Com a eleição do ex-militar Jair Bolsonaro à Presidência da República, o povo brasileiro passa a conviver novamente com o risco d’um regime autoritário. Pela primeira vez desde a Redemocratização, um governo está sendo composto com generais do Exército e notórios membros do Judiciário, sinalizando para a população um claro divórcio com as classes políticas tradicionais e os movimentos sociais. Ademais, o homem público Bolsonaro se celebrizou declarando, entre outras coisas, a necessidade de grandes mudanças na sociedade mediante o fechamento do Congresso além do elogio ao Período Militar. O quanto esse estado de coisas representa enquanto risco ao processo democrático será visto ao longo dos próximos anos.
Muito tem se discutido nos últimos dias sobre o sentido de ser ou não ser RESISTÊNCIA. Embora o discurso de alguns veja n’essa movimentação o choro de maus perdedores, não são poucos os que observam com preocupação o desenrolar dos fatos. Não se trata apenas o trauma de se perder eleições maculadas com práticas de caixa-dois e manipulação de ambientes virtuais, mas antes a perplexidade diante da agenda conservadora e mesmo superficial que tem sido apresentada à opinião pública. Fala-se em RESISTÊNCIA como forma de demonstrar a insatisfação das minorias que se sentem desrespeitadas e ameaçadas pelas manifestações diárias de ódio e indiferença que se presencia. É RESISTÊNCIA, ainda, a palavra que orienta a reação ao discurso que criminaliza o ativismo de direitos humanos e de justiça social. De fato, o que se percebe no governo em formação é pressa em impor mudanças controversas nas políticas públicas de desarmamento, adolescência, acesso ao aborto legal e segurança pública enquanto as grandes questões econômicas como a privatização de estatais estratégicas e os marcos regulatórios da mineração e do agronegócio são guardados a sete chaves. Em termos gerais, a população se dá conta aos poucos que entregou um cheque em branco a um desconhecido sem muito compromisso com suas reais necessidades. Evidente que sua paciência será curta e as pesquisas de opinião tendem a manifestá-lo com a eventual manutenção da crise econômica e desemprego nos próximos seis meses.
Todavia, esse não é um governo normal. Acertar ou errar em políticas públicas jamais deveria pôr em risco a ordem institucional, o que, aliás, não concorda com as linhas de pensamento já defendidas por esses que agora nos governam. Não se trata apenas de bravatas infelizes contra nosso parlamento ou nosso supremo tribunal. Trata-se d’um modo de se fazer política ao qual nos desacostumamos, isto é, à sombra dos fuzis. Com efeito, às dificuldades normais de se compor maiorias no Congresso vêm se somar a falta de habilidade ou mesmo vontade de negociação que Bolsonaro e os seus têm demonstrado. Além do quê, jamais se deve esquecer quem é o seu vice e como se já impuseram pela força n'um passado recente aqueles que o cercam. Corremos o risco de assistir o futuro governo apagando incêndios com inflamáveis até incendiar o país para que os bombeiros de verde oliva se sintam obrigados a agir... Ser RESISTÊNCIA hoje, mais do que nunca, é defender uma democracia que se encolhe diante de ameaças reais. Urge-nos inteligência e sensibilidade para denunciar sistematicamente as mentiras e contradições dos discursos autoritários, sempre buscando enxergar n’um horizonte mais amplo para onde os manipuladores de plantão pretendem levar a opinião pública.
É isso.
Betim – 06 11 2018
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