quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

CALOROSA

CALOROSA
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CALOROSA

Abraça-me! Abre os braços aos abraços
Há tanto que esperando te envolver.
Deixa-me, ao te tocar, enternecer
Porquanto me reténs os olhos baços.

Para o bem ou não, toma-me em teus braços,
Sob pena de jamais acontecer...
E, entregues à alegria, ousemos ser
Apenas dois ladeando breves passos.

Sigamos o caminho à nossa frente
Antes que se me torne indiferente,
Que houvesse sol ou chuva por onde ando.

E esqueça n’um instante o mal passado,
Quando em teus braços eu, aconchegado,
Cuide senão de ti cá me abraçando.

                 Betim - 26 01 2015

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

AMOROSO

AMOROSO
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AMOROSO

Eu te amo tanto quanto um homem possa 
Amar e ser amado n’essa vida. 
Amar-te me fez ver onde escondida 
Uma felicidade apenas nossa. 

Amar me fez a lágrima mais grossa, 
Mas mais largo o sorriso; mais sentida 
A fúria a me sangrar n’alma a ferida 
A ponto de no corpo uma outra bossa. 

Amar-te deu-me alento quando o mundo 
Revelou-se um lugar triste e imundo 
Onde, enfim, tudo e todos tão-só passam. 

Pois te amei na esperança d’algum dia 
Luzir, em meio a agruras, a alegria 
Como fosse cristais que se espedaçam. 

                       Betim - 13 02 2014 

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

FULO!

FULO!
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               FULO!


Para de reclamar de mim comigo.
Acabou: Não sou mais problema teu! 
Se sou mesmo tão ruim, porque sempre eu 
Tenho-de te amparar; te dar abrigo? 

Quando todos se foram, fui-te amigo. 
Mas olha, agora, para quem te acolheu: 
Nem metade de quem fora! Pigmeu 
E, inopinadamente, em vão perigo... 

Toma um gole de tua fúria e dorme.
Sonha com teus sequazes a haver-te a ira 
E admira,por fim, meu olhar disforme.

É o máximo que posso, ou a mentira
De dizer que eu, malgrado me conforme, 
Tive-de deixar-te antes que eu me fira.

                                                 Betim – 05 01 2015

sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

ANDARILHOS

ANDARILHOS
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ANDARILHOS

Eu não sei a que vim. É, eu não sei...
Só sei que estou aqui e tão-somente
Atravesso à cidade, indiferente,
Sem já me importar por onde andei
Só mais um tipo só, sem rei nem grei,
Que segue a sua vida em vão e em frente.
Passo despercebido em meio à gente
Costumada a andar sob obtusa lei.
Tais multidões seguindo seus destinos
Parecem reprovar-me os desatinos
Sem objetividade ou objetivos;
Mas vamos todos por essa avenida
E, ainda que a cuidar da própria vida,
Talvez não nos saibamos sequer vivos.

          Betim - 13 01 2015

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

VOO LIVRE


VOO LIVRE

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VOO LIVRE

Asas inflam por térmica ascensão

E, após, descem em vórtice, planando...
Onde um sol escaldante alerta quando
O céu vai colorir-se de emoção.

A urubuzada aflita deixa o chão

Até tocar às nuvens ao olhar brando
De quem se quer com pássaros revoando,
Enquanto acelerado o coração.

Voar com eles, como eles, o dia todo.

Deve lhes ser, de facto, o melhor modo
De, conhecendo os céus, se conhecer.

E vão como se parte da paisagem,

Aproveitando ao vento outra viragem,
Que simplesmente linda de se ver.

                      Betim - 12 01 2015



quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

NÃO IMPROVÁVEL


NÃO IMPROVÁVEL

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NÃO IMPROVÁVEL

Talvez sim. Porque eu a olhe e veja nua

Ou porque o tempo fez-se enfim propício;
Ou porque quão mais raro, mais difícil.
Embora o encanto enquanto se insinua...

Talvez fosse bonita ou porque a lua

Estivesse tão plena de artifício.
Talvez porque, já cerca ao precipício,
Eu me precipitasse pela rua.

Talvez não. Talvez nada fosse assim;

E talvez sequer era para mim
Seu sorriso mais terno àquele instante.

Talvez eu nem devesse estar aqui.

Mas não tivesse eu visto quanto vi
Jamais a encontraria d'oravante.


Betim - 31 12 2014

domingo, 4 de janeiro de 2015

TEMERÁRIO


TEMERÁRIO

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TEMERÁRIO

Tenho medo de que teu olhar tenha
Uma verdade cuja luz sequer
Ousaria admirar enquanto houver
Dor. Mesmo que a dor venha e convenha...

Como um que quer tanto que desdenha;
Como aquele que vem só quando quer;
Pudesse o olhar extremo da mulher
Penetrar fundo tão obscura brenha!

Não. Nem é mais talvez nem inobstante,
O bom d’estarmos sós é semelhante
Aos derradeiros sonhos e esperanças.

Entenda: posso dar nem mais um passo,
Sim o tropeço só que ganha o espaço,
Rodopiando-me em falso estranhas danças.


Betim - 30 12 2014

sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

ORQUIDÁRIO


ORQUIDÁRIO
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ORQUIDÁRIO

Quem se cultiva dúvidas e anseios
Lança sementes sós no coração,
Que encontram solo fértil se a emoção
O conduz já sem fins ou sequer meios.

Beleza de se ver ver co'os olhos cheios,
Tocada em imperiosa sensação
A ponto de lhe dar falsa impressão
De ter-se um porto com barcos alheios...

Meteu-se com azares e perfídias,
Embora houvesse ornado com orquídeas
Seus amores ao longo d'essa vida.

E as vê por seu jardim imaginário,
Dando aos dias aspecto belo e vário
Face à cada ilusão enternecida.

            Betim - 01 01 2015