quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

CALMARIA

CALMARIA 

Pássaros passarão em nuvens brandas; 
Em nuvens (ou em bandos...) pelo porto. 
Alguém diz: “Pandas asas, velas pandas”... 
A ver navios e aves quedo absorto. 

Não parte o meu navio; ando a seguir 
Por este cais ruidoso já sem pressa. 
Esperar é o mesmo que existir. 
Meu olhar todo o oceano ora atravessa. 

Receios de partir; ânsias de chegar, 
O coração se agita sem razão. 
De novo os olhos pousam sobre o mar 
E o que veem é de novo imensidão. 

Pois se sucederão, dia após dia, 
Manhãs em tudo idênticas já a esta: 
Pássaros passarão sem alegria... 
Navios abrirão velas sem festa... 

Futuro é o presente repetido 
À espera apenas da hora da partida. 
A vida passa sem jamais ter sido 
A promessa d’amor outrora ouvida. 

Ainda que bons ventos cá me levem, 
Pássaros passarão... (Que quimera!...) 
As velas, como a vida, mal se atrevem 
Sempre à espera da espera d’outra espera. 

Vitória 05 11 2005 

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