domingo, 19 de abril de 2020

ADÁGIO

ADÁGIO

Do que s’escreve nunca se abra a boca,
Embora pela boca a frase dita
Não cale a dor do peito, apenas grita.
Seja sua desdita muita ou pouca… 

Palavra dita ao léu, um tanto louca,
Como a poesia sobre a linha escrita:
Revisitada a ponto de infinita,
Me aflige na garganta quase rouca.

Algo será poesia ao dizer tudo,
Se, e somente se, for dito sincero,
E por sincero digam ser absurdo. 

Procuro ouro na lama em que chafurdo:
Seja poesia o adágio alheio ou mero
Grito dado no ouvido do pior surdo!

Gov. Valadares — 19 09 1995

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