sexta-feira, 16 de dezembro de 2022

METAS

META/POEMA

intropoética

A meta é a poesia, não o poema.
O poema é resultado da poesia:
O instante cujo encanto principia
Vertido no sentido e seu fonema.

O poema é onde a escrita mais s’extrema;
É quanto de poesia eu traduzia
No que desnecessário escreveria
Com metro, ritmo, rima e até dilema…

A escrita que é reescrita na leitura, 
Não só interpretada e assimilada
Do poema sobre o poema que se poeta.

Portanto, metapoema: Não procura 
Nem responde à questão especulada
No arranjo de vocábulos do poeta…


  *      *      *

 

META/LINGUAGEM  

sublingual  

A meta é algo além; é projecção
Do vir-a-ser do encanto que me inquieta
N’uma verdade ainda analfabeta, 
Que apenas sentimento ou sensação. 

A linguagem permite-se expressão, 
Quando o verso subverte a sua meta:
Mais do que outra mensagem, busca o poeta
Chamar para as palavras atenção… 

A meta da linguagem na poesia
Não é comunicarmos algo a alguém,
Mas sim lhe transmitir o encantamento.

Ao fim, metalinguagem: Haveria-
De pôr beleza o quanto nos convém 
Na escrita deslumbrada do momento.
 

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META/TEMA 

anagramado 

A meta é solução, não um problema, 
Horizonte que o poeta olha profeta; 
O tema, a imensidão além dileta 
Onde a meta brilhante jaz qual gema. 

A meta se anagrama a ser o tema
Do poema que a si mesmo tem por meta: 
O tema é tudo d’entre a meta e o poeta. 
A meta é tudo após escrito o poema. 

A meta e o tema, poético anagrama
Que dá tanto objetivo quanto assunto
Enquanto a meta ao tema se amalgama. 

Ou seja, metatema: Por que poeto?
De quanto me rearranjo ou desconjunto,
Para que em verso o espírito inquieto?


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META/TEMPO  

axiomático

A meta não é fim em si apenas; 
É limite que busco a ver além. 
O tempo é tudo quanto se me obtém 
Pela transformação a duras penas. 

A meta não é tempo d’horas plenas 
Ou até mesmo um fim em si, porém, 
O tempo n’um só lapso se contém, 
Gerando dimensões bem mais amenas.

À meta e ao tempo faz-se a realidade
Enquanto um movimento continuado
E poético do ser ao vir-a-ser

Ou senão, metatempo: N’outra idade,
Um tempo sem futuro nem passado
Longo o bastante para eu m’esquecer. 

 

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META/POÉTICA  

linearidade

A meta é, quanto mais saber de si, 
O poeta saiba mais saber-se só; 
A poética é trazer de volta ao pó, 
Algum belo topônimo em tupi. 

A meta é a poesia que perdi 
Ao m’escrever, somente e só, por dó. 
Na poética, os versos vão por mó, 
De tanto remoídos dentro em mi.  


A meta da poética, outro rito 
Onde vão duas retas paralelas 
Indo de mais a menos infinito. 

Assim, metapoética: Pensamento 
Em razão da emoção do que é escrito 
Em forma de poesia em movimento. 

 
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META/POIESE 

invenção

A meta é ver beleza na saudade: 

Belo é o que faz abrir os olhos; 

Navega o poeta, nau por entre abrolhos,

Amarrado no mastro da verdade. 

 

A meta é ter desejo e liberdade: 

Vero é-o que me liberta de restolhos; 

Imprime o poema, tipos entre fólios,

Acorrentado à rocha da vontade.

 

A meta, bela e vera, outra obra prima

S’encontre pelo ardor que à pena anima

Na intenção de sentido dada ao poema.

 

No mais, metapoiese: Onde a invenção 

Renove toda a escrita na emoção  E sempre surpreender seja seu lema.


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META/MIMESE  

verossimilhança

A meta, a imitação da realidade. 

No que, senão provável, bem possível.

A meta, o extraordinário e até o incrível

Como se fossem vidas de verdade.

 

A mimese, profunda qualidade   

Que se procura na arte; no intangível

A mimese, copiando o perceptível,

Amplie toda a sensibilidade.

 

Busca mimetizar tudo ao redor

O poeta ao se compor belas mentiras

Ou especular verdades sobre o amor.

 

Também, metamimese: Ele embeleza

Com descritivas penas suas liras,

Mas em verdadeiríssima grandeza. 


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