segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022

ODIOSOS

ODIOSOS


MOTE: 

Os que se odeiam odeiam 

Até aqueles que os amam.


GLOSA:

Todo o que quer mal a si mesmo

Não quer bem quem lhe quer bem.

Se quem tudo quer nada tem,

Seguindo a sua vida a esmo,

Tudo odiar mais lhe convém.

Hão-de odiar os que os rodeiam

Estes que apenas reclamam

E odiosos a si se chamam…

Os que se odeiam odeiam 

Até aqueles que os amam.


Betim - 28 02 2022

 

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022

ACERCA DOS ÚLTIMOS DIAS

ACERCA DOS ÚLTIMOS DIAS


Que dizer destes últimos dias, senão

que passaram entre reviravoltas radicais?


A essa grande instabilidade emocional que chamam de amor,

professei um credo existencial que,

de fragmento em fragmento,

promoveu o inesperado encontro após mil desencontros.


Quem saberá o que é verdade?

– Os analistas dos factos, exaustos, só encontram contradições.

– Os perscrutadores de consciências giram em carrossel seus inquéritos.

– Os videntes se deparam com neblinas espessas, impenetráveis.

– Os indecisos ficam pelo caminho e não mais são vistos na vizinhança.


Muitos abandonam a jornada; muitos se afastam.

Ao passo que outros ressurgem das sombras.


O futuro improvável se realiza e o passado deixa de ser lembrado.

Novos tabus são criados para abrigarem o indizível.


São tantas velhas novidades que perco a noção de qual ano estou:

— “Parece que já estive aqui antes, dizendo 

as mesmas coisas que já foram ditas, fazendo

as mesmas coisas que já foram feitas, sentindo

as mesmas coisas que já foram sentidas…”


O eterno retorno é também a eterna partida, afinal, 

nunca se volta para onde se veio.

O lugar até pode ser o mesmo, mas o tempo não;

E a pessoa que retorna, tampouco.


Estou de volta ao lugar que deixei, mas

por não ser mais o mesmo, talvez consiga agora 

acertar mais do que errar.


Betim - 08 01 2021


sexta-feira, 11 de fevereiro de 2022

OS ACIDENTES DA MENTE

OS ACIDENTES DA MENTE


Com macaquinhos no sótão, padeço

de desorientação e melancolia.


A mente, feito um computador,

roda uma infinda verificação cíclica de erros… Não consigo pensar n’outra coisa!


Obcecado, revejo os mínimos detalhes d’aqueles dias:

o telefonema, a ambiguidade, a ruptura e o controverso retorno.


Horas e horas n’isso.


…………………………


Preciso aceitar o Universo com suas tragédias inerentes:

Tudo muda, mas permanece como antes.

A casca de ferida que se finge a pele anterior ao trauma, tentando apagar o que passou como se nunca tivesse acontecido.


Mas aconteceu!


………………………….


Mente que mente parvamente!

Ilusão de autoengano pós-desengano!

Com que fé posso ressuscitar esse cadáver?!


Amor incondicional?!


Um pulo no escuro já contando com fraturas.

Uma escolha temerária e cega aos factos recentes.


Só me resta esperar 

um câncer, um sinistro ou mesmo a redenção prometida aos que amam,

enquanto se caminha à beira do abismo passional: omissões, mentiras, autorrepressões — viver em negação para viver positivamente!


Quem se importa?


Betim - 21 01 2021


sexta-feira, 4 de fevereiro de 2022

EPITALÂMIO

EPITALÂMIO

Você é o lugar onde quero estar

Por e para você
Sob e sobre você
Perto e com você


Você é o lugar onde quero estar

Até e em você
Se e talvez você
Onde e quando você


Você é o lugar onde quero estar

Ao lado de você
Através de você
Dentro de você


Betim - 04 02 2022


quinta-feira, 3 de fevereiro de 2022

A QUALQUER TEMPO

A QUALQUER TEMPO


Sempre que desejares ou puderes

E quando t'entediarem os lugares,

Abre um livro de poemas aos vagares

Por logo te afastar dos afazeres.


Se te cansarem homens e mulheres

A buscar, avidíssimos, seus pares,

Cuida para em meio às letras divagares

E sonhares o quanto tu quiseres.


Esquece o mundo… Atenta em rimas liras!

Desdenha aos maiorais seus souvenires

E aos donos da verdade suas mentiras.


Se em alheio sentir mais tu sentires,

Hás-de encontrar das letras quanto admiras

N'um pote d'ouro bem no fim do arco-íris.


Betim - 31 01 2022