domingo, 12 de abril de 2020

SOPA DE OSSOS

SOPA DE OSSOS

D'olhos abertos veria aqui estar
Outra verdade além impercebida,
Ao invés de contemplar-me sem-saída,
Havendo em vista os outros do lugar:

São hoje companheiros de manjar,
Que têm na sopa de ossos sobrevida…
Em derredor do lume sendo servida,
Àqueles que se aquecem sob o luar…

Mas súbito sucumbo à metafísica,
Desanuviam-se as faces macilentas...
Carnes dadas a vermes pela tísica...!

Abandonado a um canto, eu olho e vejo:
Como se sombras mesmo nevoentas,
Dos morituros o último desejo!

Betim - 20 10 1999

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