TERRACOTA
Tem cor de terra este chão
Gretado de sol a pino,
Que piso desde menino.
Moreno, igual minha mão;
Árido, igual meu destino.
Em volta, colonhão seco,
Amplos capões de capoeira
E terra desnuda estradeira.
Nas casas, barrado ao beco
Vermelho de fina poeira.
Cercas d'arame farpado
Mais tronqueira e mata-burros,
Longe, do vento os sussurros
Nas veredas do cerrado
Onde bacuraus casmurros...
Tudo coberto de pó
N'uma pátina terrosa
A envelhecer, pegajosa,
Feito uma praga de Jó
Minha gente desditosa.
Aliás, é de chão batido
A cor dos sertões além
Que, ferruginosos, tem
D'hematitas o curtido
Sanguíneo que também
É marrom-avermelhado...
Na poeira se me revele
O sentido que me impele:
Terracota o meu passado,
O meu chão e a minha pele.
Brumadinho - 25 06 2019
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