ESCRITA
Não basta rabiscar a folha em branco
Para trazer ao vulgo um verso amaro.
Carece antes passar noites em claro
Entre o desassossego e o querer franco.
Apesar dos pesares, não estanco
A ferida a jorrar-me o sangue ignaro…
Antes a fustigo até o desamparo
E choro de rir feito saltimbanco.
Trata-se, sim, da noite mais escura,
Esta escrita que faço à guisa de alerta
Àqueles que me leem a vida incerta.
Possam eles se valer de tal leitura
Ao recordar-me em hora tão sombria
Até na escuridão haver poesia.
Belo Horizonte - 06 01 2000