CAIXA DE FÓSFOROS
Às vezes, escrever poesia é tentar manter acesso um fósforo
na escuridão.
Betim - 27 10 2025
Espaço para exibição e armazenamento de poemas à medida que os vou escrevendo. Espero contar com o comentário de leitores atentos e gente com sensibilidade poética por acreditar que o poema acabado não precisa ser o fim de uma experiência, sim o início de um diálogo.
CAIXA DE FÓSFOROS
Às vezes, escrever poesia é tentar manter acesso um fósforo
na escuridão.
Betim - 27 10 2025
ILETRADO
Minha pouca leitura e entendimento
Têm feito de mim um poeta menor.
Ignoro se o que escrevo tem valor,
Deixando-me levar pelo momento.
Não cuido se coerente o pensamento
Ou mesmo se a meus versos dou sabor.
Se haveis prazer ao lê-los, meu leitor,
É antes vosso belo e bom intento.
Não sou de disputar co’os mais doutos,
Sim de me isolar em valhacoutos,
Como quem foge aos erros que engendrou.
Portanto, não me leais por cultura —
Vós que me conhecestes a escritura:
Têm as letras os males do que sou.
Sabará - 18 10 2025
IN THE PINES
Se, n'uma manhã, por neblina espessa,
Me aparecesse o rosto iluminado
D'aquela que viveu em meu passado
E se foi para os longes, quase à pressa…
Ela — sem tronco ou membros, só cabeça —
A vagar no vazio ensimesmado
Para estar, mesmo ausente, do meu lado
E manter, em maldição, sua promessa:
Sob os pinheiros, onde nunca o sol
Aquece o vão sombrio da montanha
E a névoa estende nívea o seu lençol,
Ali, com obsessão, o olhar s'embranha
E se confessa culpa estremecida,
Uma outra vez, na lágrima incontida.
Moeda Velha - 04 10 2025
OROGRAFIAS AFECTIVAS
Aquelas três corcovas alinhadas,
A maneira de irmãos para uma foto,
Cerram a cordilheira no remoto
Sítio onde o Paraopeba abre moradas.
Seguindo, d’Oeste a Leste, amplas cumeadas
— D’onde rolara a moça em tempo ignoto…
Além, ao velho Curral, por fim anoto:
“Da metrópole mineira, altas miradas.”
Caminhos de minério, cavas, vidas…
As montanhas s'elevam enternecidas
De serem fundo ao nosso quotidiano.
Eu as saúdo aos brados, de regresso,
E à vastidão silente lhes confesso
Meus ais de caminhante suburbano.
Moeda Velha - 04 10 2025
MORTIFICADO
Há quem queira saber como me sinto,
Talvez para gozar de meus azares
E ver meu coração indo p’ros ares!
Ou mesmo minha mente em labirinto...
Eu tenho andado errático, não minto:
De partida p’ra todos os lugares.
Há só desilusão em meus olhares,
Embora alguns me tenham por distinto.
Não hei forças sequer para sorrir...
Por isto, franzo o cenho a discernir
Entre outra escuridão e um descaminho.
Sinto-me, pois, a arder em carne nua...
— Se a lua na sarjeta ainda é lua,
Em minhas mãos não sei se sangue ou vinho.
Belo Horizonte – 03 10 2025
A CONSELHO MEU
Conselho que te dou: Tem por mais certo
E sábio não querer quem não te quer!
Aquela que te vê como um qualquer
Nada terá senão o olhar deserto...
Procura o teu caminho, longe ou perto,
E encontra a solidão que te aprouver.
Errada te há-de ser toda a mulher,
Visto que o coração tens encoberto.
Dá tempo ao tempo. Não te desesperes.
Cuida apenas de ti e teus haveres,
Aceitando o Universo em movimento.
No mais, que seja bela a tua estrada!
Há mais paz n’uma longa caminhada
Do que nos amplos vãos do sentimento.
Belo Horizonte – 25 09 2025
DESAPEGO
Aquilo que foi meu não me possui;
Eu deixo para quem melhor servir.
Se não busco ao passado o meu porvir,
Tampouco resto à casa enquanto rui.
Eu não me sinto preso a quem já fui.
Mas, mesmo que difícil de admitir,
Percebo mais leveza em ir e vir
E o mundo é hoje o mestre que me instrui.
Levo comigo só o que consigo
Pois não pretendo lar o meu abrigo,
Visto que parto assim que amanhecer.
Pessoas? Resvalar de convivências...
Não acumulo mais que experiências
Certo de que não sou o que sei ter.
Bonfim - 07 09 2025