JOANA D'ARC (cordel à beira-mar)
Que dizem as ondas que quebram no cais?
-- Marulho de horrores de antigas batalhas...
Cem anos de guerra e milhões de mortalhas
S'evoca nas pedras do porto em Calais:
Tambores e pífaros dando honras reais
Àquela que soube os Franceses chamar
Contrária a invasores subtis d'além-mar
Se disse movida por vozes dos Céus
E embora donzela, com homens incréus,
Na volta de Ingleses p'ra beira do mar.
Dos anjos e santos, ainda menina
Escuta o chamado a elevar o seu rei.
Em vestes de moço, contrárias à lei
Da igreja e do reino, parece ladina
Guerreira submissa à vontade divina
Tomada, porém, de fervor sem par.
E mística vai de lugar em lugar
A ter com vitórias um grande sinal.
Coroa seu rei na primaz Catedral
E inflama os Franceses da beira do mar!
Por toda a Bretanha e na vil Normandia
Franceses se agitam nas praças de guerra
E os fortes varões da temida Inglaterra
Tiveram de agir com vileza e ousadia:
Acusam a jovem de insã bruxaria.
Por meio de inquérito diante do altar
Até que a fizeram em chamas queimar
No afã de apagar dos Franceses o ardor.
Contudo, por mártir, com imenso fervor
Inspira os Franceses na beira do mar.
O rei e seu povo percebem na moça
Sinal de que os Céus estariam com eles.
Levantam-se todos, do grande ao mais reles,
E expulsam aqueles que vinham sem bossa
Pilhando em rapina as cidades e a roça
Em guerra por guerra, sem nunca findar.
Cem anos passados tão-só a lutar
No ardor homicida de irmão contra irmão,
Lembravam em Joana o conflito cristão,
Ressoando nas ondas na beira do mar!
Belo Horizonte - 07 12 2019
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