PLEONÁSTICO n°2
Encarasse de frente, não soslaio...
Talvez, olhos nos olhos, ver e olhar
Quanta esperança ainda têm lugar
N'um brilho me luzindo verde-gaio.
Verdadeira verdade em que recaio
Cada vez que se perde o meu olhar
Ao me levar além de ser e estar...
Se no oceano de ti enfim me espraio!
Sou duas vezes mais eu quando te amo
E me refiro a mim somente O TEU
Ao te ultimar as cartas onde o exclamo.
Decerto, n'um papel que s'escreveu
A poesia dir-me-á como me chamo
Ao te dizer, amante, quem sou eu.
Betim - 30 06 2018
Espaço para exibição e armazenamento de poemas à medida que os vou escrevendo. Espero contar com o comentário de leitores atentos e gente com sensibilidade poética por acreditar que o poema acabado não precisa ser o fim de uma experiência, sim o início de um diálogo.
quinta-feira, 26 de julho de 2018
REALIDADE, IRREALIDADE E SURREALIDADE
REALIDADE, IRREALIDADE E SURREALIDADE
A surrealidade, a meu ver, é antes um absurdo que segreda alguma verdade oculta que mais outra forma de irrealidade. Já irrealidade é qualquer estado de coisas quer não encontra símile n'essa construção coletiva a que denominamos realidade. É, portanto, qualquer incorrespondência ao redor do que duas ou mais pessoas conseguem perceber em comum.
Limitando qualquer proposição a FALSO e VERDADEIRO, a irrealidade seria aquilo que só se relaciona com a realidade por meio da negação e não do embelezamento ou fantasia, como advogam as belas mentiras artísticas. Ou seja, a irrealidade não se trata apenas do FALSO, sim do NÃO-VERDADEIRO. Algo FALSO, com efeito, é antes o que parece verdade mas não é; algo criado com a intenção de emular a realidade. Entrementes, a irrealidade não tem intenção, é apenas a resposta do indivíduo que não corresponde ao observado pela coletividade. Vox populi, vox Dei -- como sintetizaram os antigos -- remete à ideia de que Verdade é o que a comunidade assim o define, expressando, d'estarte, a própria vontade do Divino. Se o conceito que se compartilha torna-se comum, à medida que mais comunidades passem a compartilhar conceitos comuns, mais aquilo que era considerado apenas cultural, tende a tornar-se universal. A grande conquista do cartesianismo, em particular; e do método científico, em geral, fora exactamente dotar povos diferentes de conceitos universalmente aceitos ao fazer da Matemática uma linguagem capaz de atravessar fronteiras culturais. Aceitar que dois mais dois são quatro permitiu a todas as culturas do mundo, por mais diversas, contribuir para o conhecimento científico de toda a Humanidade.
A irrealidade é o olhar dissidente, contrário, questionador do lugar comum, especulador d'algo mais. É o que, correndo o risco de estar completamente errado, o indivíduo assume para si; por pura picardia, às vezes. A irrealidade é o território do sujeito; do subjetivo. Quando alguém consegue convencer os outros de sua verdade -- seja mediante algum método universal como o científico; seja mediante mediante à sedução da linguagem artística -- observa-se a transformação da irrealidade pessoal em realidade coletiva. Não precisa ser uma nova lei da Natureza ou algo profundamente transformador. Basta que lance luzes sobre algum elemento disperso do quotidiano. Se as pessoas, diante d'aquele olhar inovador, passarem a enxergar o que antes ninguém via, pode-se afirmar que a irrealidade pessoal se aproxima da realidade.
Há quem fale ainda em realidades, não realidade. Tal abordagem assume a relatividade da verdade de uns em contraposição ao absoluto da verdade única. Admitir múltiplas verdades ou opiniões para o juízo de factos semelhantes é próprio das Ciências Inexactas, não das uniformizações impostas pela Cultura ao indivíduo. Quanto mais submerso em sua própria irrealidade, menos capaz participar do pacto coletivo que a realidade pressupõe. Esvaziadas de seus grupinhos, as realidades tendem a se dissipar na Grande Realidade, até desaparecem.
A surrealidade, por outro lado, desafia àquele que se coloca diante dela, à guisa de enigma. Não é a loucura subjetiva da irrealidade do NÃO-VERDADEIRO, sim uma realidade que não é óbvia. Tampouco é uma releitura artística da realidade -- ou das realidades... -- que identificam como FALSO. O surrealismo identifica o fantástico no quotidiano e o evidencia. A surrealidade precisa antes de tudo ser realidade. Não se confunde com a irrealidade ou com a loucura. Ao contrário, é preciso ter extrema lucidez para enxergar algo mais por sobre aquilo que todo mundo enxerga mas ninguém vê.
É isso.
São Paulo - 25 07 2018
A surrealidade, a meu ver, é antes um absurdo que segreda alguma verdade oculta que mais outra forma de irrealidade. Já irrealidade é qualquer estado de coisas quer não encontra símile n'essa construção coletiva a que denominamos realidade. É, portanto, qualquer incorrespondência ao redor do que duas ou mais pessoas conseguem perceber em comum.
Limitando qualquer proposição a FALSO e VERDADEIRO, a irrealidade seria aquilo que só se relaciona com a realidade por meio da negação e não do embelezamento ou fantasia, como advogam as belas mentiras artísticas. Ou seja, a irrealidade não se trata apenas do FALSO, sim do NÃO-VERDADEIRO. Algo FALSO, com efeito, é antes o que parece verdade mas não é; algo criado com a intenção de emular a realidade. Entrementes, a irrealidade não tem intenção, é apenas a resposta do indivíduo que não corresponde ao observado pela coletividade. Vox populi, vox Dei -- como sintetizaram os antigos -- remete à ideia de que Verdade é o que a comunidade assim o define, expressando, d'estarte, a própria vontade do Divino. Se o conceito que se compartilha torna-se comum, à medida que mais comunidades passem a compartilhar conceitos comuns, mais aquilo que era considerado apenas cultural, tende a tornar-se universal. A grande conquista do cartesianismo, em particular; e do método científico, em geral, fora exactamente dotar povos diferentes de conceitos universalmente aceitos ao fazer da Matemática uma linguagem capaz de atravessar fronteiras culturais. Aceitar que dois mais dois são quatro permitiu a todas as culturas do mundo, por mais diversas, contribuir para o conhecimento científico de toda a Humanidade.
A irrealidade é o olhar dissidente, contrário, questionador do lugar comum, especulador d'algo mais. É o que, correndo o risco de estar completamente errado, o indivíduo assume para si; por pura picardia, às vezes. A irrealidade é o território do sujeito; do subjetivo. Quando alguém consegue convencer os outros de sua verdade -- seja mediante algum método universal como o científico; seja mediante mediante à sedução da linguagem artística -- observa-se a transformação da irrealidade pessoal em realidade coletiva. Não precisa ser uma nova lei da Natureza ou algo profundamente transformador. Basta que lance luzes sobre algum elemento disperso do quotidiano. Se as pessoas, diante d'aquele olhar inovador, passarem a enxergar o que antes ninguém via, pode-se afirmar que a irrealidade pessoal se aproxima da realidade.
Há quem fale ainda em realidades, não realidade. Tal abordagem assume a relatividade da verdade de uns em contraposição ao absoluto da verdade única. Admitir múltiplas verdades ou opiniões para o juízo de factos semelhantes é próprio das Ciências Inexactas, não das uniformizações impostas pela Cultura ao indivíduo. Quanto mais submerso em sua própria irrealidade, menos capaz participar do pacto coletivo que a realidade pressupõe. Esvaziadas de seus grupinhos, as realidades tendem a se dissipar na Grande Realidade, até desaparecem.
A surrealidade, por outro lado, desafia àquele que se coloca diante dela, à guisa de enigma. Não é a loucura subjetiva da irrealidade do NÃO-VERDADEIRO, sim uma realidade que não é óbvia. Tampouco é uma releitura artística da realidade -- ou das realidades... -- que identificam como FALSO. O surrealismo identifica o fantástico no quotidiano e o evidencia. A surrealidade precisa antes de tudo ser realidade. Não se confunde com a irrealidade ou com a loucura. Ao contrário, é preciso ter extrema lucidez para enxergar algo mais por sobre aquilo que todo mundo enxerga mas ninguém vê.
É isso.
São Paulo - 25 07 2018
ANTIFASCISTA
ANTIFASCISTA
De embrutecido apelo aquela união
De fortes se fazendo 'inda mais fortes
Contra uma ordem corrupta de vãs cortes
Mais o Mercado e sua avara mão.
Assim bem se seduz uma nação
Ao atapetar co'o sangue de mais mortes
A estrada do Poder após recortes
Que expurguem d'entre os bons qualquer vilão...
Mas, o que pode a pena contra a espada
Co'a violência corroendo feito cárie
A voz esclarecida ante a barbárie?...
-- Que ela escreva até ser silenciada.
E, a despeito do horror ou do egoísmo,
Jamais se curve em face do fascismo!
Peruíbe - 22 07 2018
De embrutecido apelo aquela união
De fortes se fazendo 'inda mais fortes
Contra uma ordem corrupta de vãs cortes
Mais o Mercado e sua avara mão.
Assim bem se seduz uma nação
Ao atapetar co'o sangue de mais mortes
A estrada do Poder após recortes
Que expurguem d'entre os bons qualquer vilão...
Mas, o que pode a pena contra a espada
Co'a violência corroendo feito cárie
A voz esclarecida ante a barbárie?...
-- Que ela escreva até ser silenciada.
E, a despeito do horror ou do egoísmo,
Jamais se curve em face do fascismo!
Peruíbe - 22 07 2018
TOMBOS
TOMBOS
Aqui por estas bandas leva tombos
Quem teve prejuízo e, inopinado,
Termina sem qualquer outro cuidado,
Senão catar migalhas feito pombos...
Com risco de tomar alguns calombos,
Confiou quando mais desconfiado
Devera precaver-se de seu lado,
Enquanto computava novos rombos.
Decepções sucediam-se co'os anos
À medida que mais e mais enganos
Consomem-lhe a alegria de viver.
Porque duas ou três vezes mais pobre
Se sente o que furtado se descobre
Após a voz d'um falso o convencer...
Betim - 02 07 2018
Aqui por estas bandas leva tombos
Quem teve prejuízo e, inopinado,
Termina sem qualquer outro cuidado,
Senão catar migalhas feito pombos...
Com risco de tomar alguns calombos,
Confiou quando mais desconfiado
Devera precaver-se de seu lado,
Enquanto computava novos rombos.
Decepções sucediam-se co'os anos
À medida que mais e mais enganos
Consomem-lhe a alegria de viver.
Porque duas ou três vezes mais pobre
Se sente o que furtado se descobre
Após a voz d'um falso o convencer...
Betim - 02 07 2018
LUTA ARMADA: ARAGUAIA
LUTA ARMADA: ARAGUAIA
Aqueles tidos como imprescindíveis
Pelo afã de lutar toda uma vida
Chegam ao fim co'a alma dividida,
Antevendo traições em muitos níveis.
Depois de atravessar dias terríveis,
Resta-lhes, sem saúde e sem saída,
A rendição tardia oferecida
Não raro a inimigos impassíveis...
O sangue nos seus olhos turva a vista
Entre a dor que apequena uma conquista
E o remorso que assombra suas noites.
Assim, tendo vivido um Ideal
Mataram e morreram sem igual,
Para trocar grilhões por mais açoites...
Peruíbe - 19 07 2018
Aqueles tidos como imprescindíveis
Pelo afã de lutar toda uma vida
Chegam ao fim co'a alma dividida,
Antevendo traições em muitos níveis.
Depois de atravessar dias terríveis,
Resta-lhes, sem saúde e sem saída,
A rendição tardia oferecida
Não raro a inimigos impassíveis...
O sangue nos seus olhos turva a vista
Entre a dor que apequena uma conquista
E o remorso que assombra suas noites.
Assim, tendo vivido um Ideal
Mataram e morreram sem igual,
Para trocar grilhões por mais açoites...
Peruíbe - 19 07 2018
terça-feira, 24 de julho de 2018
NA REBORDOSA
NA REBORDOSA
Mal acordo e começa a girar tudo...
Olhos cerrados contra o sol brilhando,
Enquanto latejava quando em quando
Minha cabeça a cada espasmo agudo.
No espelho, muito pálido e barbudo,
Eu miro e me remiro; ando e desando.
E então, suando frio e vomitando,
De noitadas assim me desiludo.
Eu tento me lembrar d'algo que fiz
Na esperança que um pouco mais feliz
Atravessara a insana bebedeira.
Mas não guardei sequer um só momento,
Pois, em plena alegria, o esquecimento:
Eis a manhã seguinte à noite inteira!...
São Paulo - 10 07 2018
Mal acordo e começa a girar tudo...
Olhos cerrados contra o sol brilhando,
Enquanto latejava quando em quando
Minha cabeça a cada espasmo agudo.
No espelho, muito pálido e barbudo,
Eu miro e me remiro; ando e desando.
E então, suando frio e vomitando,
De noitadas assim me desiludo.
Eu tento me lembrar d'algo que fiz
Na esperança que um pouco mais feliz
Atravessara a insana bebedeira.
Mas não guardei sequer um só momento,
Pois, em plena alegria, o esquecimento:
Eis a manhã seguinte à noite inteira!...
São Paulo - 10 07 2018
AUSTRO-HÚNGARO / Des-História Universal
AUSTRO-HÚNGARO / Des-História Universal
Quem súbdito de reis-imperadores
Embasbacara o mundo com sua arte,
Antes que a Guerra um povo d'outro aparte
E, entre velhas bandeiras, novas cores...
Do Ultimato ao Armistício, os estertores
Da pátria qu'ele amara... Em toda parte,
Percebe enquanto a Europa se reparte,
Ser o artista de antigos esplendores.
Quem meio austro e meio húngaro nascido
Se viu subitamente dividido
E, entre duas nações, despatriado...
Mas através de décadas vazias,
Percebera-se em suas fantasias
Ter sido o artista preso no passado.
Peruíbe - 23 07 2018
Quem súbdito de reis-imperadores
Embasbacara o mundo com sua arte,
Antes que a Guerra um povo d'outro aparte
E, entre velhas bandeiras, novas cores...
Do Ultimato ao Armistício, os estertores
Da pátria qu'ele amara... Em toda parte,
Percebe enquanto a Europa se reparte,
Ser o artista de antigos esplendores.
Quem meio austro e meio húngaro nascido
Se viu subitamente dividido
E, entre duas nações, despatriado...
Mas através de décadas vazias,
Percebera-se em suas fantasias
Ter sido o artista preso no passado.
Peruíbe - 23 07 2018
segunda-feira, 23 de julho de 2018
ADENTRO
ADENTRO
Dentro, muito dentro de mim,
Vagueio entre sombras que fui.
Explicam porque sou assim;
Porque volta e meia tudo rui.
Explicam como a lua influi
Em minha escuridão sem fim.
Vagueio entre sombras que fui:
Dentro, muito dentro de mim.
Porque volta e meia não é sim...
Penso: Independe quem argúi,
Eu adentro desde onde vim!
Vagueio entre sombras que fui...
Dentro, muito dentro de mim.
Peruíbe - 23 07 2018
Dentro, muito dentro de mim,
Vagueio entre sombras que fui.
Explicam porque sou assim;
Porque volta e meia tudo rui.
Explicam como a lua influi
Em minha escuridão sem fim.
Vagueio entre sombras que fui:
Dentro, muito dentro de mim.
Porque volta e meia não é sim...
Penso: Independe quem argúi,
Eu adentro desde onde vim!
Vagueio entre sombras que fui...
Dentro, muito dentro de mim.
Peruíbe - 23 07 2018
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