GENEALOGIA DO POEMA
D'onde vem o poema? Quem é seu pai?
Em que ventre é pacientemente gerado? Quem é sua mãe?
A quem pertence? Criatura d'um deus criado... Sim: o poeta!
Pois bem, pode o poeta,
inspirado por musas ou assombrado por fantasmas,
deixar sobre o papel suas impressões antes
que os leitores se apropriem do texto
e o reescrevam a cada leitura?
Semelhante a Deus, o poeta é um pai ausente:
Abandona o poema e vai cuidar de si. Ou do Universo...
Resta ao poema passar pela existência absurda dos poemas:
Existir sempre que os olhos pousam sobre as letras
Ou que os ouvidos lhes percebam as sílabas.
Seja em caracteres; seja em sons, o poema chega ao leitor.
É sua grande missão, afinal, para isso fora escrito,
ainda que o poeta o negue, autossuficiente,
argumentando tê-lo escrito como necessidade d'expressão.
Se assim fosse, não sairia da gaveta, não
viria a lume confuso e frágil; não
encheria páginas e páginas com sensibilidade, não
atravessaria os séculos e os oceanos, não
habitaria, ainda que por instantes, no coração e mente do leitor.
O poeta se defende porque sabe o poema com seus traços: É seu filho.
Deriva de sua mente e de suas sua visão de mundo, logo,
as fragilidades d'ele são fragilidades suas. Exposto,
o poeta se vê no poema.
Sangue do seu sangue, como um filho,
o poema é o poeta, subsiste-lhe.
E é essa consanguinidade que o exaspera.
Betim - 13 12 2018
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