segunda-feira, 11 de junho de 2018

CORDEL DA LUA DE SANGUE E DO SOL ENCARNADO - Primeira Parte: AO POENTE

CORDEL DA LUA DE SANGUE E DO SOL ENCARNADO
Primeira Parte:
AO POENTE

Desde o tempo dos antigos
Estes dois arqui-inimigos
Veem-se às vezes face a face.
Tinham os olhos sangrando
Ao longo de longo impasse,
Soltando, sem que findasse,
Faíscas de quando em quando...

Era o sol em agonia.
Era a lua em pleno dia.
Era ele o sol encarnado.
Era ela a lua de sangue!...
Eram os dois lado a lado:
Ele, rubro e envergonhado;
Ela, 'inda pálida e exangue.

O sol, ferido ao declínio,
Um firmamento sanguíneo
Deixa após si n'Ocidente.
Já a lua, vespertina,
Surgia em quarto crescente,
A luzir quase ao poente
Face ao sol e sua sina.

Como acontece há milênios
Pelos celestes proscênios,
Sucedia a lua ao sol.
D'esta feita, todavia,
Depois do rubro arrebol
Passando à cheia (um farol!)
Diversa se prometia...

Segundo efemeridades,
Estas astrais potestades
Transitam bem regulares
Quando vistas cá da Terra:
Têm das luzes estelares
Certas datas e lugares,
Que cada eclipse encerra.

N'aquela noite, portanto,
Para universal espanto
Mais um eclipse lunar
Estava escrito no quadro:
Havia-de se ocultar
A lua, até s'escutar
Mais alto de cães o ladro.

Com efeito, a lua cheia
Às imensidões clareia
Enluarando a cordilheira!
Pois, finda a fase crescente,
A lua se mostra inteira
E domina, companheira,
A noite resplandecente.

Pouco a pouco, todavia,
A sombra da Terra havia-
De lhe ocultar toda a face.
E o luar obscurecido
Avermelha-se fugace,
Tornando-se ao desenlace
Rubra qual sangue vertido.

        *    *    *

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