amigas de quaisquer pessoas que quiserem ser suas amigas. Dá muito mais trabalho cultivar inimizades que amizades, visto que, para mim, o ódio é quase uma desnatureza.

Para o optimista, o conhecido (e mesmo o inimigo...) são amigos em potencial. E, no que diz respeito aos homens (e mulheres, obviamente) eu escolhi ser um optimista.

É isso, amigo!

sábado, 21 de setembro de 2019

TERRACOTA

TERRACOTA

Tem cor de terra este chão
Gretado de sol a pino,
Que piso desde menino.
Moreno, igual minha mão;
Árido, igual meu destino.
Em volta, colonhão seco,
Amplos capões de capoeira
E terra desnuda estradeira.
Nas casas, barrado ao beco
Vermelho de fina poeira.

Cercas d'arame farpado
Mais tronqueira e mata-burros,
Longe, do vento os sussurros
Nas veredas do cerrado
Onde bacuraus casmurros...
Tudo coberto de pó
N'uma pátina terrosa
A envelhecer, pegajosa,
Feito uma praga de Jó
Minha gente desditosa.

Aliás, é de chão batido
A cor dos sertões além
Que, ferruginosos, tem
D'hematitas o curtido
Sanguíneo que também
É marrom-avermelhado...
Na poeira se me revele
O sentido que me impele:
Terracota o meu passado,
O meu chão e a minha pele.

Brumadinho - 25 06 2019

GIRASSÓIS

GIRASSÓIS

Tudo passa… Talvez eu não devesse
Arar de novo os campos devastados
E plantar, na esperança de passados
Os males que negaram outra messe.

Em todo caso, tudo me parece
Recomeçar nos grãos ora lançados
Até que girassóis algo inclinados
Venham dourar os campos feito prece.

Enquanto a primavera se aproxima,
Pétalas se amarelam para os olhos
E o poente refestela-se por cima.

É belo e essa beleza é que me anima
A lançar novos grãos entre restolhos
E achar para meus versos outra rima.

Betim — 21 09 2019

A PULSO

A PULSO

A veia que me salta sob a pele,
Ainda que saliente, mal se nota.
Em minutos ao corpo ávida esgota
Até que todo exangue se revele.

Essa dor desmedida que me impele
A verter minha vida, gota a gota,
Costuma acompanhar-me na derrota
Ou assim que o tédio me interpele.

Penso qu'eu devesse simplesmente
Morrer; deixar de ser; desaparecer,
No fio da navalha à minha frente.

A pulso -- como ovelha conduzido --
Todo o mal que há em mim deixo verter
No sangue para o Nada oferecido.

Betim - 21 09 2019

MELANCOLIA

MELANCOLIA

Uma tristeza quase que bonita
Há em teus olhos úmidos azuis,
Enquanto desolada tu me aguis
Incerta do que certo se acredita.

Como uma dama errática e esquisita,
Contemplas os juncais sobre os pauis
D’onde alçando voo uns tuiuiús
Àquela tarde fazem-me infinita.

Vejo que tu, porém, olhas sem ver…
Quando nem o esplendor da natureza
Consegue os teus olhares merecer.

Olhavas para dentro, com certeza,
Admirada do próprio entardecer,
Tão bela quanto alheia da beleza.

Betim - 24 08 2019

quinta-feira, 19 de setembro de 2019

DUAS MEDIDAS

DUAS MEDIDAS

Mal reparaste as flores dos ipês...
Às voltas com querelas literárias
Preferes arbitrar partes contrárias
Que indagar os teus próprios porquês.

Àqueles de quem buscas as mercês
Tu elogias, afoito, as nuanças várias,
Mas te calas de escolhas temerárias
Que, apesar dos pesares, também vês.

Quanto a mim, relegaste a listas negras
Esse grão de poesia que cultivo
A despeito d'haver ou não motivo.

Eu procuro por versos; tu, por regras.
Se com duas medidas sabes ler,
Por suposto desdenhas escrever!

Betim - 19 09 2019

PÚRPURA DESFOLHA

PÚRPURA DESFOLHA

De bordos vermelhos se recobre
Todo o chão da alameda onde o outono
Colore de tons púrpura o adro nobre,
Pondo em tela um jardim anos sem dono.
Já minh’alma captiva se descobre
Nas folhas em extático abandono.

Ao largo, um poente sobre as serras
Muda todo em lilases o ocidente
Enquanto, desvalido entre guerras,
Um rouxinol cantando-me eloquente
Pela beleza excelsa d’estas terras,
Eu m’entrego ao momento tão-somente.

Forte farfalha o vento pelas copas
Que em redemoinho agita-lhes as folhas.
Mas, aqui e acolá, rudes cachopas
D’onde saúva ávidas de escolhas.
Mas mesmo o formigueiro e suas tropas
Pouco pode co’as púrpuras desfolhas...

Mais longe segue em fuga na alameda
O olhar na claridade vesperal...
Eu paro enternecido face à queda
Da folha a desprender-se em espiral,
Pois, tapete vermelho m’envereda
Pelas mais ricas horas afinal.

Betim – 13 05 2019

EQUINÓCIO

EQUINÓCIO

Postos o dia e a noite em equilíbrio
Pelo sol a caminho n’estes céus.
Mais doura às penhas altas qual troféus
Sem que os olhos se cansem do ludíbrio...

Apenas aparente o movimento
Que ano após ano faz em derredor:
Assim que amanhecer até se pôr
O sol presidirá o firmamento.

Hoje, por sobre a linha equatorial
A duração do dia faz igual
Àquela que na noite se percebe.

Já é lá primavera; cá, outono.
Pleno, venha o luar velar-me o sono
Enquanto cato estrelas junto à sebe.

Belo Horizonte – 20 03 2019

OUTRO PEDANTE

OUTRO PEDANTE

Se pretende com versos demonstrar
A vasta erudição que adquiria,
Mais do que impressionar, nos entedia
Com as ideias fora de lugar.

Caga regras sem mesmo se importar
Se expressa antes tristeza que alegria,
Tampouco se tão longa fantasia
Nos traz algum frescor em seu poetar.

Um tagarela sem nada a dizer...
Sem embargo, ele quer nos convencer
Que precisa ser lido mesmo assim

Não é apenas ruim; é sempre pior!
De sorte que inexiste mal menor
Se a poesia for só meio, nunca fim.

Betim - 19 09 2019

ENCANECIDO

ENCANECIDO

Por sobre folhas mortas eu caminho
A passos lentos rumo aos lentos dias
Nos quais, despido já de fantasias,
Da hora de minha morte me avizinho
-     Co'as cãs na minha fronte em desalinho.

Não tendo mais dos meus algum carinho,
Tampouco dos demais mais alegrias
Eu habito entre estranhas companhias,
Muito embora prefira andar sozinho
-     Co'as cãs na minha fronte em desalinho.

Já no outono da vida eu me amesquinho,
Abandonando antigas ousadias:
Percebo-me incapaz de cortesias,
Enquanto piso as folhas do caminho
-     Co'as cãs na minha fronte em desalinho.

Se evito da cidade o burburinho
É para atravessar tardes vazias
Às voltas com as minhas teimosias
Até cair como as folhas, caduquinho,
-     Pois cãs na minha fronte em desalinho.

Nova Lima - 15 09 2019

quarta-feira, 18 de setembro de 2019

DO FACTO AO FACTOIDE

DO FACTO AO FACTOIDE

Quem não contente já de escrever mal, 
Xinga de analfabetos seus leitores...
Parece comprazer-se com horrores,
Ainda que fictícios no final.

Distorcer a verdade é natural
Para aqueles que apelam, por menores,
Aos instintos mais básicos ou humores
Sempre a publicizar algo irreal.

Por isso toda a escrita panfletária
Costuma a parecer muito ordinária
Quando não tendenciosa e de má-fé.

Melhor chamar as coisas pelo nome
Que ainda eufemizar a quem nos tome
Por tipos que sequer andam de pé.

Betim - 18 09 2019

  

PERISCÓPIO

PERISCÓPIO

Submerso n'um oceano de sargaços
E ilhas de lixo plástico boiando
Tento olhar para fora quando em quando
A ver na superfície amplos espaços.

Mais aproximo o foco: Nos mormaços
Das grandes tempestades se formando,
Voam as andorinhas sempre em bando,
Alheias de tormentas e cansaços...

Tudo em volta a existir indiferente
De quem, quase invisível a observar
Fosse afinal no mundo inexistente.

Assim, a grosso modo, soube olhar 
Como se um tripulante simplesmente
Içando o periscópio sobre o mar.

Peruíbe - 02 01 2019

terça-feira, 17 de setembro de 2019

NÃO SEI COMO

NÃO SEI COMO

Outro dia, eu passei pela travessa
Que dá no beco ao lado da quebrada
No alto da pedra já toda escorada
De barracos do morro da Cabeça.

Lá onde sobem-descem pela escada
Até tudo sumir na mata espessa
E reaparecer sem que me apareça
A razão d'essa minha caminhada.

Até porque nada há que se repare
Nos muros e paredes sem reboco.
Senão a luz d'um velho rastafári

Pitando em roda ao santo-do-pau-oco:
-- "Cuida p'ra não ser caça no safári
Nem bacurau em cima d'algum toco!"

 Betim - 17 09 2019

ALFANUMÉRICO

ALFANUMÉRICO

A escrita n'uma tábua de caracteres,
Criptografada em nuvens de binários,
Computa, indiferente, numerários
E versos de vastíssimos saberes.

Insere, em face d'homens e mulheres,
Dados de pergaminhos milenários.
Mas, sobretudo, textos literários
Vêm a lume em seus lépidos dizeres:

N'um imenso trabalho coletivo,
Codifica-se cada olhar furtivo
Das histórias d'amor e dor antanho.

E assim por insabidas linhas tortas
Revelam de remotas línguas mortas
Da humana mão o mais louvável ganho.

Betim - 17 09 2019

segunda-feira, 16 de setembro de 2019

LE STYLO A CHANGÉ DE STYLE

LE STYLO A CHANGÉ DE STYLE     

Eu, quando comecei, era à nanquim:
Com traço de arquiteto e ira de poeta
Eu vertia para a folha a linha repleta
D'aquilo que existia dentro em mim.

A pena deslizando o não e o sim...
A cada nova carga que completa,
Planos iam e vinham sem mais meta
Senão ir do princípio até o fim.

O projeto da casa feito à mão
E o manuscrito à margem rubricado
Como se ambos uma única expressão.

Não mais: Hoje tudo isto está mudado...
Se nem a folha aceita-me a ilusão,
A pena desde então deixei de lado.

Nova Lima – 19 09 2019

domingo, 15 de setembro de 2019

DESDE O COLÉGIO

DESDE O COLÉGIO

Vinha pela alameda das figueiras
Compenetrado e grave como um sábio.
Trazia junto ao peito outro alfarrábio
Com as letras douradas costumeiras...

Era moço então, eram as primeiras
Páginas que escrevera... Tinha ao lábio
Ranço d'algum Cícero ou d'um Fábio,
Por meus versos malhar com brincadeiras.

Só -- como convém a todo poeta --
Aos futuros doutores me furtava,
Evitando-lhes outra frase abjeta.

Nem sábio nem estúpido: Chegava
Ao pátio do colégio decidido
Viver qual desde então tenho vivido.

Belo Horizonte - 15 09 2019

sábado, 14 de setembro de 2019

O MISANTROPO

O MISANTROPO

Nunca esquece o ofendido àquela ofensa
Que fez lhe arder o peito, por maldade.
Tampouco o esbofetar da Autoridade
Em nome de justiça ou luz pretensa.

Não importando como ao fim se vença,
A história do vencido à obscuridade
É legada a despeito da verdade,
Depois de submetido à força intensa.

Embora vitimado, eu me recuso
A ser mais uma vítima do acaso
Ou escravo de domínio tão obtuso...

Pois, contra a tirania e contra o atraso,
Antes me libertar sendo recluso
Do que compactuar com seu descaso.

Betim - 14 09 2019

JOÃO NINGUÉM

JOÃO NINGUÉM

Tantas vezes citado entre os senhores,
Meu nome tem o mérito incomum
De chamar muitos sem ser de nenhum,
Como alcunha geral dos perdedores.

Lembrado quando esquecem meus lavores,
(Pois nem filho d'alguém nem pai d'algum)
Vós-outros pretendeis que sou mais um
Ou mesmo que não sou sem mais pudores...

Das alturas do espírito sereno,
Sabeis-vos grandes vendo-me pequeno
E obscuro a atravessar vossas jornadas.

Se incomodo com olhos de pedinte
Tendes minha presença por acinte
Ainda que, como eu, cheios de nadas!

Contagem - 13 09 2019

quarta-feira, 11 de setembro de 2019

RORÍFLUA FLOR

RORÍFLUA FLOR

Enquanto se orvalhando a alva corola,
Mais túrgidas as pregas reluzidas
Se exploram onde linfas incontidas
Revelam segredada castanhola…

Às galas que lhe vêm já não controla…
Úmidas, suas pétalas despidas
Cheiram, almiscaradas, a sabidas
Vertigens feminis p'la camisola…

Também na madrugada, em meio à selva,
Suaves suores gotejam sobre a relva
Como à vitória-régia sob a lua:

A flor que se abre toda para a noite
Não tema do sereno o rudo açoite,
Vestida de desejo, embora nua…

Betim - 11 09 2019

PASSIFLORA

PASSIFLORA

Eu, que te quero tanto, não desejo
Mais do que teu amor por poucas horas.
Espero que me deixes sem demoras,
Tão-logo o sol nos traga o seu lampejo.

Tal-qual um marimbondo em passifloras
Voeje eu por tua boca a cada beijo,
De sorte que admirado do que vejo,
Padeça a tua febre sem melhoras...

Se amanhã tu voltares ao meu leito,
Sê outra na mulher com que me deito;
Nunca a mesma que amara um dia antes.

Flor-de-maracujá... Quando te fores
Saiba eu te reencontrar em meio às flores
E sermos dois estranhos sendo amantes.

Betim - 10 09 2019

AMOR ESTÁ MORTO

AMOR ESTÁ MORTO

Extra! Extra!
Em primeira mão: AMOR ESTÁ MORTO.

Suas flechas foram encontradas
à beira do riacho em que se afogou.
O pequeno corpo alado, todavia,
permanece oculto em meio às algas.

Ninguém lhe soube o motivo, embora
não faltassem descontentes raivosos
suspirando por vingança.

Multidões seguem o cortejo,
carregando um caixão vazio
no anseio de lhe dar descanso.
Ele, filho de deuses,
sobreviveu a morte de todos...
Um por um, descendo
do Olimpo para o Olvido!

Chegou seu dia, afinal.
Não poderia o Amor habitar essa terra onde
todos se desdenham ou se desconfiam.

Nem mesmo o deus cristão
lhe trocando o heleno nome
-- de Eros para Ágape... --
evitou que o esquecessem.

Passados os milênios,
também o Verbo desceu ao Olvido.

Enquanto Eros-Ágape se equilibrava
na corda-bamba da modernidade,
iconoclastas ensandecidos o difamavam.

Triste e esquecido,
tal como antes o grande deus Pan,
também o pequeno Amor
foi ter às águas do Lete
e nunca mais foi visto em lugar nenhum.

Betim - 11 02 2019

NO EPICENTRO

NO EPICENTRO

Subitamente tudo se perdeu...
Quando me sobreveio o cataclismo
Moveram-se as montanhas, mas o abismo
D'onde mirava mal s'estremeceu.
     E no centro de tudo isto estava eu.

Com efeito, a avalanche que desceu
Lançou pedras durante todo o sismo.
Enquanto sem o mínimo heroísmo
Olhava o fim que não aconteceu.
     E no centro de tudo isto estava eu.

Todo o tempo que a terra se moveu
Eu vi da multidão o paroxismo
De terror e de fúria n'um egoísmo
Que quase natural me pareceu.
     E no centro de tudo isto estava eu.

Não terá sido tudo um sonho meu
Em meio às desventuras com que cismo?
N'um tsunami avance o telessismo
Que do fundo de mim mesmo irrompeu!
     Pois no centro de tudo isto estava eu...

Betim - 11 09 2019

terça-feira, 10 de setembro de 2019

BODAS D'ESTANHO

BODAS D'ESTANHO

Não me peças que te ame aborrecido
Após obrigações d'um dia errante!
Tampouco me constranjas, delirante,
A mentir-te um ardor adormecido

Mais saiba eu te amar enternecido,
Antes com a leveza d'um amante,
Do que co'a sobriedade circunstante
Que costuma ostentar todo marido...

Celebremos o amor, não este estranho
Decênio por nós dois compartilhado
Como bodas estúpidas d'estanho!

Ao contrário, esqueçamos esta data
Amando-nos d'um jeito sossegado,
Sem votos ou qualquer fala sensata.

Betim - 09 09 2019

segunda-feira, 9 de setembro de 2019

FILIGRANAS

FILIGRANAS (vilanela)

Escritas em letras d’ouro
Duas longas iniciais:
O entrelaçado tesouro
D'aqueles que amam demais.

Quando o amor, imorredouro,
Recorda histórias banais
Escritas em letras d'ouro.

Quando o amor, já sem desdouro,
Faz rebrilhar mais a mais
O entrelaçado tesouro.

Ora o moreno; ora o louro,
Face a damas imortais
Escritas em letras d’ouro!...

Ora o cristão; ora o mouro:
A não perecer jamais
O entrelaçado tesouro.

Ora o toureiro; ora o touro,
Onde lutas desiguais
Escritas em letras d’ouro!

Para afastar mau agouro;
Para desvendar sinais...
O entrelaçado tesouro.

Para o século vindouro;
Para futuros casais,
Escritas em letras d’ouro.

Betim - 08 09 2019

domingo, 8 de setembro de 2019

AMENIDADES

AMENIDADES

Falemos do que possa se falar;
Das coisas que s'esquece logo após...
Dizer ora da gente; ora de nós
A depender de quem vá escutar.

Não será questão de hora ou de lugar
O modo como se ouve a própria voz?
Talvez eu seja o meu maior algoz,
Deixando uma bobagem por contar...

Mas convém evitar certos assuntos,
Para melhor matar o tempo juntos
Sem grandes dissabores na jornada.

E entretidos de quanto se falasse,
Apenas por estarmos face a face,
Falemos sobre tudo e sobre nada!

Betim - 08 09 2019

sábado, 7 de setembro de 2019

PALAVRAS DE PÓRTICO

PALAVRAS DE PÓRTICO
para Fernando Pessoa
Na arquitrave, ao palácio da memória,
Por sobre o porticado construída
Estejam as letras vãs de minha história;
Aforismo a caber toda uma vida.

Não quede como lápide insabida
Do vulgo que lhe ignora a sua glória.
Sim como monumento à destemida
Luta por uma escrita meritória.

Gravados no granito os caracteres
Rememorem para homens e mulheres
Os versos que escrevi feliz um dia.

A fim-de que as pessoas da cidade
Orgulhosas de sua liberdade
Mais celebrem nos poetas a poesia.

Betim - 07 09 2019

sexta-feira, 6 de setembro de 2019

GENTE MINEIRA

GENTE MINEIRA

Gente mineira. Sim: Gente morena.
Tem cor de terra a pele d'essa gente,
Que na terra procura, indiferente,
Ferro, ouro, manganês, níquel, galena...

Em bamburro d'estrelas se apequena
Até um achamento resplandente:
Se Mãe-d'Ouro reluz aqui frequente
É que há olhos de ver na noite plena...

Mas das serras aos vales vaga mundo
Quem por entre minérios e mineiros
Escreve seus maus versos, vagabundo.

Pois ofício comum n'estes outeiros
Às letras escavar sempre mais fundo,
Buscando antes sorrisos que dinheiros.

Azurita - 24 08 2019

SULAMITA

SULAMITA

Não me digas que me amas mais que tudo,
Porque aquilo que é tudo não é nada...
Cala-te. É melhor que fiques mudo
Em lugar de falares na hora errada.

Eis aqui teu olhar no meu desnudo,
Adentro de minh'alma abandonada
A ver que se te iludes eu me iludo
No anseio meu de amar e ser amada.

Não te negues a mim -- que sou morena --
O sol d'estes teus olhos amendoados,
Tampouco a calentura mais serena.

Se tu assim me amares, os pecados
Das mentiras que me contas na hora amena
Hão-de ser pelos Céus até perdoados!...

Betim - 05 09 2019

quinta-feira, 5 de setembro de 2019

GÁRGULAS

GÁRGULAS

A chuva tamborila no telhado,
Caindo em calhas atrás da platibanda.
Por horas a torrente não se abranda
E verte em jorros fortes sobre o eirado.

Cada desaguadouro é bem ornado
Como um teramorfismo que desanda
A esguichar em cascatas da varanda
A tempestade inteira ao porticado.

Eternamente em pedra enfeitiçadas
As gárgulas do rio são alteadas
Em vista de moléstias e de mágoas.

Eram uns dragões góticos terríveis,
Que mais ameaçadores aos desníveis,
Em vez de labaredas lançam águas!...

Belo Horizonte - 01 09 2019

quarta-feira, 4 de setembro de 2019

TULIPAS NEGRAS

TULIPAS NEGRAS

Especulam nas bolsas e nas feiras
Qual seja a mais valia da beleza.
Em raras flores negras, a grandeza
Alinhou-se a loucuras sem fronteiras:

-- "Cinquenta bulbos sobre sementeiras
A valer toda dívida holandesa!" --
Apregoa o senhor d'esta riqueza
Em face de nobrezas verdadeiras...

Dia após dia os preços vão subindo,
Até que a variedade cultivada
Se tornasse uma lenda d'ouro infindo.

Outros bulbos, porém, na tez chagada
Roubando de bons olhos quanto é lindo
Fizeram tal tesouro quase nada...

Betim - 03 09 2019

REVIRAVOLTAS

REVIRAVOLTAS
 
“Na poeira do velho estradão/ Deixei marcas do meu coração / E nas palmas da mão e do pé / 
Os catiras de uma mulher.” 
Rolando Boldrim in “Eu, a viola e Deus” 

Se um dia tu voltares, volta em paz.
Não voltes por ter medo do futuro.
Não nos cabe senão em horas más,
A angústia d’um final tão prematuro…
Mas se o passado não ficou p’ra trás,
Tampouco esse momento ainda obscuro.
Que a pretexto de andarmos sem perigos
Afasta tanto amigos que inimigos.

Não voltes porque temes triste fim!
Não voltes pelo tédio do presente!
A vida pode ser assim-assim…
Contudo, a solidão é inclemente:
Leva-nos a alegria até que, enfim,
Não haja razões p’ra seguir em frente,
Deprimindo-se o ânimo d’um jeito
Que é difícil deixar o próprio leito.

Não me tenhas como um cara-de-pau
Arrependido de erros do passado…
Sentado a t’esperar n’algum degrau
Recordo antes o ardor que, enamorado,
Em boa hora esqueço o dia mau.
Apenas em ficar bem ao teu lado.
A culpa como fardo se carrega,
À espera d’um perdão que tarde chega.

Mas, se a necessidade faz a lei,
Um estatuto inteiro escreve o amor!…
A única conclusão a que cheguei
É de que não se vive sem temor
De perder as batalhas que enfrentei
Em tratados vazios de valor:
Pouco valem papéis e seus dizeres
Quando tratam d’amores e quereres.

Dizem ser o melhor tempero a fome
Como excelente ao sono é a fadiga;
O desejo em ardor se nos consome
E d’amores a noite é boa amiga.
Tu, minha bela, tens da luz cognome.
E hoje, teu doce olhar mais se bendiga!
Luze na escuridão que me rodeia
E traze bons sabores para a ceia.

A mágoa, n’esse arfar, tão logo fuja
Nos permita o prazer e seu mistério.
Teus beijos a lavar-me a boca suja
Venham me redimir como homem sério
E me rabisque a rude garatuja
Onde te poetei fútil vitupério…
Após eu difamar teu nome aos berros,
Enfim haja perdão para meus erros!

Encontre o meu olhar o teu olhar
E a tua mão descanse sobre a minha.
Eu possa uma outra vez te acarinhar
Enquanto a tua nuca se avizinha…
Penso eu cá do teu lado sossegar
Para tu não dormires mais sozinha
Se te alcanço os favores, mais e mais,
Com sussurros abafo ora teus ais.

Aos martírios da vida não se some
O mal-de-amor de que falam os sábios,
Sim a arte de amar mais se retome
À leitura de velhos alfarrábios.
Pois quando à morte sei ser o teu nome
Que, sofregamente, hei-de ter nos lábios…
É o amor uma morte, ainda e enfim,
Se um dia tu voltares para mim.

Sobrália — 02 02 2014

terça-feira, 3 de setembro de 2019

DOS HOMENS

DOS HOMENS

"Os homens nascem e são livres e iguais em direitos. As distinções sociais só podem fundar-se na utilidade comum".
REPÚBLICA FRANCESA in Declaração dos Direitos dos Homens e dos Cidadãos

Desde que os homens andam pelo mundo,
Há quem ordene e quem seja ordenado.
Pôr em ordem é o hábito fecundo
De nós, frágeis bípedes, p'lo brado
Que ecoando nas centúrias, iracundo,
Nos fez povos ao havermos lado a lado
Seguidores d'uma única vontade,
Onde muitos sob mesma potestade.

Com efeito viver em coletivos
Tem permitido aos homens muito mais
Do que como se meros seres vivos
Vivessem como vivem seus iguais:
Escolhem d'entre si os mais altivos
E d'eles fazem entes divinais
Que reinem sobre todos afinal,
Embora para o bem ou para o mal...

Assim, quando a verdade se faz crença
Haver ou não haver já não importa.
Sem que grandes luzes os convença
Mediante uma esperança natimorta,
Se identifiquem pela diferença!
A fé na eternidade os reconforta,
Enquanto se resignam nas misérias
E desdenham do corpo as vis matérias.

Muitos pela violência de seus feitos
Lograram ter o mando de milhares
Postos em avanguardas, contrafeitos,
Ou pagando tributos seculares.
Os que pela Fortuna eram eleitos,
Dominando pessoas e lugares,
Usavam do Poder com liberdade
E depois o deixavam como herdade.

Exibiam-se ornados por coroas
Em face de vassalos humilhados
Exigindo cobrirem-no de loas,
Tanto seus actos certos como errados.
Por fim, eles dispunham das pessoas
Como se actores sobre vãos tablados
Onde todos, por cálculo ou capricho,
Seguem alheio texto ou vão cochicho...

Qualquer ordem fundada no divino
Ao querer reinar n'este e n'outro mundo
É Poder que absoluto e ladino
Governa tudo e todos sem segundo.
Decerto é alheamento tão malino
Mais faz, do nascituro ao moribundo,
Quem confundindo trono com altar
Tão-só obedecer, não cooperar.

A Realeza, a suprema distinção,
Ao revestir de Deus a monarquia
Impõe a Ordem Social por submissão
Que usualmente descamba em Tirania.
Mas súbdito se torne cidadão
Quando indivíduos contra a fidalguia:
Escravos são tão-só de seus abdômens,
Nunca d'homens mais homens do que os homens!

Pirâmides, porém, são construídas
Em cada sociedade pelas moedas...
São riquezas quem rege nossas vidas,
E atravessa às Nações em suas quedas
Para além das verdades conhecidas
Entre revoluções e labaredas:
Sob a mão invisível do Mercado
É que se ordena o povo sob o Estado.

Portanto, seja livre embora pobre
A base da magnífica arquitetura
Que s'ergue diariamente d'ouro e cobre
E adquire, indiferente, mais altura.
Até que essa excessiva carga sobre
Solape a metafórica estrutura
Co'o rearranjo das bases e dos cumes
Para com novos pares, novos numes...

Haverá verdadeira Liberdade
Aos homens que se iludem pelo engano?
Quando entenderão que na Igualdade
Se livram de qualquer divino plano?
Que apenas com fraterna humanidade
A união que dá força ao ser humano
Transforme sua acção em meio a História
Sem deuses nem heróis em sua glória!

Dos homens, o que s'espera é consciência.
Já basta de inverdades convenientes
E de belas mentiras p'la existência --
Explicações covardes; coniventes --
Submetam realidades à Ciência,
Jamais a outros achismos complacentes.
De modo que, também por discordância,
Se possa argumentar com tolerância.

Sejam, deveras, livres porque iguais.
Não escravos de suas diferenças,
Que só faz com que queiram mais e mais
Em lugar de sanarem desavenças
Ou rastejando em busca dos ideais
Se percam de presentes e presenças
Por futuros pretéritos perfeitos
Entre sós labirintos de conceitos.

Essa Ordem capaz de nos reunir
É a força e a fraqueza das pessoas:
Juntos, os homens devem discernir
E haver coisas tão úteis quanto boas.
Ou senão, como impérios a decair,
Mais combater por cruzes ou coroas...
Regras haja a ordenar como vivemos
E impedir que uns aos outros nos matemos!

Poderes são por homens exercidos
E devem, para o bem da Humanidade,
Por concordância às regras submetidos
E nunca por temor à potestade.
Aqueles que governam, escolhidos,
Jamais se arvorem outra qualidade
Senão servir a todos igualmente,
Dando lugar no tempo competente.

Queiram os homens ter por objetivo
O próprio bem-estar tido em comum.
Que o anseio d’haver-se são e vivo
Não faça negar vida a sequer um.
Ao contrário, se mostre compassivo
Inclinando-se sem desdém nenhum:
Conviver é o chamado mais profundo
Desde que os homens andam pelo mundo...

Belo Horizonte - 30 08 2019

segunda-feira, 2 de setembro de 2019

APÓCRIFOS

APÓCRIFOS

Os covardes costumam não ter nome;
Escondem-se por trás de maus escritos
A propagar mentiras para malditos
Virem no ódio matar a sua fome.

Essa raiva ancestral que lhes consome
Faz com que, como títeres aflitos,
Se movam ao redor de monolitos
Na adoração a um deus de pedra-pome...

Orgulhosos da própria estupidez,
S'elevam como reis dos ignorantes,
Sem ninguém a imputar quanto se fez.

Vêm gargalhar de todos após e antes
Certos de mais lucrarem da escassez
Com toda a indiferença dos pedantes.

Contagem - 01 09 2019