MAGNO - O livro de Alexandre
CANTO PRIMEIRO
Canto, ó musa, dos grandes o maior!
Aquele cujos feitos nunca mais
Haverão pelos tempos de igualar.
Canto o senhor dos helenos e dos persas,
E explorador das Arábias e das Índias!
D'entre todos os homens em seu Fado,
Eu canto quem de Vênus tão dilecto
Quanto de Marte mais favorecido,
Como se não de reis, mas sim de deuses
O houvessem concebido para a glória!
Mas não, musa, não cabe ao menor poeta
Cantar, por fim, dos grandes a grandeza...
Tampouco lhe compete se arvorar
Um cronista de cortes tão distantes
No espaço e tempo às suas tortas letras!
Oh sim, como ousa o obscuro lançar luzes
Sobre este cujo nome imenso brilha?
Como, musa, algum poeta 'inda pretenda
D'outro século os transes da Fortuna
Que marcaram os dias de Alexandre?
Ou mesmo, como da Hélade traduzir
N'um tardio e vulgar falar latino
Que por terras austrais americanas
Calhou de florescer exuberante?
E como -- para além das conjecturas --
Ter versos onde o velho se renove
A iluminar as mentes d'este tempo
Que pouco ou nada escutam d'outras eras?
Mas haverá ainda d'entre nós
Quem aprecie d'épicos o engenho?
Deveras... Não sabendo responder
Tu silencias, musa, qual dissesses
Dever também o poeta se calar...
Afinal, que aproveita o homem em ter
Vencido todo o mundo se se perde?
Que poderá o poeta contra o Fado
Enquanto o próprio herói, em sua história,
Sem conhecer derrota é esquecido?
Talvez não reste um canto a se cantar
Tampouco história alguma a ser contada...
Se canto, ó musa, é antes teimosia
Que talento ou verdade iluminados.
Eu canto porque os homens e mulheres
Coetâneos de Alexandre n'ele vivem!
Eu canto porque os deuses o escolheram
Para levar o saber do Estagirita
Às três partes do mundo conhecido:
Por África, Ásia e Europa, desde Pela,
Avançou até ser tido por Magno
Mesmo onde seu domínio não chegou.
Mas canto, sobretudo, porque falham
Todos os que o tentaram superar...
Mesmo quem o epiteto após houvera:
Pompeu, Gregório, Leão, Carlos, Alberto...
Antes foram desejos d'outras glórias
Do que lumes capazes de ofuscá-lo!
À semelhança de astros que pelo Orbe,
Transitando em concerto gravemente,
Luzem sem contrastar co'a luz mais alta
Vista no céu nocturno entre as estrelas.
Alexandre, após guerras e poderes,
A sua história aos códices da História
Tivera assim, por mérito, elevada.
Deve o poeta, contudo, não o douto
Cantar o homem a além de suas obras.
Certo de que, ao exaltar sua existência,
Celebre antes vivências que conquistas
E entenda, humanamente, o que é ter
Grandeza quando o mundo mais parece
Carecer simplesmente de limites.
Betim - 18 10 2018
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