domingo, 11 de novembro de 2018

O CORONEL

O CORONEL

-- "É, menino, eu já fui homem 
Duro e acostumado ao mando!
Mas o tempo foi passando
E as certezas todas somem
Aos meus olhos vez em quando."

"Sou um homem vivido.
Conheci belas mulheres
E amoleci nos quereres
De ter sido bem querido
Após muitos malmequeres..."

"Em casa eu tinha uma dona
E filhos que nem escada.
Fora, fazia pousada
N'algum quarto lá na zona
Ou junto a mulher casada."

"Embora morasse na roça,
Pus outra casa na rua
Aonde fosse sob a lua
Visitar formosa moça
E deitar em cama sua."

"Por teúda e manteúda,
Passava o tempo sozinha,
Dizendo-se toda minha...
Já perfumada e desnuda
Quando avisava que vinha."

"Nova, era a minha pequena
Seus beijos, gotas de mel...
Seus olhos, límpido céu...
Seu peito, olor d'açucena...
Seu colo, um nobre pitéu!..."

"A velha em casa notava:
-- "'Tanto apuro no vestir...
Por que sempre um ir e vir?
Por que tanto pernoitava?
Chegava e tornava a sair!"'. --

"Nunca me dizia nada
Mesmo sabendo de tudo...
Entra calado e sai mudo
Quem tem a culpa estampada
Em pleno olhar, sobretudo."

"Vivi, desavergonhado,
Por anos e anos assim.
Até que a pequena enfim
Partiu para outro estado,
Como fugisse de mim:"

"Topei co'a casa vazia...
Não deixou nem um bilhete.
Das roupas, nem alfinete!
Nada mais na sala havia,
Senão poeira no tapete."

"Voltei p'ra roça humilhado,
Sempre a esconder meus ais
De minha dona e os demais...
Hoje, esquecendo o passado,
Na rua eu não volto mais!

Betim - 10 11 2018

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