quarta-feira, 21 de dezembro de 2022

ÓRFICO

ÓRFICO 


Aedo primevo, descera até o inferno

Sem conhecer a morte, só o amor.

Cantando a Hades e a sombras ao redor,

Deixou as profundezas sem governo:


Cessou Sísifo o seu trabalho eterno,

Assim como as danaides o mal lavor.

Nem Tântalo, o sedento, teve ardor

Senão ouvir d’Orfeu o canto terno…!


Depois de comover a tudo e todos,

Concedem libertar a sua amada,

Que torna com o poeta pela estrada.


Contudo, perde a bela d’entre lodos:

Na ânsia d’antes rever o seu sorriso,

Vagueia sem inferno ou paraíso.


Belo Horizonte - 16 05 1998


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