quinta-feira, 30 de janeiro de 2025

LUNÁTICOS, INSANOS OU MELANCÓLICOS

LUNÁTICOS, INSANOS OU MELANCÓLICOS


Em meio a loucos, quem andará são?

Caminho pelo pátio do instituto

Sentindo-me vazio e diminuto

Face àquela angustiante solidão.


Não há agora guardas no portão,

Tampouco grades contra o dissoluto,

Apenas um silêncio resoluto

Atravessa a profunda escuridão:


Por corredores, salas e porões,

Quando na própria mente tais prisões

A segregar uns e outros dos demais.


Em meio a loucos, quem andará bem?

Pareço um mentecapto ora eu também,

Enmimesmado e longe dos normais.


Betim - 24 01 2025


terça-feira, 21 de janeiro de 2025

BORBOLETAS AZUIS

BORBOLETAS AZUIS


Vêm do meio da mata nos saudar

Conforme avançávamos na trilha.

A um só tempo milagre e maravilha,

O azul de suas asas a voejar!


Como se cor que voa ou luz que brilha,

Era de imenso céu ou fundo mar.

Além, nós lhe seguimos o bailar

Onde a beleza em flores se partilha.


Admirados de vê-las e perdê-las,

Enquanto a travessia continua

Lembramos como azuis e como belas.


Ao chegar, caminhando pela rua,

Levaremos do azul das asas d'elas

Uma felicidade nua e crua.


Esmeraldas - 18 01 2025


domingo, 12 de janeiro de 2025

PEDRA DE RAIO

PEDRA DE RAIO

Que estrela cai do céu e rasga o chão?

Uma pedra voadora; ou mais, cadente.

Surge no breu da noite de repente

E luz de canto a canto o seu clarão.


A rocha extraterrestre reluzente

N’um raio a s’espalhar na imensidão…

Foi quase apocalíptica visão,

Como se a própria morte simplesmente.


N’algum lugar alguém há-de encontrar

Qualquer bloco ou fragmento que restar

D’aquele instantâneo assustador.


Então nos lembraremos que o Universo

Ao seu modo aleatório e até disperso

Pode mandar-nos d’esta p’ra melhor.

 

Belo Horizonte - 20 05 2023


sexta-feira, 10 de janeiro de 2025

COMO NÃO?

 COMO NÃO?


Devo dizer que não. É necessário.

Mais do que isso, eu penso: Imperativo!

Às vezes, afirmar-se é negativo,

Mas responde ao loquaz autoritário.


Eu lhe nego e renego se redivivo

Um sentimento ruim de solitário.

No final, resta o pasmo involuntário

De quem recebe o não e seu motivo.


Ainda que não fosse um despropósito,

Não sou fardo a guardarem no depósito,

Mas, contra o feiticeiro, o seu feitiço!


Devo dizer que não. Sim, acontece.

Mas, compreendido ou não, cá me parece,

Como andasse em terreno movediço…


Betim - 26 12 2024


domingo, 5 de janeiro de 2025

AFORÍSTICO

AFORÍSTICO

Em havendo ou não vida após a morte,
A consciência em mim cá se me diz:
“Quem busca ao fim do dia estar feliz
Intente ser mais sábio que mais forte”.

"Detém sabedoria, por raiz,
Não o que mais saber se lhe comporte,
Sim o que saboreia em sua sorte
Total serenidade face a hostis".

Ignoro quem seja Deus ou como seja,
Mas gosto de sonhar qu’Ele deseja
Saber todas as coisas que sabemos".

"Duvida; desconfia dos doutores
Que entre infernos e céus sonham horrores
Em tudo o que, afinal, desconhecemos".

Betim - 24 12 2024

sexta-feira, 3 de janeiro de 2025

GOTA A GOTA

GOTA A GOTA


Tamborilava a chuva no telhado 

Enquanto começava a clarear

Co'os olhos s’entreabrindo devagar,

Ressentidos do sono abandonado…


Era ainda um silêncio atravessado

Pelas gotas da calha a transbordar

Por sobre ideias fora de lugar 

E todo aquele alvor de lado a lado.


Imerso n’uma espécie de entressono,

Seguia o batucar hipnotizante,

Livre de desencanto ou desengano


Fora não se sentir senão errante

Na semiconsciência do abandono,

Em quase tudo ao nada semelhante.


Betim - 12 12 2024