sábado, 28 de janeiro de 2017

MARÍTIMO

MARÍTIMO

Vejo o entra-e-sai de barcos da marina
Logo assim que começa a viração.
O mar quebra nas pedras do costão
E mais ao largo espraia em  areia fina.

Um d'estes que a maralto se destina
Eu lhe acompanho a só navegação,
Que busca na distância a imensidão
Na paz d'uma luz já vespertina.

Nos rasos, arrecifes mais abrolhos
Variando do turquesa ao azul profundo
Os entretons mais lindos d'este mundo.

Tal a beleza diante dos meus olhos,
Que me percebo todo sentimento
Entregue às impressões d'este momento.

Ubatuba - 02 01 2000

QUIMERA

QUIMERA

Eu, a bem da verdade, jamais disse
Que já não te quisesse ou que esquecera.
És -- metade ilusão, metade fera  --
A mulher que talvez nem existisse...

Dentro em breve, sucumbes à mesmice
E vais em busca d'outra primavera.
Quanto a mim, como quem mais nada espera,
Vivencio hoje os dias da velhice.

Sinto que me devoras sem qu'eu veja,
Se queres-me o querer que te deseja
E se entrega por ti ao que quiseres.

Baldo é... Logo de novo hás-de partir!
Mas volverás, se Deus o permitir,
Uma única mulher entre as mulheres.

Belo Horizonte - 20 02 2000

BAPTISMO DE FOGO

BAPTISMO DE FOGO

Quando fomos topar com o inimigo
E lhe fizemos fogo p'ra matar,
Vi que também morreu n'esse lugar
Muito do que sabia bom comigo.

Tinha um sorriso franco, agora  antigo,
E um brilho transparente em meu olhar,
Que perdera de vez sem o notar,
Ao disparar morteiros contra o abrigo.

Ao passar em silêncio pelos mortos,
Sentia pegajoso em minha mão
O sangue derramado pelo chão.

Onde em face dos corpos 'inda tortos,
Seus olhos me acusando, esbugalhados,
P'ra sempre todo o mal de meus pecados...

Belo Horizonte - 13 09 2001

quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

CARNE DE CANHÃO

CARNE DE CANHÃO

“Avançar tropa até linha de fogo”.
Era a lacônica ordem-telegrama,
Cuja fria consciência abria o drama
De meros peões movidos para o jogo.

Assim, um a um os homens caem tão-logo
Marcham por esse chão de sangue e lama.
Aqui e ali, alguém aos céus exclama
Mas mesmo os céus se calam a tal rogo...

Depois só o silêncio, que absoluto
Estendia por todo o campo o luto
Face às vidas tragadas por obuses.

Por fim, plotar n'um mapa novas baixas
E escrever os seus nomes pelas caixas
Que lhes recebe os corpos mais as luzes.

Belo Horizonte – 18 12 1999                         

LINHA D'ÁGUA

LINHA D’ÁGUA

A embarcação que deixa agora o porto,
Na linha de seu casco, todo o mar
Já vem ao seu redor se nivelar
Embora haja das ondas desconforto.

Eu sigo seu flutuar um tanto absorto
Das cores em contraste a figurar
Onde as águas riscam o navegar
E após ponho sobre um verso torto.

A linha que a água faz em todo o mundo
Ao vazar os oceanos sobre as costas,
Divisa o mar e a terra ao olhar profundo.

N’ela sei eu buscar novas respostas
Que permitem ao espírito fecundo
Idear a luz em cores decompostas.

Vitória - 25 06 2000

TARDES DE PETECA

TARDES DE PETECA

Aquela ave que voa só no tapa
E nos enchia as tardes vãs d'antanho
Colore ora a memória em perda e ganho
Mesmo quando a danada nos escapa.

Vencer tinha a doçura da garapa
Comprada com algum vintém d'estanho...
O brinquedo era humilde, não tacanho.
Na poeira d'um lugar fora do mapa.

Longe, a cidade imensa com seus prédios
Nos ignorava o jogo e a meninice
Como se a mais estúpida tolice.

Foi fugindo de banhos e remédios,
E rebatendo penas pela poeira
Que tivemos a infância verdadeira!...

Betim - 22 07 1999

TARUÍRA

TARUÍRA

Pequena e clara, sobe p'la parede
A lagartixa sempre amedrontada.
Penso me ver em sua só mirada
Enfim refestelado sobre a rede.

Perto, um cálice mata a minha sede
Enquanto eu acompanho outra jornada
Rastejante que empreende essa coitada
Cuja vida a mim não cheira nem fede.

É tão pequena qu'eu mal posso  vê-la
E, por discreta, é fácil esquecê-la
Camuflada n'algum reboco caiado.

Eu com ela me entendo, todavia,
Por lhe aprender mais dia menos dia
Essa arte de viver sem ser notado.

Betim - 02 07 2000

quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

CÍLIOS POSTIÇOS

CÍLIOS POSTIÇOS

Se a maquiagem é máscara sobre a face,
Teus cilíos são cortinas nas janelas
D'essa alma que me ocultas e revelas
Onde desconhecida eu já te outrasse.

Certo desassossego ora em mim nasce
Ao olhar sem ver pupilas como aquelas
Que cá me surgem entre piscadelas
Como se o teu olhar o meu chamasse...

Fixo um ponto de fuga na distância
A fim-de se aplacar em mim tal ânsia
Que, magnética, atrai-me para ti.

Pois, mesmo que somente um artifício,
Deixar eu de te olhar é tão difícil,
Que chego a duvidar já do que vi.

Belo Horizonte - 23 03 2000

ARRAZOADOS

ARRAZOADOS

Não fosse o mundo todo algo tão louco
Talvez pudesse eu ser mais razoável.
Inobstante me veja um tanto instável
E que razão já tenha muito pouco...

Fumaças de esperanças eu tampouco
Ostento para além do suportável.
Na verdade era como o miserável
Que às próprias pragas tem o ouvido mouco.

Assim, depois de tanto questionar
O mundo e suas vãs contradições,
-- Sonhando cada coisa em seu lugar... --

Eu entendi que ideais são ilusões,
Que embora possam tudo após mudar
São, para o bem e o mal, também razões.

Betim - 05 03 2000

sábado, 21 de janeiro de 2017

MUITO ALÉM DAS LÁGRIMAS

MUITO ALÉM DAS LÁGRIMAS

O amor... Que se dirá enfim do amor?
Tem vezes é mais doce do que o mel.
Outras, amarga tanto quanto fel,
Só deixando azedume, dissabor...

Que pode se dizer em seu favor?!
Quem em sua defesa quando réu
Lhe justificará a face cruel
Após nos arrastar à extrema dor?...

Eu muito além das lágrimas amei...
Uns dias fui mendigo; n'outros, rei.
Soube dizer do amor já o indizível!

Nem sei se é um bem ou se é um mal.
Só sei que por amar tanto, afinal,
Eu vivi muito mais do que o possível.

Betim - 21 01 2017

segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

FOLHA DE ROSTO

FOLHA DE ROSTO

Há-de conter os nomes em caixa alta
Toda primeira folha de papel
Que abre às paixões do livro seu tropel
Quando aos olhos o título nos salta.

É quem nomina quando a capa falta,
Conquanto o conteúdo quede fiel.
E, à guisa de relíquia ou de troféu,
Mantenha cada frase em cada pauta.

Face oculta do livro, prima folha...
A que bem de primeiro e longo se olha
Pouco antes d’uma história começar.

Dê ao livro por rosto algumas letras
A fim-de que furtivos qual penetras
Possam na fantasia alheia adentrar.

Belo Horizonte - 01 04 2000

A MÃO DE DEUS

A MÃO DE DEUS
                                                  iluminura
Separa luz de treva em frontispício
A mão de Deus ao criar a obra divina.
Uma exegese ao Gênesis ensina,
Enquanto põe às claras Seu ofício.

Ilustrando-nos com arte e artifício
O gesto que de Deus tudo origina,
Um pergaminho em cores se ilumina
E revela o Universo antes do início.

Eis a imagem de  cosmogonias
N’um códice que cheio de alegorias
Traz as respostas sós d'Aquele que é

O medievo saber de tantos monges 
Elevará o espírito nos longes
Pondo em duplipensar razão e fé.

*     *     *
                                                        tese
A crença é de que está na mão de Deus
A balança que pesa nossos actos.
Forçoso é ter, porém, como inexactos
Seus dons tal como veem os europeus:

Sistemas religiosos põem nos breus
Verdades a luzir além dos factos
No afã de perpetuar os sociais pactos
De ordem e de poder aos filhos Seus.

Com efeito, a função social da fé
Há séculos mantém sempre de pé
As Igrejas com suas catedrais.

Uma cruz a serviço de coroas
Antes a submissão quer das pessoas,
Que lhes prover de bens espirituais.

*     *     *   
                                                            antítese
Tem o homem criado Deus — não o contrário —
Assim, à sua imagem-semelhança;
Para, habilmente, haver outra esperança
Inventada a lhe dar conforto vário.

Engenhoso artífice; bom operário,
Pôde o homem da Natura obter pujança;
E insensível a toda má mudança,
Se quer sem superior ou intermediário.

Super-homem d'uma era pós-moderna
De Deus morto e morte-arte, à beira-abismo, 
Contempla o Fim dos Tempos, da caverna.

Pois se reduz ao mais vão materialismo,
Sem saber de Criador ou vida eterna,
Senhor e servo em seu próprio egoísmo.

*    *    *
                                                        síntese
Homens se moldam ídolos divinos,
Igual o oleiro à argila põe no torno.
Quem faz quem? É levada a massa ao forno,
Que após se vivifica em preces e hinos...

Estatuetas que humanos desatinos
Têm ora como símbolo; ora adorno.
Si mesmas obras d’arte, em cujo entorno
Parecem emanar fatais destinos.

A mão que faz a mão cria a criatura.
São seres que se fazem porque Seus
Junto a todos os seres da Natura.

Suas as nossas obras -- a olhos meus,
Separa treva e luz na iluminura --
Onde a mão do homem é a mão de Deus.

Belo Horizonte – 11 11 1999                     

terça-feira, 10 de janeiro de 2017

MANUSCRITO

MANUSCRITO

A carta que escrevi pus n'um caderno
E lá deixei por anos escondida
Uma coisa difícil de ser lida...
Enfim, só de lembrar eu me consterno.

Amor, seja infinito; seja eterno,
Jamais aconteceu em tua vida.
Só quem nada sofreu, logo se olvida
E hoje, ser insensivel é tão moderno!...

Desoladores, a forma e o conteúdo...
Tamanha a agitação, até a escrita
É a exacta expressão d'aquilo tudo.

Sim, palavra a palavra alguém me dita.
As frases passionais que guardo mudo
E sobrenatural se me acredita

Betim - 23 02 2000

AMOR NOS OLHOS

AMOR NOS OLHOS

Se tens amor nos olhos, tudo o mais
Há-de se iluminar em nossas vidas.
Possa o amor nos curar velhas feridas,
Tornando nossos sonhos enfim reais.

Brilhem os olhos por amar demais
Mesmo face a tristezas desmedidas.
E após tantas chegadas e partidas,
Lacrimejem de arroubos passionais.

Porque, sem esse brilho, o que nos resta
É uma conveniência pouco honesta,
Que mais busca esconder do que mostrar.

Falte tudo, mas não o sentimento!
Capaz de iluminar cada momento
Um grande amor que os olhos faz brilhar.

Betim - 09 01 2017

sábado, 7 de janeiro de 2017

ASSOMBRAÇÕES

ASSOMBRAÇÕES

Tenho andado por ruas tão escuras
Que mal sei diferir sombras de sonhos.
Meus olhos veem sem ver, sempre tristonhos,
Às mesmas estranhíssimas figuras...

N'elas, as minhas vívidas agruras
Projectam-se em monstros bem bisonhos...
Quando até os amores mais risonhos
Findam em meio a grandes desventuras.

Algum cachorro ladra enquanto passo.
Eu instintivamente aperto o passo,
Ainda que sem pressa de chegar.

Apenas faço com que a vida siga,
Já sem me assombrar se uma brisa antiga
Outro lugar-comum faz recordar.

Betim - 08 07 2000

quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

QUINTA VOZ

QUINTA VOZ

O coro de folia nos visita
Pelo dia de reis, seis de janeiro.
As suas saudações vêm de primeiro
D'Aquele que o estandarte se acredita.

E logo a cantoria é tão bonita
Que já ajunta gente no terreiro
Ouvindo-os a cantar o tempo inteiro
Em uníssono co'a quinta infinita.

A voz que perpetua o mais agudo
Deixava todo o povo em roda mudo
Ao contemplar dos homens a alegria.

Vêm recordar dos Rei a sua viagem
Aqueles que a cantar pedem passagem
Co'a voz metalizada da folia.

Itaguara - 06 01 2000

AMORES DEIXADOS

AMORES DEIXADOS

Dizem que aqui se faz e aqui se paga,
Mas o amor que se deixa, não tem preço...
Após te amar em vão, ora careço
Recordar-te a promessa um tanto vaga.

Sim, a boca que beija e a mão que afaga
N'um dia são carinho; n'outro, o avesso.
Perdoo, mas esquecer eu não esqueço:
Tão-só deixo sangrar a velha chaga.

Outro dia, porém, eu te desperto
E após te faço ver sem mais rodeio
As dores do que te amo e que te odeio.

Falo de coração já tão aberto,
Que, honestamente, nem me importo mais:
Deixo-te porque já amei demais!

Betim - 05 12 2001

ADORAÇÃO

ADORAÇÃO

Para a roda do tempo de correr
Quando na nave os ecos do Bendito,
Ressoam em meu espírito contrito
E tudo ao meu redor deixa d’haver.

Algum tempo haverá-de nos conter
A Eternidade? O espaço cabe o Infinito?
O caos de minha vida estava escrito
Desde antes do Universo acontecer.

A consciência se torne o quase nada
Onde existe meu Ser; onde Deus mora.
Transcende espaço-tempo, ilimitada,

E evade de mim sem lugar nem hora.
Mas alcançará, muito embora errada,
Àquele que, em silêncio e só, adora.

Betim – 02 04 1999

IMPÉRIO DO DIVINO

IMPÉRIO DO DIVINO

Tantos venha a ser em meu destino
Tenham lugar comum de amor e fé.
Quanto serei e fui está no que é
Em roupas de ver Deus, cantar Divino.

Era eu três: o velho, o moço e o menino.
Persignando-se no adro em frente a Sé,
E após, seguindo adentro a galilé,
Ouvir do coro o ofício matutino.

Benzidos mente, boca e coração
Junto a pia e pondo opas encarnadas
Aproximam ora o Outro em oração:

-- “Em nome do Pai, Filho e Santo Esp’rito
Meus Eus habitarão, segundo o rito,
Na Casa do Senhor muitas moradas...”

Caratinga – 23 05 1999                           

HA HA HA!!!!

HA HA HA!!!

De impossibilidades esta vida
A mim ultimamente me parece.
Amo, porém, amar algo padece
Dos sonhos de minh'alma aborrecida.

Eu rio e este meu riso se acomprida,
Embora sem quê nem para quê cesse
À luz do que se lembra ou que se esquece
Como se coisa bem mal resolvida.

Todas as coisas devem passar? Sim!
Contudo, um alvoroço dentro em mim
Explode-me em nervosa gargalhada.

Eu rio e já nem sei do que estou rindo...
Tudo parece novo, forte e lindo,
Mas são só os meus olhos face ao nada.

Betim - 03 03 2000

O ONZE DE SETEMBRO

O ONZE DE SETEMBRO

Quando as torres caíram me vi só,
Cercado de pessoas angustiadas.
Forças então de todos ignoradas
Tombavam prédios feito dominó.

Milhares sendo mortos lá sem dó... 
E as catástrofes há tanto esperadas
Para o novo milênio são lembradas
Ante montes d’escombros e de pó.

Terror: O fim enfim está chegando...
O mundo se destrói de quando em quando,
Mas d’essa vez parece irreversível.

Nas sombras esperando, tarde ou cedo,
Seremos consumidos pelo medo,
Enquanto o anjo da morte anda invisível.

Belo Horizonte – 11 09 2001

CIRANDA, CIRANDINHA

CIRANDA, CIRANDINHA

O anel que tu me deste se quebrou,
Tal-qual meu coração, em mil pedaços.
Eu junto os cacos de ambos; corto os laços
E deixo para trás o que restou.

O pouco amor que tinhas se acabou:
Secos os beijos; frios os abraços,
Já tão longe de ti se vão meus passos
Que mal sei me dizer que se passou.

Se o coração é terra de ninguém,
Talvez me faça mal fazer-te bem
Ou por querer-te bem me queira mal.

Só errei quando quis que fosses minha...
Dois a rodar:  -- "Ciranda, cirandinha" --
Mas mãos que se soltavam no final.

Betim - 09 01 1999

COPO LAGOINHA

COPO LAGOINHA

Qualquer cerveja é sempre mais gelada
Quando servida n'um copo lagoinha,
Que meio sujo de pinga descaminha
Conversa que começa atravessada.

Ser belo-horizontino --  enfim... -- ou nada!
Tem a ver com beber bem de noitinha
Enquanto a alvorada se avizinha
Esbranquiçando os céus da madrugada.

O vidro canelado nos rebrilha
Os olhos de insuspeita maravilha
Enquanto a mente gira e o mundo roda.

A cidade, silente, agora dorme.
E as luzes a revelam tão disforme
Que me perco em Drummond e a coisa toda!

Belo Horizonte - 22 05 1999

terça-feira, 3 de janeiro de 2017

O ARTEFACTO

O ARTEFACTO

Estima-se em cinquenta megatons
O poder explosivo d'essa bomba
Outra imensa cidade inteira tomba
Matando tanto os bem maus quanto os bons.

Tábula rasa faz de tantos dons,
Em paz de cemitério, não de pomba...
Quando um átomo com outro se tromba
E se propaga n'uma onda de sons.

Ao fim, um cogumelo gigantesco
Apresenta o espetáculo grotesco
Enquanto milhões deixam de existir...

Não há qualquer beleza n'isso tudo.
Apenas o silêncio deixa mudo
Se o Apocalipse agora se cumprir.

Belo Horizonte - 12 12 2000

segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

SALVO-CONDUTO

SALVO-CONDUTO

-- “E agora?” -- Eu te pergunto e me pergunto...
Ir em frente parece dar em nada!
E embora atrás não haja mais estrada,
Acabo, andando em círculos, consunto.

Os vestígios e indícios que ora ajunto
Ao longo de tão longa caminhada
São para quando e se ao findar jornada
Ter da história mais factos do que assunto.

Documento meus passos pela terra
Enquanto eu atravesso em meio à guerra
As duas frentes d'uma só batalha.

Se traição é questão tão-só de datas,
Na vitória há mais dores que bravatas
Tomadas das memórias d’um canalha.

Betim - 13 02 2000

domingo, 1 de janeiro de 2017

CONTAGEM REGRESSIVA

CONTAGEM REGRESSIVA

... sete, seis, cinco, quatro, três, dois, um:
O Terceiro Milênio se inicia...
Há anos na esperança d'este dia,
Que se tornou até lugar-comum!...

Quando se adiava para dois mil e um
Toda a felicidade e fantasia,
O que realmente então se pretendia
É não ter compromisso mais nenhum.

Dia que não havia-de chegar,
O sol d'esta manhã nada especial
Se nos parece quase espiritual.

Isto que aqui-agora tem lugar
Nos faz o azul do céu tão mais profundo
Depois de que inavido o fim do mundo

Betim - 31 12 2000

TOQUE D'ANGOLA

TOQUE D'ANGOLA

Cadencia, mestre, o berimbau
E chama o povo p'ra jogar capoeira!
Mas manda abrir a roda de maneira
A melhor se medir o bom e o mau.

Arame de aço mais vara de pau,
Que, já tensos n'um arco de madeira,
Ressoam a cabaça à tarde inteira
Com vareta e dobrão de dar o grau.

Chacoalha em tua mão o caxixi
Que ritma toda a ginga na negaça
Quando avança e recua com mais graça.

Floreia o mortal, caindo sobre si...
A seguir tua lenta percussão,
Batendo compassado o coração.

Betim - 09 08 2002