Espaço para exibição e armazenamento de poemas à medida que os vou escrevendo. Espero contar com o comentário de leitores atentos e gente com sensibilidade poética por acreditar que o poema acabado não precisa ser o fim de uma experiência, sim o início de um diálogo.
terça-feira, 27 de dezembro de 2016
O MONGE E A SERPENTE
segunda-feira, 26 de dezembro de 2016
NO DIA DE SÃO NUNCA
NO DIA DE SÃO NUNCA
Ausente do corrente calendário,
Eis o dia que não há-de chegar!
Embora sem qualquer tempo ou lugar,
Ao findar todo extremo temerário.
Jogava para o Olvido incerto e vário
A obrigação difícil de se honrar,
Bem como a meta inviável de alcançar
E ainda assim nos ronda o imaginário.
São Nunca -- bom padroeiro dos tardios --
Postergai nossas dívidas e dúvidas
Diante de carrancudos tão sombrios.
Indefinidamente, o vosso dia
Seque as lagrimas sobre as íris úvidas
D’aquele que não nega, só adia...
Betim - 01 11 2003
A MALTA
Bebendo n'uma sórdida espelunca...
Divertem-se co'a tal polaca adunca,
Cujos culotes são extraordinários!...
"Em canoa furada não se junca..."
Pois, livres -- antes tarde do que nunca! --
Se entregam ao instinto perdulário.
Descem a este inferninho de prazeres
Como lobos famintos rumo à caça.
Em meio a mais patética alegria,
Lhes faz rir de qualquer outra desgraça.
LACÔNICO
LACÔNICO
Se mais tenho a dizer, menos eu falo,
Respondo tudo assim monossilábico...
E perco longe os olhos qual estrábico
Para não te encarar quando me calo.
Baixo a cabeça feito algum vassalo,
Cuja rainha, em olhar febril e rábico,
Me transporta do céu sétimo arábico
A este lugar de limbo; de intervalo...
Mas o pouco que falo, muito diz
E o silêncio que faço me é gritante
Do que cá me faria mais feliz.
Falo e calo d'amor quando bem diante
Dos olhos que nem sei se vãos ou vis
Me veem falar calado a cada instante.
Belo Horizonte - 18 12 2005
domingo, 25 de dezembro de 2016
NATAL DE JESUS
NATAL DE JESUS
Três sábios seguem uma estrela nova...
Vêm d'Oriente e atravessam o deserto.
Chegam a Belém co'o designo certo
De ver o filho de Davi: --“Boa Nova!
“Nasceu Jesus, o ungido!!! Deus renova
Sua aliança... Eis a nós o céu aberto!
Jaz o menino entre as palhas desperto...
Acalme-se o mar! Um monte se mova!...”
Há dois mil anos contam essa história,
No regozijo d’uma Humanidade
Que o divino reveste então de glória.
Pois celebram os homens, em verdade,
No solstício com seu mistério antigo,
A alegria de ter Jesus consigo.
Betim - 24 12 2008
O FIM DOS TEMPOS
O FIM DOS TEMPOS
Andando taciturno pela rua,
Passou despercebido dos demais.
Talvez as vozes nem fossem reais
Tanto quanto a visão da última lua.
Sem embargo, para o alto continua
E, em face do que chama de sinais
Do avanço das potências infernais,
Proclama a profecia extrema sua:
-- "É hora: O fim dos tempos se aproxima...
Uma a uma já se cumprem as
promessas!
Volvei os vossos olhos para cima!..."
"Obscurecido por nuvens espessas,
O sol agora dança logo acima
Até o céu nos cair sobre as cabeças."
Belo Horizonte - 09 09 1999
sábado, 24 de dezembro de 2016
MNEMÔNICA
MNEMÔNICA
De aliterações, rimas e assonâncias
A mente liga pontos e faz pontes,
Que há séculos e séculos são fontes
Para poetas contarem suas ânsias.
Assim, as milimétricas distâncias
Que por entre neurônios alguém conte
Nos têm a imensidão d'um horizonte
Após nos registrar tantas errâncias...
Espaço-tempo em si, nossas memórias
Parecem nos contar outras histórias
À medida que os anos têm passado.
Sem embargo, há-de ser a oralidade
Capaz de nos dizer toda a verdade
N'um verso febrilmente declamado.
Belo Horizonte - 25 01 2002
sexta-feira, 23 de dezembro de 2016
ORÁCULOS
ORÁCULOS
Segreda às pedras tuas sós verdades,
Enquanto a lua apenas acontece...
Ou senão a poesia -- oferta e prece --
Revelará dos deuses as vontades.
Não obstante, entre enigmas e obviedades,
Hás-de contar somente algo que expresse
O destino que todo homem padece
Iludido com suas liberdades.
Tu, sacerdotisa do profundo,
Assentada no umbigo d'este mundo
Poetizas os desastres do porvir.
De vapores por fim entorpecida,
Teus versos profetizam morte e vida
Dos quais tantos em vão tentam fugir...
Belo Horizonte - 06 07 2002
A MANHÃ DE AMANHÃ
A MANHÃ DE AMANHÃ
Em meio às sombras de hoje eu me deito
À espera já das luzes de amanhã.
Sono e sonho engano por mal-sã
A angústia que ora agita cá meu peito.
Eu passo a noite em claro d'esse jeito,
Co'as horas indo ao encontro da manhã...
Embora saiba ser tamanho afã
De novo pelo amor mais-que-perfeito...
Não que me negue um só conhecedor
Da noite mais escura, todavia,
Vigílio a surpreender mais cedo o dia.
E tudo na esperança d'este amor,
Que a noite me proíbe -- longa já... --
E a manhã de amanhã enfim trará.
Belo Horizonte - 12 12 2005
quinta-feira, 22 de dezembro de 2016
QUIPROQUÓ
QUIPROQUÓ
Pois é... Há quem troque isto por aquilo,
Fazendo tempestade em copo d'água.
Turbilhão d'emoções ardem em frágua
Na vigília do espírito intranquilo!...
É fácil ver maldade n'um vacilo
Quem tem o coração já cheio de mágoa.
Após, em turvo rio ele deságua
E rompe igual barragem seu sigilo.
Ao se pressupor culpa, cai por terra
A ideia de que o inocente também erra,
Pois deve ser punido mesmo assim.
Quanto mais se defende, mais se acusa
Qualquer coitado diante da confusa,
Que julga em tudo sempre algo de ruim.
Betim – 19 12 2003
CODICILO
CODICILO
Pelo presente escrito a próprio punho
E com pleno poder das faculdades
Expresso as minhas últimas vontades
Com qu'eu, à morte, dou meu testemunho.
Deste modo, nos idos já de junho
Me vi sem esperanças nem verdades
Dispor do meu a alheias necessidades
Ao dar-me fé a tal póstumo cunho:
Minha mobília e roupas, podem doar
Meus anéis meu enterro hão-de pagar
Tão pouco me serviram quando vivo...
Meus versos, deixo a quem os souber ler
Mais os livros escritos sem saber
De vida e obra, por fim, qualquer motivo.
Contagem - 03 06 2004
DIATRIBES
DIATRIBES
Fala sem parar sem saber que diz.
Ofende, agride, grita, xinga, acusa,
Ironiza, especula, zoa, abusa...
E deita a falação com nomes vis...
Chegavam a ter dó d'este infeliz,
Apenas em silêncio face à obtusa
Pessoa que há horas se recusa
A entender os motivos do qu'eu quis.
Quando as palavras são para ferir,
Ter razão ou não muito pouco importa...
Quer-se antes fazer o outro desistir!
Amor só no papel é letra morta,
Pois, fala tudo e nada quer ouvir
Quem como o pior tirano se comporta.
Betim - 12 02 2003
quarta-feira, 21 de dezembro de 2016
URGÊNCIAS
URGÊNCIAS
Não tardes mais, amada, a vir me ver!
Depois de tantos anos tão ausente,
Voltaste à minha vida de repente
Para me confundir e me envolver?!
Duas vezes mais triste há-de viver
Aquele que algum dia foi contente...
Pudera eu encontrar-te novamente
Por mais felicidade e mais prazer.
Senão, todos os dias d'oravante
Serão por lamentar aquele instante
No qual me interrompeste a soledade:
Antes eu não sentia a tua falta;
Agora, teu sorriso aos olhos salta
N'um afã de esperança e de saudade.
Belo Horizonte – 30 12 2005
terça-feira, 20 de dezembro de 2016
PAPO D'ALCOVA
PAPO D'ALCOVA
Vem!... Vamos fazer um amor gostoso?
Agora-aqui, juntinhos, eu e tu...
Deixa-me te admirar o corpo nu
Enquanto já me pedes outro gozo.
Mas meu corpo de ti tão desejoso
Faz te querer d'um jeito um tanto cru
Que te vira e revira igual lundu
E se derrete ao teu olhar dengoso...
Corpo de mulher; rosto de menina...
Hás-de drenar-me a seiva masculina
Até eu me perder dentro de ti.
Recebe meu prazer por teu prazer
E aceita o que melhor te parecer!
Juntinhos, eu e tu, agora-aqui.
Belo Horizonte - 12 12 2005
SUÇUARANA
SUÇUARANA
O cachorro latiu. Passou alguém?
Não vi nada e ninguém na madrugada
Andar de fronte à casa pela estrada.
Quer fosse alma d'aquém ou alma d'além.
O latido era forte e alto, porém.
Fiquei a imaginar qualquer maçada:
Um paisano a pedir aqui pousada
Ou parente querendo algum vintém...
Lá fora estava um breu; noite sem lua.
Rebuliço de reses no curral
E algum vulto a cruzar todo o quintal.
Onça parda azulou na pedra nua,
Salpicando de sangue toda terra
Depois de molestar uma bezerra.
Sobrália - 07 07 2003
RAIO DE SOL
RAIO DE SOL
O pó que se acumula na mobília
Captura a luz na fresta da janela.
São milhões de corpúsculos aquela
Réstia a luzir tal-qual dourada trilha.
Percebo a rarefeita maravilha
Em fluidificada luz então mais bela,
Que lento movimento se revela
A olhos semicerrados em vigília.
A janela d'uma única bandeira
Deixava o sol entrar no quarto escuro
Espremido por tábuas de madeira.
Parecia o sol raiar assim mais puro
Como quisesse já d'essa maneira
Me dar toda a alegria que procuro.
Inhapim - 12 09 2002
segunda-feira, 19 de dezembro de 2016
AUTÊNTICO
AUTÊNTICO
Valeu a pena ou não eu desistir?
Sou um infeliz menos infeliz...
Pois é: Já não lamento o bem que fiz
Ou tampouco o mal que me há-de vir.
Decidi de mim mesmo me despir
Para que, sem mais máscaras ou ardis,
Enfim pudesse ser tudo o que quis
Antes qu'eu acabasse de explodir.
Não quero ser melhor; quero só ser
Se a vida ao meu redor acontecer,
É qu'eu me permiti erros e acertos.
Gostem ou não de mim, sou o que sou.
A verdade é que sei aonde vou
Depois que em vão vaguei pelos desertos.
Betim - 10 12 2004
ADEUS
ADEUS
Toma a tua paixão e a tua alegria
E deixa que amanheça sobre ti.
Não há mais lugar para ira aqui
Agora que nos nasce um novo dia.
Madrugávamos sós já sem poesia...
No fim, nenhum de nós sequer sorri!
Sinto muito se em vão te aborreci:
Apenas quis uma outra fantasia.
Dúbios ou não, meus olhos trás-as-lentes
Te veem e te respeitam muito embora
A incompreensão que tens de mim agora.
Nem melhores nem piores: Diferentes.
Eu não te quero mal; não quero nada...
Segue na paz de Deus a tua estrada.
Betim - 20 03 2003
BÚSSOLAS
BÚSSOLAS
O que norteia a agulha nos norteia
Também a nós por essa imensa esfera,
Cujo campo magnético, a Ionosfera,
Há quem perceba como uma cadeia.
Dizem que até o sangue pela veia
Lhe sente a direção na qual impera.
Mas seja isso razão; seja quimera,
Algo que homem e Cosmo intermedeia.
Guiados por um comando bem remoto,
Tudo é executado com certa ordem,
Ainda que o motivo seja ignoto...
Assim veem superar caos e desordem
Por corações e mentes em controlo,
Qual agulha que aponta sempre o polo!
Betim – 19 12 2004
domingo, 18 de dezembro de 2016
RUA DA BAHIA
RUA DA BAHIA
De coração partido e olhar perdido,
Os solitários homens pós-modernos
Se vão ensimesmados com seus ternos
Rua acima conquanto sem sentido.
Sabem o que podia a vida ter sido
Mirando aqueles olhos verdes ternos...
Porém, nem infinitos nem eternos
Seus amores correm para o Olvido.
Pois se tempo é dinheiro bem contado,
Não deve se quedar desalinhado,
Enquanto vão seguindo rumo ao topo.
Só hão-de reparar no próprio nada
Na saideira, já alta madrugada,
Pouco antes de virar o último copo.
Belo Horizonte - 08 09 2004
sábado, 17 de dezembro de 2016
RETROGOSTO
RETROGOSTO
O gosto que me fica pela boca
Depois de te beijar perdidamente
Ainda permanece em minha mente,
Embora entorpecida e já meio oca.
Tua língua se à minha língua toca
Parece ora agridoce; ora adstringente...
O que jamais me deixa indiferente,
Antes mais me vicia e me provoca.
Beijos que como um vinho capitoso
Eu degusto com máximo prazer,
Ainda que me embriague d'esse gozo.
Quisera enfim n'um hausto te sorver
E sentir teu desejo assim gostoso
Aos poucos pela boca ir se perder.
Betim - 11 11 2006
ÊXODO RURAL
ÊXODO RURAL
Lembro que no meu tempo de menino
Uns finórios chamavam-nos de jecas.
Isso como se eles lessem bibliotecas
E tivessem de vera um gosto fino.
Bem cedo eu saí da roça... Um desatino!
Entre cabeças ocas, gentes secas...
Um lugar do qual não sabia necas
A não ser que era então o meu destino.
Cidade grande? Não... Periferias!
Em terras de demandas, carestias,
Onde de novo fui diminuído...
Tem sempre alguém achando-se melhor
Pois considera quase sem valor
Tudo o que não puder ser possuído.
Betim - 03 06 2003
SOL D'ESTIO
SOL D'ESTIO
É lindo quando o céu se abre à tarde
Após dias de chuva ininterrupta.
Parece uma alegria quase abrupta
D'esse sol que, a dourar nuvens, luz e arde.
Quiçá uma beleza assim atarde
Àquela solidão que vem inupta.
Tal como a fala estúpida e incorrupta,
Que se vê na coragem do covarde.
Ou ainda possa ter que d'esta hora
Se faça etérea e lúcida experiência
Quando a Natura em cores comemora.
Incline-se, por fim, em reverência
Minh'alma emocionada, muito embora
Acompanhe eu d'um rei a decadência.
Betim - 16 12 2016
sexta-feira, 16 de dezembro de 2016
PARUSIA
PARUSIA
E então quando voltar o Redentor
-- Qual fora visto há quase dois mil anos --
Há-de nos renegar os desenganos,
Para após nos julgar tão-só no amor.
Quando Jesus voltar, seja como for,
Trará luz aos espíritos humanos
Em face dos pesares quotidianos,
A saber, fome, guerra, doença, dor...
...E esse grande vazio! Venha a Glória
Ante o anúncio da sétima trombeta,
E finde enfim dos povos toda a História!
Ou não... D’entre as palavras do profeta,
Talvez promessa cuja só memória
Sempre para o porvir mais nos projeta...
Ubatuba – 24 12 1999
A CRUZ PARTIDA
A CRUZ PARTIDA
"Jesus, lembra-te de mim, quando entrares no teu reinado"
-- o bom ladrão.
Virá como um ladrão -- pois, escondido --
E verá confundida a humanidade.
Porque um tempo de grande obscuridade,
Em que o povo s’encontra dividido.
Então mesmo o cristão está perdido,
Ao clamar o Seu Nome em inimizade.
Porém, justo por zelo da Verdade,
Têm n’ela o coração endurecido!
Por Cristo, cristãos têm guerreado um a um:
Olho por olho e irmão contra irmão,
Mesmo sem chegar a lugar algum.
Encontrará não mais que desunião...
N’aqueles que tinham tudo em comum
E há tempos não se veem em comunhão.
Belo Horizonte – 20 11 1994
DIAS DE QUARUPE
DIAS DE QUARUPE
É sol de sangue n'um pálido céu!
É tronco ornamentado preso ao chão!
É fazer memória! É celebração!...
É canto! É dança! É luta! É cor! Tropel!!!
... Há-que se nos pôr fim ao luto cruel
Em festa de reunir toda a nação.
Por deixar que nos fale ao coração
A alma que se despede do olhar fiel.
... Há-que se ter saudade sim. E, ainda,
Lembrar d’aquele a vida longa e linda
Que feito estrela pelo céu fulgura:
-- "Não lhe entristeça a nossa só tristeza,
Antes mantenha a chama sempre acesa,
A que nos seja luz na noite escura!"
Belo Horizonte – 06 05 1993
quinta-feira, 15 de dezembro de 2016
ASCENSÃO À ARUANDA
ASCENSÃO À ARUANDA
Na casa do Pai há muitas moradas,
E aqueles que na Glória têm vivido
Sabem que o amor impera sobre o Olvido,
Ao guiar o fiel por sete encruzilhadas.
Assim, ao se findarem as jornadas
D’este que agora cai desfalecido,
Verão o fiel, de tudo já despido,
S’elevar às alturas sublimadas!
Qualquer seja o destino dos finados,
Haverão-de deixar toda demanda,
Purgando-se do carma dos pecados.
Pois só na paz o espírito ainda anda
Até rever os Bem-aventurados
E habitar sob a luz santa de Aruanda.
Belo Horizonte – 02 11 1993
quarta-feira, 14 de dezembro de 2016
LUSA E BRASILEIRA
LUSA E BRASILEIRA
A lusa navega entre o tu e o você,
Cruzando todo o Atlântico: Alma e Oceano...
Mas maluca comete um ledo engano,
Pois, mameluca lá e cá se vê.
A lusa, sem que já saibam por quê,
S’enamora e amorena ano após ano.
Mestiça de ameríndio e de africano,
Eis-me a lusa cafuza n’um fuzuê!
De facto, uma mestiça mui preciosa:
Cor-de-cobre, descubro-a ainda presa
A seu jeito dengoso em tirar prosa.
Dos poetas a cantar sua beleza,
Sou mais um cuja pena caprichosa
Canta essa crioula língua portuguesa.
Belo Horizonte – 11 11 1991
FÁTUO
FÁTUO
Para de me chamar! Não vou voltar...
Pois é: O que ficou está guardado.
Eu tão-somente não me sinto amado
E aqui nunca foi mesmo o meu lugar.
Pode até ser que tenha de passar
Como atravessa um raio de lado a lado.
Fui o que pude ser, o mais é Fado:
-- “Só lamento...” -- Mas não chego a chorar.
Deixa estar qu’eu ainda serei luz
Nas pupilas de tantos olhos nus,
Ainda que tão-só por um segundo.
Assim, revelar-se-á na escuridão
Das sombras de teu vago coração
Esse amor tão imenso e tão profundo.
Betim – 15 12 2010
segunda-feira, 12 de dezembro de 2016
EM BREVE
EM BREVE
Dá tempo ao tempo tu que te anseias tanto
E te angustias pelo que virá...
Seja medo d'alguma coisa má;
Seja esperança d'outro grande encanto.
Não, não te desanimes por enquanto.
Antes vê n'este instante tudo que há-
De mais emocionante a fazer já
Um verso que te sirva de acalanto.
Deixa que se esvaziem as palavras
E espalha mais sementes pelas lavras
Do desolado solo de teu peito.
Logo logo estarás de novo em paz
Apenas co'o viés que o tempo traz
De sempre mudar tudo do seu jeito.
Betim - 12 12 2008
domingo, 11 de dezembro de 2016
EM SEU NONE
EM SEU NOME
Sim, como todos sabem, Deus é UM;
Mas também evocado como Alá...
Ou Adonai, Elohim, Javé, Jeová...
Por Senhor... Coroaci... Por Olurum...
Pois isso de crer em Deus é bem comum:
O Altíssimo Criador nos céus está
E, Omnipotente, tudo Ele nos dá
Mesmo sem termos mérito nenhum.
D'um modo ou d'outro, o mundo agora existe
E Deus, seja quem for, nos acompanha
N'essa fé a mover cada montanha...
Ignora-se se está feliz ou triste.
O facto é que em Seu Nome guerra e paz
Por séculos e séculos se faz.
Betim - 11 12 2009
sexta-feira, 9 de dezembro de 2016
MONUMENTÁLIA
MONUMENTÁLIA
Se os olhos viram já coisas demais,
Talvez a imensidão dos céus de Deus
Falasse um pouco mais aos olhos meus
Do que as cúpulas mais monumentais.
Ou as pedras de colunas colossais
Por onde vêm e vão os passos teus.
A balizar os mesmos pés plebeus
Distraída através de arcos triunfais...
Passo pela avenida secular
E contorno o obelisco grafitado
Enquanto assisto o tempo ali passar.
Ao largo, rememoro ‘inda o legado
D’aqueles que deixaram no lugar
Essa imensa presença do passado.
Belo Horizonte - 07 12 2008
A GENTE DA ROÇA
A GENTE DA ROÇA
Quando isso tudo aqui era sertão,
Uma cultura feita da Natura
Fazia a gente ver a vida dura
Como que a mais perfeita educação.
De facto, cá se aprende desde então
A não se carecer d'outra fartura
Que aquela que nos eitos se procura
E irrompe d'ouro verde em nosso chão.
A gente sabe que não sabe tudo...
Mas, mesmo sendo pouco o nosso estudo,
De atrevido rascunho alguns maus versos!...
Uma vez ou outra, a gente que é da roça
Se faz de cantador quase de troça
Para assuntar uns causos controversos...
Sobrália - 28 12 2009
quinta-feira, 8 de dezembro de 2016
GATA ANGORÁ
GATA ANGORÁ
Talvez tamborilasse uma angorá
Enquanto o sol ardia no telhado...
Imagino-a correr de lado a lado,
Mas sem saber de vera onde ela está.
Eu a escuto ora aqui; ora acolá,
Grunhir estranha e aflita o seu estado.
E ainda qu'eu me veja preocupado,
Aguardo tudo até ver no que dá.
Parece enfim que a gata se incomoda
Depois de circular a tarde toda
Bem leve e solta lá pela cumeeira.
Não tem jeito: Vou ter de pôr a escada!...
Só assim p'ra findar sua jornada
E resgatar a gata aventureira...
Betim - 07 12 2016
quarta-feira, 7 de dezembro de 2016
HAGIOGRAFIAS
Por tocar de cada um o coração.
Que, se não faz a cruz bom o cristão,
Um hábito tampouco faz o monge.
Quem fostes n’uma antiga escuridão.
Para que, exercitados na oração,
Esta às máculas d’alma lave e esponje.
Onde a misericórdia vos transborde
Desde o peito uma real felicidade.
Buscai com todos ter boa-vontade,
Fazendo-nos um mundo mais concorde.
II
Rasgas profundamente as minhas palmas
Mas mesmo assim, na dor após me acalmas,
Do que na solidão sempre me indagas.”
Caminho pelas trevas, mas me psalmas.
Pelas fadigas d’este mundo, às almas
Toda a luz que me deste não me apagas.
E visto sinal Teu, o acompanhei;
Vivendo-te a Paixão, eu renasci.
Um trovador de Deus me conheci:
Teu amor arde em mim, e eu te sonhei.
Tivera a sua língua incorrompida
Para mostrar na morte o que na vida
Fora d'hereges máquina de guerra.
Sua imagem por séculos querida
Do Menino-Jesus o fez guarida,
Como honra a quem ao lúcido se aferra.
Cá dos homens que às cegas buscam Deus
E se perdem p'lo mundo com os seus.
Aquele que na Glória luz em feixes,
Após pregar Jesus até aos peixes.
IV
santa Bárbara
Sob o clarão dos raios de tempestade...
Quando de súbito uma claridade
Bem perto do vivente se agiganta.
Que mal se lembrará da autoridade
D'essa virgem e mártir que, em verdade,
Mais pelo exemplo e fé há tanto encanta.
Enquanto os olhos têm fitos em Deus,
Elevam-se, por fumo, para os céus.
Vãs as invocações feitas a Zeus:
Os raios do Tonante vingam os réus!
são Sebastião
Que estais atado a ramos tão agrestes
Para dar testemunho de fé a estes
Cuja violência contam os profetas,
Livrai-nos enfim d'estas negras pestes;
Seja o niilismo ou tédio... Prometestes
Iluminar às mentes sós e inquietas.
Sem vos curvar jamais favores, mimos...
Antes a mais perfeita contrição.
Sede nosso advogado em intercessão
Contra o imenso vazio que sentimos.
VI
santa Cecília
Quando servi-LO é tudo o que deseja,
Oferta os seus talentos para a Igreja:
Põe música e poesia em quanto cabe.
E leve embora amores ou o que seja,
Ela abençoa a mão que a apedreja,
Antes que a melodia à boca acabe.
Trouxera a voz dos anjos às prisões
Onde homens e mulheres esperando...
Não fazer esquecer de quando em quando,
Sim alumiar a dor em tantas partes.
terça-feira, 6 de dezembro de 2016
BANHO DE BANHEIRA
BANHO DE BANHEIRA
Nua, faz que não vê meus olhos n'ela
Pois indo se banhar sem pressa alguma.
Cobre-se, do pescoço aos pés, de espuma:
Consegue d'algum modo ser mais bela...
De facto, mais esconde que revela
A neve branca que ora lhe perfuma.
Não fosse a aborrecer, uma por uma,
Eu sopraria as bolhas só por vê-la!
Em todo caso, é bom estar tão perto
E saber que seu corpo ali coberto
A mim se mostrará em esplendor.
E logo há-de ficar à flor da pele
Toda a sensualidade que a impele
A ser minha mulher e meu amor.
Betim - 02 03 2008
segunda-feira, 5 de dezembro de 2016
O HIPOCONDRÍACO
O HIPOCONDRÍACO
Percebo o coração quase infartado
Bater-me forte e surdo igual parando
E o peito comprimido de já quando
A morte se insinua em meio ao Fado.
Serei tolo de não ver meu estado?
Se 'inda me consome o mal nefando,
Cujo remorso é toda uma vida... Ou ando
Negando ainda o pulso desritmado?...
É... O ser não é mais que reticente
Exame de sinais vitais que osculto:
Um corpo me sentindo tão-somente.
Por desgraça, talvez morra pouco antes
De começar a vida! E, de repente,
Sofrer de todo o mal d'alguns instantes...
Betim - 10 11 1999
IMPESSOAL
IMPESSOAL
Há tempos não se sabe ser pessoa,
Antes mais um que n’esse mundo nasce.
Quem, de automatismo, um sorriso à face,
Deixa, se muito, alguma impressão boa.
Há que existir em vão cara-coroa
A escolher-se o devir no qual se outrasse
N’alguém que só a si e por si faz-se
Mas, por duplipensar, ora impessoa...
Se a vida é movimento, há um sentido
Ou a existência seria sensação...
Chove e faz frio mas, o coração
É preciso manter entorpecido.
Já nem reconhece em meio ao olvido
A sua própria voz na multidão!...
Belo Horizonte – 10 12 1998
SILÊNCIOS
SILÊNCIOS
Não tenho olhos senão para os teus olhos...
Acredita-me, embora antigos medos:
Nossa história e seus tantos desenredos
Parecem conduzir-me sempre a escolhos...
Porém, como se espreitasse por ferrolhos,
Espio tolamente os vãos segredos,
Que guardas co'as lembranças de anos ledos
Abandonados entre outros trambolhos.
Ou não... Silêncios só silêncios são!
Interpretá-los é, na escuridão,
Conseguir ver até o que se esconde.
Nada tem a dizer quem nada diz...
Eu só posso supor que estás feliz,
Buscando um lugar sem saberes onde.
Betim - 04 12 2016
domingo, 4 de dezembro de 2016
CONCORDES
CONCORDES
De acordo co'os acordes que te fiz,
Eu te acordo co'as cordas do violão
E te acovardo a dor do coração
N'um canto em cujo encanto és feliz.
Encorporado o ritmo, um aprendiz
Eu me faço no compasso da canção.
E, passo a passo, trago outra emoção
Tão certo quanto bem te quero e quis.
De cor o acorde, pois, acode e acorda
Quando, a poesia e a música concordes,
Se faz canção que então o amor aborda.
Talvez assim de mim tu te recordes
Enquanto meu amor por ti transborda
Na harmonia de versos mais acordes.
Betim - 09 08 1993
BARROQUISTA
BARROQUISTA
Meus pré e pós conceitos questionados
Põem-me a nu a despeito dos costumes.
Quem, de mim contra mim, poéticos lumes:
Certos erros são mais que só errados...
Sim, se as imperfeições de tantos Fados
São matéria de poetas e outros numes,
Sobretudo aqui, face a serras, cumes...
Os olhos veem presentes os passados.
Meus gáudios pensamentos voam arcanjos
Ao espetac'lo barroco borromínico
Da mente a especular novos arranjos.
Atenho-me, no fim, ao estado anímico
Onde as pedras se põem em movimento
Nas volutas que a igrejas acrescento.
Ouro Preto - 12 10 1999
MORTAL
MORTAL
D'entre as horas da vida há a da morte
Destinada, dir-se-ia desde o gen.
Um instante que insólito nos vem
Certo apenas que nada mais importe...
Se do fio da vida faz o corte
Aquela que nos tece o mal e o bem
N'uma trama enredada vê também
Quem não escapará à adversa sorte.
O gozo dos momentos não me engana:
Apesar da quimera e da fortuna,
N'um sopro só se entrega uma alma humana!
Mas, afinal, a vida à morte se uma,
A fim-de que qualquer ser na hora dana
Saiba-se um grão de areia em meio a duna...
Betim - 07 07 1999
AMPULHETA
AMPULHETA
Não te demores, minha linda amante,
Em gozar no meu corpo os teus prazeres.
Os grãos da vida caem sobre os quereres
A ocultar-nos o amor de instante a instante...
Não deixes de sentir no peito arfante
Um encanto maior vir sem o souberes
E aceita-me, mulher entre as mulheres,
Os meus olhos nos teus olhos bem diante.
O tempo que nos passa, todavia,
Parece correr mais rápido e em vão
Agora que te sei no coração.
Apressa-te! Ou senão nossa alegria
Permanecer-nos-á uma lembrança,
Enquanto cada grão de mim se lança...
Betim - 03 12 2016
quinta-feira, 1 de dezembro de 2016
FOGO MORTO
FOGO MORTO
O amor ardera até me reduzir
A cinzas de desejo ora apagado.
Qual engenho de fogo morto, o Fado
Fez-me ruína e pó sem mais porvir.
E o pouco que me resta é refletir
Sobre as contradições de meu estado...
Embora extinto o incêndio, rescaldado,
Meu corpo é calentura a ir e vir.
Levando-me a alegria e toda calma,
O amor ao me inflamar a essência d’alma
Esvaziara-me até a última gota.
Não vejo qualquer Fênix renascida
No sinistro que agora arrasa a vida.
Vejo apenas os campos da derrota...
Gov. Valadares - 31 03 1994
ATA-FINDA
ATA-FINDA
De que valeis, reveses d’amor? Brio,
Que enchendo o coração de vãos torpores,
Àquele que se busca novas dores
E sem calor de abraços, cai de frio
E somente se mente em desvario
Iludido por álcoois e vapores,
Enquanto chora triste os seus amores
Em versos transbordantes como rio...
...Ou frutas sobre a mesa maduradas
A exalar forte pela escuridão
Essências lentamente fermentadas,
Qual presença na ausência, vós em vão
Sabeis ter no presente horas passadas
Com ais que talvez nunca passarão.
Santa Bárbara - 30 09 1996
SOL E LUA
SOL E LUA
Quando n’um mesmo céu o sol e a lua
São vistos juntos pelo firmamento,
Admirado eu contemplo esse momento,
Que a minha pena agora perpetua:
O sol, cujo declínio se acentua,
Parece obscurecido e, em descontento,
Sofre da lua estranho enfrentamento
Como se a lhe depor da alteza sua.
Sombria, à Terra a lua eclipsa o sol.
Algumas horas antes do arrebol,
Vencia a lua ao sol que se desterra...
Não sei já se de noite ou se de dia,
Mais tarde um sol a lua parecia:
Sol de prata, o luar brilha sobre a Terra.
Belo Horizonte - 30 06 1992
CANTORIA
CANTORIA
— ”Apurai-vos a voz do coração
E ouvi todos vós! Vós todos ouvi!!
Até cada um ousar dar mais de si,
Cantando juntos uma só canção.”
“Seja nosso cantar celebração
De tudo o que nos trouxe até aqui.
Soe!... -- sem saber se chora ou se sorri --
E toda voz se eleve com emoção!”
“Contai, pois, cada sílaba do canto
Até que, espiritual, a melodia
Consiga s’espalhar de canto a canto...”
“Vossa expressão mais pura de alegria,
Rejubilai como anjos face ao Santo
N’um canto convertido em cantoria.”
Cap. Andrade – 04 03 1995
APALAVRADA (sic) RIQUEZA
APALAVRADA (sic) RIQUEZA
Quantas vezes, igual um avaro, eu
Contemplara poéticos tesouros?...
Em gavetas, prolíficos, meus ouros
Como as barcas do escravo do Pireu!
Eu sou alguém que a si mesmo colheu
Uma fortuna crítica sem louros
Aos versos que o Eu-Agora e os Eus-Vindouros
Têm diversos sentidos ao que é meu.
Mesmo os tendo por ouro verdadeiro,
Vos dou como alguém co'os bolsos furados
Deve andar por aí a perder dinheiro...
Se a vós ouro de tolo, validados
Foram não por quilates, mas inteiro
O fiel onde meus eus serão pesados.
Betim - 04 07 1999
ÚLTIMA PARADA
ÚLTIMA PARADA
Estava triste sem saber por quê,
Apenas esperando o trem parar...
Um tanto distraído perco o olhar
A dizer-me ora “Não”; e ainda ”Sê!”
Algaravia dentro em mim se dê:
--“Não. Eu nunca estou onde quero estar...
Imagino e é sempre um outro lugar!...” --
Mas, desço do comboio igual clichê
Digno d’algum herói rocambolesco,
Que aos transes de ventura em vão padece,
Indo desde o sublime ao mais grotesco...
Já na estação, aos poucos escurece.
Minh’alma, n’um desgosto gigantesco,
Sequer sabe porque ora se entristece.
Belo Horizonte -15 02 1998
EM ABSTRACTO
EM ABSTRACTO
Pelo infinito pus meus pensamentos
Em cartesianos pares ordenados.
Onde inertes sistemas bem fechados
Eu os houvesse já sem incrementos.
Não me admira que em todos os momentos
Em face d’estes eus ali passados,
Reconheci-me rostos mascarados
A encenar-me d’outrem os movimentos.
-- “Meu Deus! Será que o meu eu é o meu?” --
Penso, sinceramente, se sou eu
Ou se sou de mim mesmo personagem...
Ou não... Não mais que alguém que se perdeu
Dentro de sua hermética mensagem
No espelho a refletir a própria imagem.
Belo Horizonte - 27 09 1998
PALAVREADO
PALAVREADO
Não me ponhas palavras pela boca,
Sem antes eu as ter no coração!
Tudo o que escrevo, com ou sem razão,
Eu senti... Mesmo quando em vão te choca.
Tem palavra que sempre me provoca
O afã de reviver uma emoção.
Outra, reluz em mim feito clarão
Tal a beleza qu'ela em si evoca.
Por isso tento ornar o palavreado,
Crente que na poesia cada termo
Me pareça a seu modo destacado.
Já nem reparo mais se velho e enfermo
Escrevo em linhas tortas o meu Fado...
Garimpo-me palavras n'algum ermo.
Ibirité - 27 11 2016
segunda-feira, 28 de novembro de 2016
EM VERDADE
EM VERDADE
Houve na Grécia um sábio que, já velho,
Buscou-se o homem em si. Mas, reflexivo,
Ao se encontrar a essência em que era vivo
Escreveu: “CONHECE-TE”, n’um espelho.
Contam também de Cristo, no Evangelho,
Um novo mandamento compassivo:
Escrevera com sangue, redivivo,
Nos corações “AMAI-VOS”, de vermelho.
Tais verdades são uma só verdade,
Pois ainda que opostas na aparência,
Completam-se a buscar do ser consciência.
Sim, no amor conhecer-se a realidade
Do ser em relação sobre o vazio
De existências pendidas por um fio.
Belo Horizonte – 24 05 1998
EU E DEUS
EU E DEUS
Estávamos então sós, eu e Deus.
Caía a tarde sobre os dons despertos,
Quando me vi co’os olhos bem abertos
Fragmentado em miríades vis d’eus.
As máscaras quebradas, PERSONÆ meus,
Quedaram mudas entre sons incertos.
Habitava a amplidão, campos desertos,
Em soledade eu cria os signos Seus.
Assim, face a face -- não mais oblíquo --
Pude ver sem espelhos meu ser iníquo,
Que a si, miseramente, se perdeu...
Revelou-se em verdade -- antes longínquo --
Dentro de mim, o Eu-profundo e o Outro-Eu;
E, no próximo, o olhar do Galileu.
Belo Horizonte - 12 04 1998
AZUL-MAR
AZUL-MAR
Se o dia tem um sol à beira-mar
E o mar tem um azul a cada dia,
Por que meu coração já não podia
De teus olhos azuis s’enamorar?
Diz porquê da tristeza em teu olhar
Se só n’ele a tristeza é qu’eu perdia
Onde, no azul do céu, minh’alegria
Está em tudo qu’eu te sei mirar...
Seja-me teu olhar meu firmamento.
E mar e céu se espelhem tão-somente
Pelo horizonte d’esse sentimento.
Mas possam os meus olhos, frente a frente,
De teus azuis abrir velas ao vento
E navegar em ti de corpo e mente.
Salvador – 08 10 1995
RECÍPROCO
RECÍPROCO
Ama-me como te amo; isto é, faminto!
E o saber e o sabor de cada gesto
Sejam-nos um desejo manifesto
Por te sentires tal como me sinto.
Que nossos gozos como algo indistinto
Se misturem em nós ao que, de resto,
Possa servir ainda de pretexto
De mais nos permitirmos por instinto.
Beija-me como beijo a tua boca...
Toca-me como minha mão te toca
E sente como meu peito te sente.
Assim, por não mais que um momento,
Possamos ser os dois um só sentimento:
Ama-me como te amo, simplesmente.
Betim - 13 02 2009
LEMBRETE
LEMBRETE
Não te esqueças de mim quando te fores
E, longe, não escutes mais meus ais.
Lembra-te, pois, de mim uma vez mais,
Ao me leres os versos e os amores.
Recorda-me o cartão junto das flores,
Que com letras vermelhas passionais,
Sangrara versos vãos de amar demais,
Cantando em frenesi os teus louvores.
Não me esqueças nas sombras da memória
Onde, apesar de tudo, a nossa história
Restará entre outras, boa ou não.
Lembrar para esquecer e relembrar,
Talvez seja onde o amor tenha lugar
Para eu ficar em ti, no coração.
Belo Horizonte - 01 10 2009
sexta-feira, 25 de novembro de 2016
PERSONÆ
PERSONÆ
Eu sou eu. Mas sou mais uns outros três:
Sou um fora de mim; dentro, outro alguém.
Livre espírito muito aquém e além...
Barro e sopro que máscara se fez.
Não sou nada. Nunca o serei talvez.
Ser? Eu sou TODO MUNDO e sou NINGUÉM;
Sou Eu-mesmo e Outros-Eus eu sou também.
Quem, um em um milhão, de dez em dez.
Ser aparência, essência e transcendência
É existir, o mais é inconsciência,
Em meio a pouca leitura e muita loa.
O esquisito escultor de tantas máscaras
Navegara preciso às obras pássaras
D’esse Super-Camões feito PESSOA.
Belo Horizonte – 02 03 1998
quinta-feira, 24 de novembro de 2016
GRAVIDADE
GRAVIDADE
Enquanto o olhar se perde pelo abismo,
Me pego a meditar sobre o fracasso...
Mas que insabido imã me apressa o passo,
Se há muito me percebo só egoísmo?
Eu longe e longamente agora cismo
N’essas vãs perspectivas que a mim traço.
Pois bem, ecoem meus versos pelo espaço!
E quem escutar chame de lirismo...
Tal força que me tem prendido ao chão
Me impede de buscar a imensidão
Sobre aquela planície imensa e verde.
Talvez não seja a vida sempre assim...
Eu passo tempo até que caia em mim
Sem ver sequer por onde o olhar se perde.
Belo Horizonte – 20 06 1998
DE CUJOS
DE CUJOS
Aquele que serei quando morto,
De cuja sucessão eu trato agora,
Declarará de mim pela última hora
Tais termos a me dar algum conforto:
-- “Duvido que algum anjo, certo ou torto,
Tenha me acompanhado desde a aurora.
Ainda assim eu, antes de ir embora,
Sei chorar sangue como Jesus no horto!...”
“Não que essa minha angústia se compare,
Mas sim, depois de tudo, ‘inda repare
Ignorar quais propósitos tem Deus.”
“Deixo-vos, por herdade, o que couber
E o intento de a existência, por fim, ser
Vida que gera vida para os seus.”
Betim – 20 02 2008
quarta-feira, 23 de novembro de 2016
MUSA E ANTIMUSA
MUSA E ANTIMUSA
Não me fales d'amor, velhas mentiras...!
As mesmas com que um dia me cegaste.
Mais nunca teu estandarte na minha haste!
Tampouco os versos vãos qu'inda me inspiras...
Por ti, já não dedilhem suas liras
Os poetas que, como eu, tu enganaste.
Não passa como novo um velho traste:
Hei-de esquecer, conforme preferiras.
D'aquele amor, alguns poucos resquícios
Nos restem pelas poeiras dos caminhos
Enquanto prosseguimos tão sozinhos.
Quiçá entorpecido, n'outros vícios
Deixe de desejar-te d'uma vez,
Sem mais ceder à tua insensatez.
Betim - 20 12 2010
CATACLISMO
CATACLISMO
A tristeza é um vórtice de tornado,
Que suga tudo quanto existe em torno.
Onde uma imensa nuvem faz contorno
E avança ameaçadora pelo prado...
A tristeza é um peito desolado
Ao ver além partindo sem retorno
Toda a feliz memória e seu adorno,
D'um amor depois de anos bem guardado.
A tristeza é a viga pelo chão,
Cujo engenho não vence mais o vão,
Pois já todas as coisas às avessas.
A tristeza... Nada é como a tristeza.
Não, nenhuma pessoa sai ilesa,
Quando o céu nos desaba nas cabeças.
Belo Horizonte – 20 01 1998
TAUROMAQUIA
TAUROMAQUIA
Minh’alma, como o Palácio de Cnossos,
Seus interiores perde em labirinto.
Lá há muitos tesouros n’um recinto
Cercado de altos muros, fundos fossos...
Nas paredes, afrescos onde moços
Enfrentando de touros fero instinto.
Como se vida e morte, algo indistinto,
Fosse em face d’aqueles grãos colossos.
Por corredores, um monstro e um herói,
Disputam entre si luta inumana
Dos sombrios desvãos da mente insana.
Não mausoléu que tempo me destrói,
Sim a edificação onde busco eu
Ecos de Minotauro e de Teseu.
Belo Horizonte - 13 02 1998
UM OUTRO
UM OUTRO
É preciso cuidado com tais dias
Em que a tristeza chega devagar.
Se exacto quem escondo ouso encontrar
E me descubra um Outro em fantasias.
Porque se às já comuns melancolias
Vêm-me outras de carácter invulgar,
Sem qu’eu possa mais d’elas duvidar,
Como se quotidianas companhias.
Entretanto, eu a mim mesmo sofismo
A realidade pelos meus sentidos,
Ainda que me veja em sós olvidos.
Inconsciente e insensível, meu egoísmo
Posto ao limite já da sanidade,
Um Outro, ser sem ser, será verdade?
Belo Horizonte – 15 01 1998
sábado, 19 de novembro de 2016
RETIDÃO
RETIDÃO
A vida tinha a minha desolada:
Olhava e o olhar distante nada via...
Distante estava eu todo da alegria;
Na hora vazia, não havia nada.
Vi certo dia a vida toda errada;
O errado era eu ou nada errado havia.
-- "Tens a vida correta" -- alguém dizia,
Indo direto e reto pela estrada.
Sim, tinha a vida minha em linha reta...
Certo que bem mais longe iria andar,
Mas sozinho a caminho vã a meta.
Vazio o caminhar por caminhar.
Seja torto o caminho mais correto,
Ou, decerto, o caminho entortar.
Belo Horizonte - 19 11 1991
CERTOS ERROS
CERTOS ERROS
Se em buscar a verdade mais me alerto,
Eu sempre do correto me quis membro.
Contudo, erro por mim que não me lembro
Mais do tempo em qu'eu andei desperto.
Parte de mim do fim se sente perto;
Mas outra, além do bem e mal relembro:
Andara sob as chuvas de setembro
Pelos limites já do errado e certo
Eu me perdi tentanto defini-los,
Pois, vi o errado certo e certo errado,
Qual variações d'um tema sob estilos.
Não havendo n’um mundo tão mudado
Mais qualquer verdade a dividi-los,
Certo e errado são um mesmo lado.
Belo Horizonte - 24 09 1991
sexta-feira, 18 de novembro de 2016
O NEFELIBATA
O NEFELIBATA
Se sua mente está nas nuvens altas,
Feliz é por todo o céu por sobre...
Vê razões que a Razão já não descobre
No desvario irreal de ideias incautas.
Às voltas sempre com culpas e faltas,
Vã-filosofava sobre algo mais nobre
Mas o que vê se a pálpebra ao olho cobre
Se lhe faz escrever pautas e pautas.
Habita a sua torre de cristal
Enclausurado como se algum monge
Cujo olhar perde cada vez mais longe.
Simbolisticamente, vive o Ideal.
E enquanto divagar seu pensamento
Segue peleando com moinhos de vento.
Belo Horizonte - 15 08 1995
RELO DE PIPA
RELO DE PIPA
Solta pipa o menino a sol a pino,
Que contra o vento forte sobe ao céu.
Taquara de bambu; seda o papel,
É branca sobre o azul horizontino!
Solta versos o poeta a voar sem tino,
Em jogo de palavras saindo ao léu.
N’um momento, rodando o carretel,
O poeta ao tempo volta pequenino.
Descarregando a linha na ousadia,
Mais rebola a rabiola a fantasia,
Assim como a memória e o pensamento.
Mas logo a linha rela com cerol,
E o poeta, pipa voada atrás do sol,
Se deixa levar longe pelo vento…
Betim - 19 09 1992
EM MIM
EM MIM
Caminho enquanto a noite principia
A escuridão em sombras de edifícios:
Cidade de terraços precipícios
A ondear morros junto à serrania...
Meu olhar, porém, quer que haja poesia
Ao amar tanto as virtudes quanto os vícios,
Enquanto aguarda fogos de artifícios
Violentarem seus céus com fantasia.
Há festa: Espocam rolhas pelas salas...
Canções ecoam nas ruas e outros riem
Se embriagando de luzes entre galas.
Mas, antes que os foliões me contagiem,
Deixo-me estar em mim algum lirismo
A ver tal panorama desde o abismo.
Belo Horizonte – 31 12 1995
quinta-feira, 17 de novembro de 2016
NATURALIDADE
NATURALIDADE
Encontro-me nas ruas da cidade.
Lugar onde nasci e entre outras eu
Volto em busca d'um eu que se perdeu,
N'algum outro lugar, a identidade.
Ou não?! Eu sei quem sou eu na verdade:
Nem a cidade é minha nem o eu meu!
Somos, a cidade e eu, o que se deu
Onde e quando de mim meu ser evade.
A cidade se encontra agora aqui!...
Junto a meu nome a seu nome é o ideal
Da nobreza da terra onde nasci.
Como em lugar-comum tão especial,
Sou a cidade: Onde eu me conheci
E a honra d'eu d'ali ser natural.
Caratinga - 01 05 1995
TORRES
TORRES
Dormi, Princesa, em torres de marfim...
Sem sequer rir; sem dor dormir; sem nada.
Como se estátua apenas esboçada:
Carne a irromper do mármore por fim!...
Príncepes esperais d’além-jardim,
Por ver-vos, quintessência decantada!
Sei que das torres onde haveis morada,
Lançais encantamentos sobre mim.
Mas seja o meu cantar vosso acalanto;
Que embora letras cheias d'amor mundano,
Guarda d'anjos a música o amor santo.
Sois toda ideal, não carne, cerne humano...
Dormi, Princesa... Eu sob vosso encanto
Só com ais os ouvidos vos profano.
Ouro Preto - 01 05 1998
MÃO A MÃO
MÃO A MÃO
Não se traduz amor em poesia
Tanto quanto amizade enreda prosa...
A vida pode ser maravilhosa,
Se caminharmos juntos algum dia.
Dá cá a tua mão... Sê minha guia!...
Mesmo distante a aurora que o olhar goza,
Nossos passos na estrada pedregosa
Deixam pegadas p'la poeira vazia.
A vida apenas segue sem chegar;
A morte não é meta: Cerra o olhar!...
E andamos mão a mão até aqui.
O vento apagará rastros na estrada
E o mundo esquecerá nossa jornada,
Mas não me esquecerei nunca de ti
Betim - 23 05 1997
quarta-feira, 16 de novembro de 2016
ANGELUS
ANGELUS
Anjo que me guardaste, bem ou não,
Uma outra vez me encontras tu magoado...
Já por males d'amor me vês prostrado;
De vez desenganado o coração.
Desces a meu inferno na intenção
De dar o lenitivo a este coitado.
Contudo, baldo é; porque mesmo errado
Amo o erro a que não quis dar correção.
Mea culpa; meu pecado... Pois, queria!
Afasta-te que em tais trevas existe
Dor que até tua luz ocultaria!!!
Deixa-me à soledade em que me viste!...
Volve, meu anjo, à mais santa alegria,
Antes que tu comigo vivas triste.
Betim - 30 05 1996
A RAINHA
A RAINHA
É muita audácia ousar ser tão feliz!
D'um egoísmo ainda maior amar!
Como pelo Mondego navegar
Oceanos de tristezas sob céu gris...
Uma fonte de lágrimas, meu país
Tornou-se eternas algas a sangrar
E ainda hoje meu pranto faz chegar
Às margens d'este rio d'águas vis.
O rio de hoje e a fonte de ontem... São
Do Estige essas águas! Mas que importa?
A vida é sonho e a noite imensidão...
E o beija-mão da Rainha? Inês é morta!
Manda aos maus arrancar o coração
A dor que nada nem ninguém conforta.
Belo Horizonte - 12 06 1996
MAIS-QUE-PERFEITO
MAIS-QUE-PERFEITO
Passara o tempo a mim mais que perfeito:
Pensara ser presente meu passado...
Desamassara um poema que, esboçado,
Revisitava o amor cá no meu peito.
Passara -- ou passará... -- o bem que afeito
Inscensara a mulher que por fado
Despedaçará em cacos de bom grado
Para após refazer o amor desfeito.
Parara o tempo em mim no pensamento;
No amar mais-que-perfeito qu'eu amara
E que pensara já no esquecimento.
Mas como haveria eu de esquecer Sara?
Mais que perfeito volta o sentimento,
Porque o amor é ferida... Que não sara!...
Betim - 06 06 1996
terça-feira, 15 de novembro de 2016
HISTÓRIAS DE AMOR
HISTÓRIAS DE AMOR
Disseram que se fosse por amor
D'algum modo haveria-de dar certo.
Acontece que à noite andei desperto
E tive da ilusão puro estupor...
Sejam belas mentiras ou o que for
Às artes amatórias eu, decerto,
Experienciei com ganas de experto.
Mas fui no fim um mal conhecedor...
Eu só por tentativa e erro aprendi
Que o amor não é feito de certezas
E pouca realidade tem em si.
Com efeito, entre sapos e princesas,
Amores são histórias sem igual,
Mas sem final feliz ou até moral...
Betim - 12 12 2010
FAZER O AMOR
FAZER O AMOR
Como fazer sensível algo abstracto
Senão como uma forma de carinho?
O toque em tua pele haja o caminho
Para unir duas carnes com um acto.
Pode ser dando sangue para o pacto
Ou apenas não querer gozar sozinho.
Teus beijos, tão mais doces do que o vinho,
Ao pôr as nossas almas em contacto.
Como é doce fazer o amor amando!
Como é bom em teus braços, quando em quando,
Eu poder sentir que amo e sou amado.
Por fim, o amor se faz encontro humano
Ao ser compartilhado, salvo engano,
Nos prazeres que um ao outro temos dado.
Betim - 15 02 2009
segunda-feira, 14 de novembro de 2016
TESOURO DA JUVENTUDE
TESOURO DA JUVENTUDE
Os versos que escrevi quando mais moço
Releio agora um tanto comovido.
Confuso é lembrar quem soube eu ter sido
Sem me chocar o máximo que posso...
Havia dentro em mim muito alvoroço
Diante de cada verso revivido,
Por trazê-los de volta desde o olvido
Como se jóias no fundo d'algum poço.
Memórias imprecisas-mas-preciosas
-- Pois, mais que importantíssimos eventos
Contêm a descrição de sentimentos --
São, literariamente, pretenciosas...
Muito embora aos meus olhos valham ouro.
As obras juvenis d'esse tesouro.
Betim - 14 11 2016
UM QUARTO E UMA MEIA
UM QUARTO E UMA MEIA
Tua meia esquecida no meu quarto.
Olho no relógio: É meia noite e meia...
E já é outra a noite e a lua cheia
De cujo recordar jamais me farto.
O perfume, já por meio e um quarto,
É teu cheiro pelo ar que me permeia...
Dilata-se a pupila; estufa a veia;
De novo para aquela noite eu parto.
Brilho da lua em só noite de quarta...
Assim ora escureço; ora clareio
Para ti cada poema, foto ou carta.
No fim das contas, perco-me no enleio:
Dividido por zero ou posto à quarta?...
Será ser nada ser um par ao meio?
Betim - 22 12 2010
BEM-TE-VI
BEM-TE-VI
Surpreendera-me ao andar pelo telhado
Aquele passarinho mais singelo.
Tinha o peito retinto de amarelo
E cada olho de preto mascarado.
Esse mexeriqueiro só e alado
Vinha me acompanhar em meu desvelo:
Amanhencia o dia, bom e belo,
Quando ele veio cantar bem do meu lado.
Parecia inusitado a ele eu ali
Na altura do telhado; na alva aurora...
Admirando o nascer do sol em si.
Como a me denunciar, não ia embora;
Ficava repetindo: "Bem te vi!"
Só por estar do lado cá de fora...
Betim - 13 11 2016
domingo, 13 de novembro de 2016
SENHORA E DONA
SENHORA E DONA
Só faz de humano macho seu capacho
Aquela muito dona por mandona.
Rainha que ao coração d'alguém se entrona
N'um olhar verde gaio, mechas em cacho...
De quando em quando solta um esculacho
E o outro sua que nem em maratona,
Passado o tempo certo, ela o abandona,
Quiçá ainda mais bonita, eu acho...
E tudo se passou d'essa maneira:
Quem, entre interessada e interessante,
Se preferiu, por fim, interesseira.
Certo apenas que o Fado é inconstante,
Não foi a última e nem foi a primeira
Que uma Senhora e Dona fez-se amante.
Betim - 20 10 2010
sábado, 12 de novembro de 2016
MAL-DE-AMOR
MAL-DE-AMOR
Depois de misantrópicos desterros,
Volta de coração e olhos abertos
O amador a atravessar bairros desertos
Enquanto vai cantando a lua aos berros.
Grita não confessar nem posto a ferros
A secreta verdade dos espertos:
Saber mais importante que os acertos,
Viver a vida em todos os seus erros!
De coração é quanto tem em mente
Visto que amar não mais basta ao amador
E sim amar a dor que finge e sente.
Escolhe experienciar com todo ardor,
Sob pena de sofrer amargamente,
Dos males o maior, o mal-de-amor.
Belo Horizonte – 13 02 1996
A MULHER DO PRÓXIMO
A MULHER DO PRÓXIMO
Todo o tempo, amigo, há-que estar atento
Face àquela mulher que se apresenta
Como um sol que ao nascer nos desorienta
E põe a terra e os céus em movimento...
Ela é algum fenômeno violento,
Semelhante a ciclones ou tormenta.
Porém, depois serena ela aparenta
Sempre a nos contestar o sentimento:
-- "Amor não é amor sem correr riscos!" --
Pontifica com sua voz mais forte
E alheia às próprias traves vê meus ciscos...
Amando indiferente à vida e à morte,
Essa mulher me deixou na pele viscos,
No mal de desejar d'outro a consorte.
Belo Horizonte - 02 01 2006
sexta-feira, 11 de novembro de 2016
SILOGÍSTICO
SILOGÍSTICO
Outro amor que finda antes de iniciar,
Tem nada mais que o fim como premissa.
Tal como o archote cujo ardor se atiça
Apenas para logo se apagar.
Já caídos, porém, por mal-de-amar,
Não deixamos de medo e até preguiça...
Onde o en'amoro que em vão se desperdiça
Qual tesouro no fundo d'algum mar.
Se o nosso amor carece de futuro
Tanto quanto lamenta do passado,
Não parece estar n'ele o que procuro.
Ainda assim, sem lógica ou verdade,
Conclui-se ao silogístico enuciado
Ter n'outro lugar-comum felicidade!...
Belo Horizonte - 02 06 1996
AO TACTO
AO TACTO
Há-que se tocar quando o amor nos cega...
Ter na palma da mão o coração
Ao se sentir em meio à escuridão,
Pele a pele, onde o peito se aconchega.
Mas se maior o calor, melhor a entrega;
Têm-se à pele em altíssima tensão,
De modo que a esta intensa sensação,
Palmo a palmo, já a carne não sossega.
Apalpar para os olhos pôr à palma,
Pois ao tocar sentir pelo corpo a alma,
Tendo o carinho apenas como guia...
Sempre encontrem um no outro tais delícias
Os amantes que entregues às carícias
Se permitem ao tacto a fantasia.
Betim – 05 05 1995
quinta-feira, 10 de novembro de 2016
ESTAÇÃO DAS ÁGUAS
ESTAÇÃO DAS ÁGUAS
N’uma noite qualquer de primavera,
Tanajuras revoando pelos ares
Anunciam as chuvas por tornares
À terra que mais úmida se houvera.
Tu desde criança sabes que, de vera,
O voo d’aquelas rainhas invulgares
Espalhadas por todos os lugares
Tem um quê de alegria e de quimera.
Hoje, enxames de içás em profusão
Vêm me desanuviar o coração
Enquanto à brisa tépida te inspiras.
Leva contigo as minhas fantasias
E as lembranças de criança que querias
Conhecer tal-e-qual um dia ouviras.
Sobrália – 10 11 2008
PARABÉNS!!
PARABÉNS!!
Se não soubesses ser eu o teu poeta,
Talvez até a ti surpreenderia
Ter tua sereníssima alegria
Como fotografia predileta.
O telegrama em mãos d'um estafeta
Do meu amor por ti mais te diria.
Ou ainda um ramalhete ao fim do dia
Te celebre a conquista d'essa meta.
Do jardim dos meus anos, a mais linda
Flor entre as flores, cuja boa vinda
Nos traz pura beleza desde os gens.
Por ti possam se abrir de novo os céus,
A que recebas este e outros troféus:
-- "Felicidades, linda! Parabéns!! "
Belo Horizonte - 11 12 1991
PEDIDO DE NOIVADO
PEDIDO DE NOIVADO
Procuro-te a mulher por trás do véu
A ver-te face a face tal como és.
E é por isso que agora eu, aos teus pés,
Peço clemência por confesso réu.
Tentei pôr por escrito no papel
Cada lance de sorte e de revés
Do romance que somos, através
De versos que anteviram esse anel:
-- "Meu bem querer, recebe-me esta aliança
Que às nossas vidas tragam d’oravante
Outro brilho d’amor e de esperança."
"Possa enfim ecoar por teu peito amante
O meu “eu te amo” eterno na lembrança
Ao fazer o próprio ouro mais brilhante."
Betim – 20 12 1997
segunda-feira, 7 de novembro de 2016
O ALCOÓLATRA
O ALCOÓLATRA
Os anos que passaram pelo espelho
Branquearam minha barba e meus cabelos...
Bem como pelos peitos alvos pelos
Recobriram-me a pele vil de velho.
E por vezes me dói tanto o meu joelho,
Que mal sei dar aos pombos uns farelos.
Noites inteiras passo entre desvelos,
Enquanto um esporão brota no artelho...
Pois é... Olheiras fundas, carnes moles...
Mais a papada, pintas, manchas, rugas...
E as mãos cheias de calos e verrugas.
Uma vida passada toda aos goles,
Para no fim, tão pobre quanto Jó,
Entregar minhas cãs de volta ao pó...
Belo Horizonte - 20 09 2009
FLERTES
FLERTES
Só de longe; de longo e oblíquo olhar
Tenho eu te conhecido... Olhos furtivos
Que ficam te admirando os atrativos,
Conquanto seja tolo ou até vulgar.
De facto, não tem hora nem lugar
Para perdido em teus olhos tão vivos
Eu tenha por fim meus olhos captivos
Por força já de tanto eu te mirar.
Dona, porém, de meus olhos e olhares
Não me percebes todo este cuidado
Com que, em silêncio, eu tenho te amado.
Tudo isso saberás quando me olhares...
Ou não... Se tão altiva quanto o sol,
Que ignora a devoção d'um girassol...
Belo Horizonte - 21 10 1992
domingo, 6 de novembro de 2016
DE BOCA EM BOCA
DE BOCA EM BOCA
Pois como sabem Deus e todo mundo,
Palavras loucas, só orelhas moucas...
Loucuras d'amor clamam quase roucas
As aluadas segundo após segundo:
-- "Há astros a luzir no céu profundo
Em conjunções que ensejam visões loucas."
Mesmo suas estrelas sendo poucas,
Veem nas fases da lua algo fecundo.
E trocam simpatias, sortilégios,
Feitiços de paixão, poções d'amor...
Tirando-se lhe a sorte em seu favor.
De boca em boca espalham seus colégios
Onde ensinam as artes amorosas
Que fazem as mulheres perigosas.
Betim - 13 05 1993
AS AMAZONAS
AS AMAZONAS
Nuas, as duas belas se entreolharam,
Entregues aos prazeres mais proibidos.
Na embriaguez de desejos escondidos,
Admiradas de si, elas se amaram.
Logo os lábios das lésbias se tocaram.
E os seus mamilos já intumescidos,
Como se figos alvos bem crescidos,
Uma à outra, dulcíssimos, beijaram.
Orvalhados os sexos, quase arfantes
Se trocavam carícias delirantes
Com ardores e gozos inclementes.
Amazonas, guerreiras do amor,
Cavalgam-se com tríbade furor,
Para juntas tombarem inconscientes...
Belo Horizonte - 09 07 1993
CÂNFORA
CÂNFORA
Toda a casa cheirava à choro e vela
Ou uma d'essas fragrâncias vãs de empório.
Como se ainda há pouco algum velório
Onde a sala faz vezes de capela...
Mas o cheiro que enchia a casa d'ela
Parecia mesmo algo merencório.
Ainda que com modos de finório,
Postando-se de pé junto à janela...
Eram duas figuras solitárias:
Ela, com os seus santos e seus mortos;
Ele, com sua culpa e desconfortos...
Assim, face a figuras tão contrárias,
Sentira eu a tarde toda, bem ou não,
De cânfora, um odor de solidão.
Inhapim - 05 11 2016
sábado, 5 de novembro de 2016
RODOVIA BR 116
RODOVIA BR 116
Os ônibus que partem para longe
Saem já de madrugada no sereno.
À noite, em meio às horas, me apequeno
Ainda que a vidraça outrem esponge.
Mas na hora da partida, feito um monge,
Reze todo um rosário por ameno
E saiba que se faça a mim mais pleno
A mesma imensidão que nos alonge.
De facto, na distância, ando tão só...
Mesmo que me reserve só por dó,
Amar aqueles olhos já perdidos.
Não obstante, há os ônibus e horários...
Os caminhos insistem, mas tão vários,
Que me levem além d'esses olvidos!
Inhapim - 04 11 2016
sexta-feira, 4 de novembro de 2016
O CONVITE
O CONVITE
Corro os olhos p'la folha amarelada
Onde há anos um nome está escrito.
Mas tanto tempo faz! Mal acredito
N'aquela letra ali tão bem traçada.
Recordo-me da carta não enviada
E de seu estupor quase infinito
Que a mim, tão desolado quanto aflito,
Deixou sem qu'eu pudesse mudar nada.
Dez anos se passaram... E, de novo,
Eu e ela estivemos face a face,
Sem que se houvesse fim àquele impasse.
D'esse convite ainda eu me comovo,
Após ver como um erro permanece
No coração de quem jamais o esquece.
Belo Horizonte - 09 11 2006
quinta-feira, 3 de novembro de 2016
FINADOS
FINADOS
Já recolhido ao quarto de dormir
Aguardo o sono vir com outro sonho.
Considero 'inda o tempo que disponho
Entre as luas d'agora e as do porvir.
Meus olhos se ressentem de insistir
Em antever na noite algo bisonho:
Quando da juriti o roar tristonho
Através dos sertões se faz ouvir.
A hora passa sem qu'eu nem me aperceba...
Não importa o que dê ou que receba
O amor não era mesmo para ser...
E o sono traga o sonho simplesmente
Sem pensar no que venha pela frente
Permita tão-somente eu me esquecer.
Sobrália - 02 11 2010
quarta-feira, 2 de novembro de 2016
A OLHOS VISTOS
A OLHOS VISTOS
Havia acontecido uma mudança:
Os dois já não se viam com ternura.
Veem, da vida passada e da futura,
Uma a uma se frustrar cada esperança.
Perdidos o respeito e a confiança
Restara um dia a dia de amargura
Onde a dor se avizinha da loucura,
Apagando do bem qualquer lembrança.
Testemunham após o pior de si
Como se não houvesse mais ali
Nem sombras da alegria que os unira.
E o amor, agonizando ora a olhos vistos,
Morreria ao menor dos imprevistos,
Como tivesse sido uma mentira.
Betim - 09 11 2009
terça-feira, 1 de novembro de 2016
DESARVORADO
DESARVORADO
A despeito dos nomes tão pomposos
Ou das palavras belas e sensatas,
Nada mascara mais suas ingratas
Razões para iludir os desditosos.
Sempre co’os ditos mais espirituosos
Nos repete historietas e bravatas,
Por fazer crer que tem luzes inatas,
Ocultando interesses duvidosos.
Quem guindado às alturas do poder,
Faz, absolutamente, o que bem quer
Enquanto o embasbacado tudo aplaude.
Seja este só mais um desarvorado,
Que quando do palanque for apeado
Não faltará já outro que lhe malde.
Betim – 01 10 2009
segunda-feira, 31 de outubro de 2016
VICE-VERSA
VICE-VERSA
Este muito diverso ser humano,
Andando tão disperso pelo mundo,
Já aceita o Universo moribundo,
Sem ser sequer um terço de seu plano...
Vê o bem converso em desengano
Torná-lo seu reverso n’um segundo.
Oculta em prosa e verso o mais profundo,
Como se desde o berço assim mundano.
No momento adverso, ele se altera
E feito outro (um perverso!) mais se admira
Do modo controverso que o fizera.
Mas já de todo imerso ao que conspira,
É da medalha o anverso o que se vira:
Ser o inverso do inverso do que era.
Belo Horizonte – 29 09 2009
domingo, 30 de outubro de 2016
O GRANDE INQUISIDOR
O GRANDE INQUISIDOR
exórdio
N'um acesso de cólera, há quem fique
Bem diante da verdade, sem saída.
Qual quisesse apagar a nossa vida
Do Livro dos Eleitos ou onde a indique.
Não admira se acaso pontifique:
-- "Sois a pior coisa já acontecida!" --
Ele tão-só computa em sua lida
A gota d'água p'ra romper o dique...
Após prisão estúpida e arbitrária,
Logo ele nos acusa, por má sina,
Nos máximos rigores da Doutrina.
Por fim, nos silencia a mente vária,
Negando-nos o humano patrimônio
Como fôssemos piores que o demônio.
* * *
invectiva
-- “Ai de vós! Credes em códigos de classe
E vos permitis do ódio instrumento.
Juiz obtuso, dais ao erro provimento,
Qual claro dia em trevas se tornasse.”
“Talvez não verdes danos n’este impasse,
Ou, obscuramente, n’ele haveis alento.
A inépcia ocultais com descaramento,
Malgrado o próprio mal se horrorizasse."
“Por quem sois! Deitai fora tais tiranos
Que constrangem a agir com vilania
E ora vos detêm, cúmplice de enganos.”
“Sei que nos odeiam por nossa ousadia.
Mas vós, que haveis com eles, que planos?
Que abuso à vossa cátedra impedia!?”
* * *
falácias
-- “Oras, oras... Vós-outros bem sabeis
A gravidade toda d’estes factos.
Não obstante, pensais que ainda intactos
Vossos direitos face a nossas leis?”
“Rebeldes à autoridade, conviveis
Entre conspirações, tramas e pactos.
Fugis às consequências dos maus actos,
Inimigos dos reinos e dos reis!
“Lesais a coisa pública, entretanto,
Ao combater os próceres do Estado
Assim como o Direito sacrossanto.”
“Crime de Lesa-Pátria... Um atentado
Autofágico e infame a ser punido
Co’o máximo rigor reconhecido.
* * *
réplica e tréplica
— “Dai-me algo por provar vossa inocência!
Falai-me ao menos!”— Diz o Inquisidor.
"Eu estou desolado" — acho... — "Ou melhor,
Lamento, mas não falo à esta audiência".
"Malgrado não me acuse ora a consciência,
Nada tenho a dizer em meu favor”.
Ele diz: — “Mas que pena! Tanto pior!
Se vos resta implorar tão-só clemência”...
“Eu só penso que vós não haveis dito
O que dizeis, não fosse indefensável
A verdade d’um homem já proscrito”.
— “Eu sei. Deveras, tudo isso admirável!
A minha vã verdade eu acredito
Ser-vos não falsa, sim insuportável”.
* * *
ex-cathedra
— “No ano da graça de Nosso Senhor,
Compareceram diante d’esta Sede
Senhores cuja morte se nos pede
O venerável Grande Inquisidor.
Ouvida cada parte em seu favor,
Julgamos que o recurso que concede
A suspensão da pena não procede,
Devendo os réus cumprirem o mal maior.
O fogo purifique vossas almas
E em meio às labaredas subam calmas,
Qual bode que expiatório com óleo unta-se.
Este é o parecer; é meu juízo:
Purificai-vos para o paraíso!
Publique-se, registre-se e (enfim...) cumpra-se.
Betim - 20 11 2004
sexta-feira, 28 de outubro de 2016
FLUORESCÊNCIAS
FLUORESCÊNCIAS
P'ra todos os efeitos, nossos dias
São feitos de confusas descobertas.
Escrever torto por linhas incertas
Tem sido uma infindável alegria.
Juntar os meus versos em poesia,
Mantendo o coração e a mente alertas,
Eleva aos deuses ávidas ofertas
Incensadas de plena fantasia.
Brilhar no escuro é para muito poucos...
Mas sorrir na tristeza é para os loucos
Que como eu atravessam madrugadas.
Sejam as nossas rimas florescências
Onde a mínima luz faz de existências
Aventuras insãs do nada ao nada.
Betim - 28 10 2016
ALEGRO
ALEGRO
Amanhece e já canta o passarinho
A sua melodia docemente.
Paro para ouvi-lo, displicente,
Enquanto repetia o meu caminho.
Música ou não, aquele barulhinho
Era algo assim tão terno e tão dolente
Que soía fazer cócegas na mente
Tal a alegria em seu trinar sozinho.
Dou-me conta ao escutá-lo que feliz
É quem percebe a música de tudo,
Entendendo o que cada coisa diz.
Pouco importa se a ouvir aves me iludo,
Todo imerso d'encantos infantis,
Eu atravesso a rua e a vida mudo...
Betim - 28 10 2016
quinta-feira, 27 de outubro de 2016
ROLA-MOÇA
ROLA-MOÇA
panorama
Mas de que maravilha estão falando?
Não por acaso nunca vimos ter
Com verdades passadas, a saber:
A questão já nem mais é quanto, é quando!
Pássaros que revoam longe em bando,
Enquanto olhos insistem só em ver...
Qual claridade buscas conhecer
Na névoa muito além se dissipando?
Pensa n’isso como se um desabafo
Ainda que tardio, qual tatuado
Em poesia que à flor da pele grafo.
É bem verdade que essa vista acalma.
Mesmo porque os abismos têm ecoado
A história antepassando por minh’alma.
* * *
toponímia
Os prosaicos versos andradinos
D’aquela afamada vinda a Minas
Passam ora por minhas retinas
À luz de nossos tão tristes destinos.
Com efeito, tal-qual dois peregrinos
Subimos e descemos as colinas
Até que em meio às névoas matutinas
Nos surpreendera o sol nos picos finos.
A moça a rolar pela pirambeira
E o noivo que a seguiu na galopeira
Somos nós dois agora-aqui sozinhos.
Na fé de que também um grande amor
De vida, morte, encanto, sonho e dor
Encontra-e-desencontra-nos caminhos...
Brumadinho – 06 02 2006
CHEGAR O AMOR
CHEGAR O AMOR
A ti, possa chegar o amor o quanto antes.
Que chegue cedo -- antes cedo do que tarde! --
Não permitas que d’ele eu me acovarde
E que tudo não dure mais que instantes.
Quando chegar o amor, já sendo amantes
Saibamos reavivar a chama que arde
E reconsiderar sem muito alarde
Aquilo que nos tem posto distantes.
Cedo ou tarde, chega à hora que bem quer...
Quer sim; quer não, o amor é um mistério:
Tudo e todos submete ao seu império!
Sejamos, pois, só homem e mulher
N’esse encontro humano ora tão lindo.
E o amor, quando chegar, será bem-vindo.
Belo Horizonte - 15 09 1994
terça-feira, 25 de outubro de 2016
O PECADOR
O PECADOR
Têm meus olhos a exacta e vã medida
Da extensão da maldade que há no mundo.
Executei-e-sofri o mal, fecundo
Foi seu lavrar por toda a minha vida
Anos de mocidade à inadvertida
Experimentação do que é imundo!
Busquei sempre prazer, poço sem fundo,
Atrás d'uma beleza corrompida...
A esconder-me do bem, relativizo.
Até que se me impôs, sem prévio aviso,
A minha volta triste e maltrapilho.
Mas espero, por fim, não por meu mérito,
Sim pelo amor d'Aquele cujo inquérito,
Far-me-á, embora pródigo, seu filho.
Betim - 02 11 2008
segunda-feira, 24 de outubro de 2016
AGRADOS
AGRADOS
Deixa-me te agradar; te agradecer.
Apenas um carinho, um mimo, um verso...
Ir me aventurar por teu universo
Sem levar uma bússola sequer...
Cada recanto teu vou conhecer
Por recolher teu mel longe disperso
E quando eu estiver em ti imerso
Eu sinta tua essência me envolver.
Deixa-me te fazer só um agrado;
Eu te dar um pouquinho do que sou
E sentir teu calor cá do meu lado.
O melhor do que tenho é que te dou:
Amor que só existe p'ra ser dado!
Amor que só tem quem já muito amou!
Betim - 24 10 2016