quinta-feira, 20 de junho de 2024

ENLEVO

ENLEVO Já nem t’escuto os lances de ventura Ou as vãs reviravoltas que me narras. Os teus lábios se movem sem amarras, Mas dos sons não me vêm senão candura.

Tão-só cuido em olhar-te a formosura, Ao passo que em meu peito mil fanfarras Desfilam, sumptuosas, se me agarras Não tanto por argúcia, sim ternura.

Atento antes aos olhos do que à boca, Eu sigo sem saber se o que me toca É o teu argumento ou o teu mamilo. Já a alça displicente te cai ao ombro… Ao qu’eu, boquiaberto, cá me assombro De quanto fantasia o olhar tranquilo. Betim - 19 06 2024


segunda-feira, 17 de junho de 2024

RUPESTRE

RUPESTRE

Os campos que s'estendem nas vertentes, Em meio a madrugadas nevoentas, Nos levam por estradas poeirentas Para além d'horizontes esplendentes!

Reparo as culminâncias adjacentes,

Ao perscrutar das nuvens as tormentas,

Mas cuido de evitar-me peçonhentas:

Um olho no céu e outro nas serpentes…

Participo ao presente: “Estou aqui”.

E me alegro de quanto vejo e vi,

Certo que tu, Gerais, quem me motivas.

— “Quão belos são os campos do Senhor?!” —

Eu contemplo a beleza ao meu redor:

Cactos, canelas-d’ema, sempre-vivas…

Lapinha da Serra - 15 06 2024

quinta-feira, 13 de junho de 2024

ESPELHO QUEBRADO

ESPELHO QUEBRADO


O rosto todo em cacos na parede

Dá-se-lhe algum reflexo pós-cubista

Como ser fragmentado à própria vista,

Mas que autopiedade a si concede.


Tão vã melancolia ali se mede,

Ao ver-se, ensimesmado, quase artista:

Para além da violência, ele conquista

Antes consolação que fome ou sede…


A mão ‘inda lhe dói, ensanguentada;

Ao passo que sua alma transtornada

Pensa reconhecer-se n'esse estrago.


De facto, era o retrato da ruína,

Que diante de seus olhos se ilumina 

N'um instantâneo lúcido e aziago.


Contagem - 11 06 2024