EM FLOR
Se, por bela, digna de amor,
Quão amada não seria ela?
Tantos dons têm em seu favor
Que para amá-la basta vê-la...
Se tão amada quanto bela,
Ei-la aqui: Rapariga em flor!
Quão amada não seria ela
Se, por bela, digna de amor?
Se tão jovem em seu pudor,
Toda a beleza se revela
Luz em meus olhos de amador.!
Quão amada não seria ela
Se, por bela, digna de amor?
Betim - 29 08 2020
Espaço para exibição e armazenamento de poemas à medida que os vou escrevendo. Espero contar com o comentário de leitores atentos e gente com sensibilidade poética por acreditar que o poema acabado não precisa ser o fim de uma experiência, sim o início de um diálogo.
domingo, 30 de agosto de 2020
EM FLOR
sábado, 29 de agosto de 2020
O PORTA-VOZ
O PORTA-VOZ
Em nome de elevado senhorio
Eu falo para as turbas rumorosas.
Procuro certo tom a certas prosas
Com um semblante grave e até sombrio.
Impassível, eu narro o desvario
Do soberano às cãs cerimoniosas
De aristocratas mais suas esposas,
Ainda que pondo as leis sob arrepio.
Ao calar os demais ao seu comando,
As suas ordens dá de vez em quando
Minha voz em lugar de sua voz.
Temo a perder de vez de tanto dá-la
Àquele que de seu lugar de fala
Fala por mim para todos nós...!
Belo Horizonte - 28 08 2020
DESVIOS
DESVIOS
Esconso face ao esquadro da moral,
Meus passos se desviam dos de Deus...
Ao largo de mais crédulos e ateus,
Continuo a ignorar qualquer sinal.
Contudo, para além do bem e o mal,
À retidão, por fim, eu dei adeus:
Deixo inteiro o Reino para os seus
E sigo alguma via marginal.
Deveras, tais veredas pedregosas
Derivam das estradas venturosas
Por onde trafegaram os mais justos.
N'elas tenho buscado outras verdades,
E, ainda que através das soledades,
Escolho palmilhar entre os arbustos.
Betim - 27 08 2020
sexta-feira, 28 de agosto de 2020
SEM ESPERANÇAS
SEM ESPERANÇAS
Não. Não nos demos falsas esperanças
D'um futuro melhor ou simplesmente
De tempos mais felizes que o presente...
Deixemos no passado as vãs lembranças.
Vamos... Sem quaisquer outras confianças,
Senão a de que somos tão-somente
Pessoas que caminham para frente,
Sem olhar para trás n'essas andanças.
Avaros como soem os mais sensatos,
Tenhamos um pelo outro cerimônias.
Sempre a certa distância; sem contatos.
E, por linhas tão tortas quanto errôneas,
O acaso nos condene como ingratos
Às solidões de inóspitas colônias!
Betim - 28 08 2020
terça-feira, 25 de agosto de 2020
RECORTE INÚTIL
RECORTE INÚTIL
A parte que me falta me completa,
Por ter sido, afinal, farto recorte.
O talho que sofri não foi de morte
Mas me levou a parte mais dileta.
De facto o coração se fez asceta;
Incapaz de entregar-se à própria sorte.
E, embora recordar pouco conforte,
Reavê-la permanece sua meta.
A parte que cortei de minha vida
Deixou-me essa dor lúcida, incontida,
Como se a me chamar do fim do mundo.
Visto perdida d'um quebra-cabeça
Restara justamente aquela peça:
Longe, um recorte inútil, vagabundo...
Betim - 22 08 2020
domingo, 23 de agosto de 2020
NONAGENÁRIO
NONAGENÁRIO
Espero morrer quando já for tarde
E a angústia de viver ter me deixado.
Sem futuro, presente nem passado,
Existir sem fazer qualquer alarde.
Dos moços e da fúria que lhes arde
Sorrir condescendente e aparvalhado,
Como apenas um velho desbocado,
De quem ninguém enfim mais nada aguarde.
Feliz tão-só em ver a luz do dia
Encontre entre a loucura e a fantasia
Um verso que sequer possa escrever.
E diante do espetáculo da vida
Entenda a vanidade já vivida
N'uma autoaceitação só de prazer.
Betim - 23 08 2020.
quarta-feira, 19 de agosto de 2020
DEALBAR
DEALBAR
Antes que o sol nascesse vim aqui
Em meio à claridade omnipresente
A ter quanto do mundo se apresente
Diante da serração, ampla por si.
Eu, sem eira nem beira, pareci
Evanescer em meio às névoas rente
Ao céu que s'estendia tão-somente
Para além do que longe amanheci.
Ao caminhar por linhas de cumeada,
Buscando versos vãos, de afogadilho,
Atravesse do alvor o claro brilho!
Rico em minha miséria de andarilho
Contemple eu na brancura ensimesmada
O vazio absoluto que há no nada.
Betim - 19 08 2020
terça-feira, 18 de agosto de 2020
HOMEM AO MAR
HOMEM AO MAR
Imprudência ou coragem? O que leva
De novo o homem ao mar sem perceber
Que volta para o mar para morrer
Ou viver a um mergulho para a treva?
O que poderá o homem? O que o eleva
De novo pela gávea a longe ver
O oceano que atravessa para ter
A sua vida imensa, não longeva?
Aquele que no mar se desconcentra
E cansa... Morre quem vai para o mar
E desafia as ondas nas quais entra.
Morre ao mar não quem não sabe nadar,
Sim quem o navegando mais adentra.
Morre ao mar quem não teme se afogar.
Vila Velha - 09 06 2011
segunda-feira, 17 de agosto de 2020
UIARA
UIARA
No fundo da lagoa ela s'esconde
À espera do guerreiro cuja morte
Faz mais doce entre cânticos, de sorte
Que a siga sem saber sequer aonde.
Àquela voz nas águas mais responde
Com juras desvairadas, pois, o forte
Deseja tão-somente que o conforte
Sua mirada sem quando nem onde...
São olhos claros qu'ele, mergulhando,
Pelas águas escuras vai buscando
Em seu corpo desnudo de mulher.
Enquanto o faz descer mais e mais fundo,
Ela o guia através d'aquele mundo
Que há debaixo d'água a quem a ver.
Belo Horizonte -14 02 1994
domingo, 16 de agosto de 2020
CIRCA DIEM
CIRCA DIEM
Abro os olhos e vejo o novo dia
Por súbito clarão chamando à vida,
Que em manhãs neblinadas me convida
Para novas promessas de alegria.
Às nove horas desando, todavia,
Em luta n'uma angústia mal contida:
Co'a minha própria sombra recolhida
Tiro o prumo do sol ao meio-dia!...
Mais tarde, modorrento silêncio
As libidos vorazes de meu cio,
Enquanto suo em mangas de camisa.
À noite, finalmente tomo um trago
E deixo estar o mundo, pois m'embriago
Tendo de chuva perto a leve brisa
Betim - 15 08 2020
sábado, 15 de agosto de 2020
ELA VEM NA ESTRADA
ELA VEM NA ESTRADA
Olha lá, vem vindo! Ela vem na estrada...
Longe, longe, ela vem... Como se fosse
Uma miragem vã que o sol me trouxe
Na linha do horizonte à madrugada.
Ela vem como um astro na alvorada
E, em forma de mulher, amor tornou-se.
Quando sei entre todas tão mais doce
Aquela para mim predestinada.
Ela vem. Vem fazendo-se anunciar
No arpejo que um arcanjo ousou tocar.
Aquela que por toda a vida clamo.
Eu sei que nunca mais serei o mesmo;
Eu sei que nunca mais seguirei a esmo.
Na estrada, a Amada, ela vem. E eu a amo.
Betim - 15 05 1995
quinta-feira, 13 de agosto de 2020
SEMIANALFABETO
SEMIANALFABETO
Cuspiu no chão. Chamou-me de macaco
E depois "filho d'uma favelada!"!!!
Disse ainda que nunca vou ser nada…
Que o invejo a vida e vivo n'um barraco!
Olhei nos seus olhos: Algo opaco,
Espelhando, porém, minha mirada.
Onde as letras por fim -- fava contada --
A distinguir o forte do mais fraco.
Pois semianalfabeto, segundo ele,
Eu merecia andar entre os esgotos,
Sem leitura sequer para o servir.
E, apontando-se a cor de sua pele,
Fazia ver por trás dos perdigotos
A extrema diferença do existir.
Betim - 08 08 2020
sábado, 8 de agosto de 2020
EM CÍRCULOS
EM CÍRCULOS
Não há progresso; apenas movimento...
Um peão girando em torno ao próprio fuso
Começa a cambalear, tonto e confuso,
Até cair por si só sobre o cimento.
Nada melhora. Nem por um momento.
A vida é dar-se voltas conforme o uso
E aplacar com torpor o mal difuso,
Enquanto se olha o próprio esquecimento.
Ando em círculos e olho para frente:
Há passado e futuro no presente
Que a cada volta volta a se repetir.
Hoje, ontem, amanhã... Depois, talvez...
Continuar é ver tudo uma outra vez
Até -- tal como o peão -- apenas cair.
Betim - 08 08 2020