ATRÁS DAS LENTES
Tem um olho que vê e outro que percebe
As minúcias de quem se lhe rodeia
E já se pretende amigo em meio a ceia...
Folgado feito um príncipe na plebe!
-- Pois míope entre sombras devaneia.
Na ideia de que dando se recebe,
A outros faz elogios à mancheia
E desata a falar da vida alheia
Às voltas com quem come e com quem bebe.
-- Pois míope entre sombras devaneia.
Anda pelo jardim junto da sebe,
Construindo-se castelos seus de areia.
Incerto já do que ama e do que odeia
Ou do mundo como ele lhe concebe...
-- Pois míope entre sombras devaneia.
N'um espelho d'água o luar s'embebe
Enquanto ao redor tudo clareia.
Logo emerge do fundo uma sereia
Ao náufrago que, enfim, desapercebe
-- Quem míope entre sombras devaneia.
Belo Horizonte - 05 01 2021
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