ÓRFICO
Aedo primevo, descera até o inferno
Sem conhecer a morte, só o amor.
Cantando a Hades e a sombras ao redor,
Deixou as profundezas sem governo:
Cessou Sísifo o seu trabalho eterno,
Assim como as danaides o mal lavor.
Nem Tântalo, o sedento, teve ardor
Senão ouvir d’Orfeu o canto terno…!
Depois de comover a tudo e todos,
Concedem libertar a sua amada,
Que torna com o poeta pela estrada.
Contudo, perde a bela d’entre lodos:
Na ânsia d’antes rever o seu sorriso,
Vagueia sem inferno ou paraíso.
Belo Horizonte - 16 05 1998
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