sexta-feira, 30 de agosto de 2024

TRINTA DE AGOSTO

TRINTA DE AGOSTO


É sabido que Narciso ama o seu reflexo.

É preciso que haja o outro para que Narciso se possa ver 

nos olhos do outro.


É essa pessoa — o espelho de Narciso,

aquela que espelha a face de Narciso —

que sofre a impossibilidade de ser amada

ao mesmo tempo em que é mantida 

ao alcance dos olhos

para Narciso se mirar


Narciso não ama seu espelho,

visto que apenas um objeto.

Narciso ama sua própria imagem 

refletida no espelho.


Acontece que o espelho de Narciso

não é de vidro, sim dois olhos

que espelham mais do que o que veem;

espelham também o que sentem.


Mas isso, por vezes, distorcem a imagem de Narciso:

Quanto mais velho o espelho, mais opaco reflete.


Se Narciso se olhar no espelho 

e se ver feio,

Ele não vai pensar que a realidade é aquela.

Não. Jamais se verá feio, embora o outro o veja.

Narciso vai desconfiar do reflexo que o espelho dá.


Narciso vai quebrar o espelho

e arranjar outro.


Betim - 2024


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