MALUNGO (no mesmo barco)
Tu, que também viveste o qu'eu vivi
Em meio à estupidez quase absoluta,
Viste que a resistência ainda é luta!
Por isso que contigo resisti...
Mal-vindos desde Angola até aqui,
A única boa nova que s'escuta
É a que lhes perdoa a má conduta,
Enquanto escravizava a mim e a ti.
Malungo, meu irmão de travessia.
Coetâneo da desgraça inenarrável,
Sabes a liberdade já tardia.
Contudo, forçoso é sobreviver
Inobstante o que venha acontecer,
Fazendo a vida mesma memorável.
Betim - 19 04 1995
Espaço para exibição e armazenamento de poemas à medida que os vou escrevendo. Espero contar com o comentário de leitores atentos e gente com sensibilidade poética por acreditar que o poema acabado não precisa ser o fim de uma experiência, sim o início de um diálogo.
terça-feira, 30 de junho de 2020
MALUNGO (no mesmo barco)
segunda-feira, 29 de junho de 2020
GAIATO
PALEOCRISTÃ
MIASMAS
Por mundo afora pelos cais oblongos,
Febre amarela, dengue e até malária.
sexta-feira, 26 de junho de 2020
MARTÍRIOS
quarta-feira, 24 de junho de 2020
ANEURISMAS
terça-feira, 23 de junho de 2020
REENCONTRO
domingo, 21 de junho de 2020
LANÇA-CHAMAS
INCONFIDÊNCIAS
sábado, 20 de junho de 2020
FEITO DOIDO
sexta-feira, 19 de junho de 2020
É, UÉ!
quinta-feira, 18 de junho de 2020
TABUADA
quarta-feira, 17 de junho de 2020
MUTATIS MUTANDIS
MÁQUINA DE FAZER DOIDOS
segunda-feira, 15 de junho de 2020
YBY MARÂ-E’YMA
domingo, 14 de junho de 2020
O INUSITADO
TUTA-E-MEIA
sábado, 13 de junho de 2020
VIUVEZ
sexta-feira, 12 de junho de 2020
ENAMORADOS
terça-feira, 9 de junho de 2020
HORAS MORTAS
segunda-feira, 8 de junho de 2020
RESSACA
ÁGUAS SERVIDAS
EM BANHO, MARIA
domingo, 7 de junho de 2020
UM CORPO HUMANO
UM CORPO HUMANO
1° ROUND
Eu sou um corpo humano levando porrada.
Um corpo, humano, se ferrando e envelhecendo.
O supercílio cortado jorra sangue do olho inchado,
borrando a visão do que me cerca,
enquanto resisto em pé, trocando as pernas.
Abraço o adversário e o empurro contra as cordas,
mas o soco, de baixo para cima, não encaixa…
O gongo soa finalizando meu estupor.
2° ROUND
Eu tenho um grande plano, eu sei: Ficar de pé!
Tenho de me manter longe dos golpes; rodar o ringue.
Olho em seus punhos e traquejo… Nunca se sabe
D’onde vem a próxima porrada.
Ataca. Recua, Avança, Defende, Guarda posta.
E respiro, respiro, respiro, respiro…
O gongo soa sem me dar por conta:
Desabo no tamborete do canto.
3° ROUND
Agora ele vem, como uma máquina, ele vem.
Troca golpes como se de aço os punhos…
Acto contínuo, gingo e golpeio, mas apanho.
O corpo que sou fala em minha mente: Basta!
No entanto, é a ausência de consciência que me derruba
Quando um golpe d’ele, afinal, encaixa.
D’um instante para o outro, estou no chão. Abrem contagem.
Ponho-me de pé, assustado.
Ele me estuda o estrago e sorri.
4° ROUND
De repente, não estou no ringue com o outro: É o Fado!
Que troca socos comigo e me derruba.
Brinca com minha estratégia de saco de pancadas e me cansa
Como se eu fosse um gatinho em suas mãos poderosas.
Está lá, ameaçador, a cada instante
Cioso de ter nas mãos o golpe fatal.
Espera, sabe-se lá porquê, o tempo propício
Para me levar à lona outra vez. Nem disfarça mais
A força que exibe face a meus passos.
O gongo bandala e ele me olha, adversário.
5° ROUND
Pedem-me para jogar a toalha. Eu lhes pergunto:
— “Que diferença faz?!”
Sou algo físico! Um ser físico! Um corpo humano!
Levanto minhas carnes. Cambaleio no vazio.
O outro saboreia minha caminhada sem prumo…
Assim o Fado: Desgasta-nos. Pune-nos. Surpreende-nos.
N’um combate desigual, pois, não morre ele.
Ele me atravessa, incólume, a existência.
Nada do qu’eu faça o alcança.
Nada o diminui ou afasta.
Ele joga comigo, titereiro alegre, a seu bel prazer.
Até que se canse e me aniquile:
Na lona, outra vez, para não levantar!
Temos um vencedor.
Betim — 07 06 2020