sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

ESVAZIADO

ESVAZIADO   

Escrever, escrever, escrever... Sim,
Tenho pena: -- “Ai de mim!”

Essa expressão contínua de consciência
Finda finda a existência?

Ou permanece viva por quem, vivo,
A lê sem mais motivo?

Poeta, a cada insone madrugada,
Preparo-me para o nada.

Não procuro senão palavras certas
Entre as horas desertas.

Mas olho para além de minha morte
Sem que isso me importe.

Pois, sensato, desdenho a eternidade
Ou ambicionar verdade.

Apenas escrevo, sem outra meta:
Como os grãos da ampulheta, 

Ver versos escorrendo para o Olvido,
E, enfim, ser esquecido.

Betim — 23 01 2020 

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