BACANÁLIA
-- "Evoé, filhas de Baco! Vós que haveis
Dos mistérios do vinho as sábias leis;
E do êxtase divino!
Sede afinal bem-vindas! Adentrai
A ensinar-nos o poder de vosso pai
Sobre os vãos do Destino."
"Alegrai-vos e alegrai-nos, todavia,
Antes que nos retorne a luz do dia
A revelar excessos.
Concedei, embriagadas de luxúria,
Vossas bocetas húmidas em fúria
A devassos confessos!"
"À maneira de ninfas seminuas,
Vinde nos receber carícias cruas
De cada rude mão.
Visto que, indiferente de quem toca,
Sabeis por fim deixar de boca em boca
Do Deus Baco a ilusão."
"Entretidas também com nossos sexos,
Vêm deixar-nos malucos e perplexos
Vossas habilidades:
Deveras, com total desembaraço
Levais um após outro pelo braço,
Tomando liberdades..."
"Depois de saudação tão eloquente
A vós me apresento tão-somente
Como vosso anfitrião.
Vós-outros, companheiros de gandaia,
Peço antes que das belas cada alfaia
Vede se sim ou não."
"Com efeito, aqui mandam as bacantes!
Elas conduzirão, por delirantes,
As artes do prazer.
Aquele que as ferir ou molestar,
O quanto antes nos deixe este lugar
E após vá se foder!"
"Elas, o que quiserem faço lei.
Pois d'elas sou escravo, nunca rei,
Durante esse festim.
Em honra do grã-deus que em vinho adoro
A vós, Filhas de Baco, eu vos imploro,
Que reineis sobre mim..."
"Trazei para estes prados os delírios
Em procissão d'archotes e de círios
Por sob a lua plena.
Em pele de pantera ou de tigresa,
Às forças seminais da Natureza
Buscai na noite amena."
"Coroadas de grinaldas d'heras verdes,
Sois rainhas a fazer o que quiserdes
N'essas lides d'amor.
Tirso em punho, ordenai a bebedeira
Jorrando o doce sumo da videira
A nos dar mais ardor."
"Mênades desejosas! Sabei qu'eu
Não quedo lamuriento feito Orfeu,
Embora também poete.
Vinde me devorar, mas de prazeres.
Gozando de meu ser, lindas mulheres,
Em singular banquete!"
"Cultoras devotíssimas de Priapo,
Eis em plena ereção o membro guapo
A vos servir de gozo.
Levai-o a conhecer as vossas grutas
Remediando-me em fodas dissolutas
O tédio venenoso."
"Ide e fodei com quem mais vos apraz
Quer seja rapariga; quer rapaz,
Até cairdes saciadas.
Assim, toda a verdade que há no vinho
Se revele por fim no desalinho
Das bocetas sagradas."
Betim - 28 11 2018
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